Laranja de polpa vermelha, rica em licopeno e com maior conteúdo de betacaroteno e tangerina sem sementes são novos lançamentos do IAC
Se o pedido é um suco, o sabor quase sempre é laranja. Rica em vitamina C, é figura carimbada em qualquer dieta balanceada. A novidade agora são as variedades de laranja que possuem a polpa com coloração vermelha. Isto ocorre devido à presença do carotenoide chamado licopeno, o mesmo presente nos tomates, um dos mais potentes agentes antioxidantes naturais. São essas as características da variedade de laranja Sanguínea de Mambuca, do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas.
Apesar do nome, a Sanguínea de Mambuca não faz parte da família das laranjas sanguíneas. Ela compõe o grupo das laranjas de polpa vermelha. Enquanto as laranjas sanguíneas apresentam polpa e suco com coloração parecida com a da beterraba, devido à presença da antocianina, as laranjas de polpa vermelha apresentam coloração intensa devido à presença do licopeno e de maiores teores de betacaroteno. “A variedade apresenta de 275% a 675% mais licopeno que a laranja Pera, que tem 0,1 mg deste carotenoide por litro de suco”, afirma o pesquisador do IAC, Rodrigo Rocha Latado.
Segundo Latado, quanto mais intensa a coloração do suco, maior valor é agregado à fruta e ao suco. “O custo de produção é o mesmo, assim como a receita, mas o consumidor prefere o suco de cor intensa. É possível agregar valor à produção das laranjas e de suco produzido no Brasil com o uso de laranjas de polpa vermelha”, diz o pesquisador da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
O produtor que optar pelo cultivo da laranja Sanguínea de Mambuca não terá qualquer ônus adicional nas lavouras. A variedade é precoce e tão produtiva quanto às laranjas chamadas claras, como a Pera. As técnicas de manejo usadas são as mesmas.
Além disso, o fruto também é doce, apresenta boa qualidade para o mercado consumidor e pode ser cultivado em qualquer região do Estado de São Paulo. “Se plantadas em regiões mais quentes, como no norte do Estado, os frutos apresentarão coloração mais forte, porém, essas regiões apresentam problemas, como a estiagem mais prolongada e, atualmente, maior ocorrência de doenças que podem prejudicar a produtividade”, explica o pesquisador.
Os frutos dessa variedade ainda não estão sendo comercializados nos mercados, mas já existem pomares jovens de laranja Sanguínea de Mambuca. As árvores, plantadas há um ou dois anos, ainda não deram frutos, pois o ciclo produtivo inicia-se em três anos. “Por enquanto, temos experimentos somente em São Paulo, mas, se houver interesse do público, é possível levar a variedade para outros Estados”, afirma Latado.
Prevenção contra câncer
Estudos feitos anteriormente, em outros países, já identificaram que o licopeno, abundante na Sanguínea de Mambuca, pode ajudar na prevenção do câncer devido à capacidade do carotenoide de proteger moléculas, incluindo o DNA, da ação de radicais livres.
O Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de citros do IAC conta com mais duas variedades de laranja de polpa vermelha, ricas em licopeno e em betacaroteno: A Valência “Puka” e a Baía “Cara-cara”. Iniciativas como o melhoramento genético dessas variedades promovido pelo IAC, que acaba de completar 125 anos de pesquisas agrícolas ininterruptas, podem abrir novas portas para o setor citrícola. Atualmente, o Brasil é o maior exportador de laranjas do mundo, representando mais de 80% das frutas comercializadas. O Estado de São Paulo é o campeão de produção do país, sendo responsável por 80% da produção nacional, seguido da Bahia, com 4%, e de Minas Gerias, com 3%.
Tangerina sem sementes
Desde 2007, o Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, tem disponibilizado aos produtores rurais três variedades de tangerinas sem sementes selecionadas. São elas: Clementina Nules IAC 1742, Nova IAC 1583 e Ortanique IAC 554. O IAC também disponibiliza pacote tecnológico para o cultivo das variedades. A pesquisa é pioneira no Estado de São Paulo.
Os materiais se destacam pela coloração, sabor, ausência de sementes e grande apelo comercial, se comparada às tradicionais variedades comercializadas, como a Ponkan e Murcott. Além de atender às exigências dos consumidores internos, as variedades sem sementes abrem importante opção de exportação para os produtores, já que no mercado europeu, os consumidores só adquirem frutas sem sementes. Esse nicho sempre esteve no foco das pesquisas Instituto, iniciadas em 2003, sob coordenação da pesquisadora do IAC, Rose Mary Pio.
O Brasil é líder mundial em produção de laranja e exportação de suco concentrado, mas, quando o negócio é fruta fresca, o País não tem grande expressão. Dentre os motivos para a pequena fatia nesse mercado está a produção de frutas com grande número de sementes e qualidade nem sempre muito adequada.
O produtor que adotar os materiais deve ficar atento. O cultivo das variedades sem sementes exigem o isolamento de outras variedades cítricas, para evitar polinização cruzada.