Lançada pela Embrapa, a MOC25C pode ser utilizada tanto para carne in natura como para produção industrial
O Brasil vem investindo na evolução genética de suínos ao longo de mais de 20 anos, melhorando consideravelmente a qualidade da carne, com a redução de 31% da gordura, 10% do colesterol e 14% de calorias, tornando-a uma das mais magras e nutritivas do mercado mundial, além de mais saborosa. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o país é responsável, atualmente, por 10% do volume exportado de carne suína no mundo, chegando a lucrar mais de US$ 1 bilhão por ano.
Para contribuir com esse cenário, a Embrapa lançou este ano a linha fêmea suína Embrapa MO25C, desenvolvida a partir do cruzamento entre as raças/linhas Landrace, Large White e Moura, visando à alta produtividade da matriz e melhoria do desempenho zootécnico dos suínos de abate com o adicional da melhoria na qualidade da carne.
Características
As matrizes da linha fêmea Embrapa MO25C são dóceis, longevas e rústicas com boa sustentação estrutural e ótimo aparelho mamário. Nas avaliações realizadas, quando cruzada com reprodutores de alto rendimento de carne magra, proporcionou ganhos significativos em maciez e marmoreio da carne dos suínos de abate.
“A produção de material genético suíno no Brasil está concentrada em grandes empresas do setor, dificultando o acesso de pequenos produtores à genética de qualidade a preços acessíveis. Por isso, a Embrapa decidiu implementar esse projeto de lançar uma linha fêmea que pudesse ser utilizada com a sua linha macho, a MS115, para produzir carne de qualidade”, diz o pesquisador Elsio Figueiredo, que liderou o desenvolvimento da matriz fêmea suína na Embrapa Suínos e Aves em Concórdia-SC.
Versatilidade
A MO25C foi concebida para ser versátil, com boa produção de leitões, mas que transmita também melhor qualidade de carne aos suínos de abate, sendo própria para uso no sistema industrial e também no sistema de carnes especiais, que abastecem supermercados, churrascarias, restaurantes, mercado externo e produtos curados (presunto, copa, salame), que exigem cada vez mais qualidade de carne in natura.
Além disso, oferece a possibilidade de ser utilizada na produção de base ecológica.
Diferenças no sabor e na textura
A principal característica da carne dos cevados produzidos por matrizes MO25C está na suculência (marmoreio), percebida principalmente na fabricação de produtos curados, que não ficam tão secos. A carne também tem diferenças no sabor, maciez e na cor, um pouco mais vermelha que a carne industrial.
“Essa opção de trazer a qualidade da carne pelo lado da fêmea é pouco explorada no Brasil. Geralmente, todas as linhas fêmeas são especializadas na produtividade de leitões. Esse foi um espaço que a Embrapa percebeu que poderia trazer benefícios para a produção de carne de qualidade, especialmente para produtores independentes e de pequenas integrações”, diz o pesquisador da Embrapa.
Redação, com informações de Lucas Scherer Cardoso, Embrapa Suínos e Aves
“Suíno Light”: novos mercados e produtores
Do porco “banha” ao suíno light — esta é a trajetória que a pesquisa da Embrapa ajudou a construir na cadeia suinícola do Brasil em busca de maior rentabilidade aos produtores. Desde o lançamento do primeiro suíno light, o MS58, há 18 anos, até a recente apresentação da fêmea suína Embrapa MO25C, a aposta é em uma carne diferenciada, com baixo teor de gordura, e com valor agregado para que produtores possam atuar de maneira competitiva no mercado. São quatro produtos comerciais na área de genética e várias recomendações em nutrição animal para melhorar o rendimento e a qualidade de carne, como a adição de óleos na ração para obtenção de uma carne enriquecida com ômega 3.
A partir da entrada no mercado, o reprodutor desenvolvido pela Embrapa permitiu o acesso ao melhoramento genético, principalmente para produtores independentes, que não fazem parte da integração das grandes agroindústrias. Essa fatia de mercado, de acordo com o pesquisador Elsio Figueiredo, que conduz o trabalho de melhoramento genético, é reflexo da vantagem que o animal representa. “Ele está no nível dos melhores reprodutores híbridos comerciais vendidos no Brasil e é ofertado com um preço acessível a todos os tipos de produtores”, comenta.
Produtores satisfeitos
Produtores de todos os estados e regiões do Brasil estão satisfeitos com o suíno light da Embrapa, especialmente porque os animais de abate gerados a partir dos reprodutores MS115 consomem menos ração para atingir o peso, têm potencial genético para carne na carcaça acima de 62%, reduzida espessura de toucinho e excelente concentração de carne no lombo, pernil e paleta.
O produtor Mauro Morais, de Guanambi, região centro-sul da Bahia, conheceu o suíno light da Embrapa através da indicação de amigos, há oito anos, e garante que o resultado é muito bom. “A carne do MS é muito boa e muito bem aceita pela população aqui da região de Vitória da Conquista”, comenta.
Outro produtor que trabalha com a linhagem da Embrapa, desde o lançamento do MS115 em 2008, é José Rossetto, da Suinocultura Rossetto, de Cerqueira César, região sudoeste de São Paulo. “Considero as principais características do suíno da Embrapa, e que o diferenciam da concorrência, a rusticidade, a boa conformação de carcaça e o ganho de peso”. Para os consumidores, destaca a carne com pouca gordura, e por causa disso, a boa aceitação no mercado.
Edinilson Bazzi, da TopGen, de Jaguariaíva, no centro oriental do Paraná, está no mercado com o MS115 há alguns anos, trabalhando com pequenos produtores da região centro-sul, que avaliam muito bem o desempenho e a carne do suíno da Embrapa. “O MS115 é um animal que tem bom desempenho e boa conversão alimentar, o que faz muita diferença no ganho de peso e melhora a carcaça”, diz. Sobre a carne, também é só elogios. “A qualidade da carne é ótima, é uma carne magra, justamente o que o mercado exige atualmente”.
Monalisa Pereira e Lucas Scherer, Embrapa Suínos e Aves
Família light
18 anos de evolução genética da Embrapa
MS58
Ano: 1996
Cruzamentos: duroc, hampshire e pietrain
Característica: rendimento de carne na carcaça de, no mínimo, 58%
MS60
Ano: 2000
Cruzamentos: duroc, large white e pietrain
Característica: livre do gene halotano, responsável pelo stress dos suínos terminados
MS115
Ano: 2008
Cruzamentos: duroc, large white e pietrain
Característica: potencial para carne na carcaça acima de 62%, reduzida espessura de toucinho e ótima conformação
MO25C
Ano: 2014
Cruzamentos: landrace, large white e moura
Característica: suculência (marmoreio), percebida principalmente na fabricação de produtos curados