O conceito de adubação agrícola é conhecido até por quem não trabalha na área, mas o que muitos desconhecem é o papel dos minerais na vitalidade das culturas. Isso não é problema para o geólogo José Carlos Alves Ferreira, fundador e presidente da Rockall Fertilizantes Naturais. Na verdade, sua filosofia vai além da simples adubação, ao buscar, com seus produtos, recuperar a estrutura e a própria saúde do solo.
Ferreira desenvolveu seus trabalhos com solo em Ribeirão Preto (SP) a partir da década de 50, focado nos estudos ecológicos de sir Albert Howard. Considerado um precursor das técnicas orgânicas, o botânico inglês publicou o livro “Um testamento agrícola”, que se tornou referência mundial para os produtores orgânicos. Em entrevista à revista A Lavoura, José Ferreira revela um pouco de sua visão para a recuperação dos solos brasileiros.
Qual a diferença principal entre fertilizantes comuns e o da Rockall?
É o compromisso com a regeneração de solos a partir de seu lastro mineral, na realidade, a base de sustentação da vida. A composição dos produtos da empresa é 100% natural, elaborada com minerais nutritivos e rochas silicatadas, tais como farinha de granito potássico e cinzas vulcânicas.
Diferentemente dos fertilizantes comuns, isso alimenta o solo, restaurando a fertilidade, vitalidade, enriquecendo a reserva mineral do solo.
Quais são as origens da empresa?
Estamos no centro geodésico da América do Sul, a Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso. Temos cinco anos de mercado, mas a empresa é o resultado de mais de 40 anos de investimentos, trabalho e dedicação.
Como foi o desenvolvimento dos produtos? No que se baseiam?
Como geólogo formado pela Universidade da Califórnia, trabalhei no Brasil e na América do Norte, adquirindo vivência com produtos similares. Então, o objetivo é a produção de fertilizantes que se comportem como “alimento” de alta qualidade para tudo o que é vivo no solo. Habitando neste, há uma comunidade enorme de delicados seres vivos (microscópicos em sua maioria) chamada biota, que se beneficia da complexidade mineral dos componentes rochosos do produto.
Como os minerais de rocha podem suprir as necessidades das culturas?
As demandas nutricionais das safras pedem mecanismos rápidos de restauração mineral. Além disso, o intemperismo causa uma desmineralização natural, e o uso da adubação química não restitui completamente ao solo tudo o que a planta retira. No produto, a rocha é moída mecanicamente, e sua fina granulometria age de modo rápido e eficiente, suprindo em poucos minutos a deposição que a natureza faria, mas que demoraria milênios. Pela vegetalização do minério, esta riqueza termina na boca de animais e no prato do consumidor.
Troca de paradigmas na fertilização dos solos
Quais são os efeitos da desmineralização? Por que o senhor considera os fertilizantes convencionais limitados?
Porque adubos incompletos produzem plantas incompletas. Os fertilizantes geralmente se baseiam apenas no “NPK” (nitrogênio, fósforo e potássio) e alguns poucos micronutrientes – enquanto a planta tira do solo um sem-número de nutrientes. O mecanismo de ação do produto é fixar o carbono por meio biológico, aumentando seu teor no solo e liberando cálcio, magnésio e minérios silicatados. Estes últimos são usados para corrigir acidez e fertilização, mas o processo do Rockall libera silício no solo, para a alegria da agricultura, pois este elemento é de grande importância na alimentação das plantas.
Já o processo de exaustão dos solos causa o surgimento de algumas pragas, como, por exemplo, a ferrugem asiática na soja em Mato Grosso. Acho que a produtividade chegou a um ponto crítico, não se tem mais uma produção economicamente viável. Só que isso pode acontecer com todas as culturas, inclusive com a saúde humana.
Qual o papel dos estudos de sir Albert Howard no desenvolvimento da Rockall?
Visitando a Índia, ele observou práticas agrícolas milenares que mantiveram aqueles solos em condições perfeitas de produtividade, utilizando compostagem com o enriquecimento de farinhas de rocha no composto. Essa forma de fertilizante organomineral natural ainda hoje é utilizada como “método Indore de compostagem”.
Estamos tentando trazer práticas como essa para o Brasil, que tem condições primitivas de agricultura orgânica, pois podemos fazer bem mais do que estamos fazendo.
O Brasil ainda é um grande importador de fertilizantes. A empresa vê isso como uma oportunidade de expansão no mercado interno para a Rockall?
Acredito em algo mais amplo: que a situação da matriz tecnológica da agricultura repousar apenas sobre os agroquímicos é que deva ser mudada. A sociedade precisa ser esclarecida sobre como adquirir mais saúde, e até a produção orgânica no Brasil necessita de ferramentas como o produto. Se o Brasil deseja ser o “celeiro do mundo”, será pelo fortalecimento de modelo de produção agrícola não carbônico, com grande capacidade de retenção de carbono da atmosfera. O Brasil, com enorme e diversificada riqueza mineral, tem rochas e minerais silicatados de qualidade extraordinária para uso agrícola espalhados por todo território nacional.
Riqueza brasileira em minerais
Como adquirem (ou desenvolvem) a matéria-prima para os fertilizantes da Rockall?
O potencial de Mato Grosso é enorme, com seu granito potássico, que tem 5% de potássio, conferindo grande poder nutricional e regenerativo. Esta característica proporciona uma grande biodisponibilidade do produto, maior do que a dos fertilizantes químicos e sem alterar pressão osmótica e salinidade do solo. Usamos outras rochas do Brasil, especificamente da Paraíba e cinza vulcânica.
Mas, apesar da riqueza mineral do país, sou obrigado, pela demanda, a usar um produto de Israel, o fosfato de Neget. Da Bélgica e do Canadá uso o sulfato natural de potássio; ou seja, colocamos praticamente todos os elementos da tabela periódica nos nossos produtos.
Qual o cuidado que o produtor deve ter para evitar/diminuir perdas na estocagem do produto?
A princípio, não existem perdas quando a embalagem está fechada. Quando aberta e bem acondicionada, tendo um pouco de cuidado com o fechamento, também não, pois o produto é pouco higroscópico (absorve pouca água da atmosfera). Mesmo se houver contato com o solo, não há agressão à microbiota.
Qual é produção atual da empresa? Como está a distribuição no país?
Chegamos praticamente ao Brasil todo, embora com pouca produção. Estamos com cerca de 30 toneladas por mês, mas há capacidade de multiplicá-la por 10, de acordo com a demanda. Há também a possibilidade de terceirizar a produção.
Quais produtos a empresa tem atualmente em seu portifólio e quais são suas indicações?
Temos o Rockall Nitrogenado, para cobertura nitrogenada, com 6% de N proteico. Ele está associado a outros minerais, promovendo a eficiência agronômica, porém “blindado” pela sua composição mineral para a retenção de radicais livres. O Rockall Super-Kama Manure é um corretivo mineral de solos, com base mineral silicatada e associada a esterco de aves, potencializando sua eficiência agronômica.
Possui gipsita natural, componentes minerais e outros nutrientes para o aproveitamento do N do esterco das aves. Já o Rockall Condicionador de solos associa os dois produtos anteriores na proporção 1:4 para adubação de fundação e de cobertura.
Quais são os novos projetos e as perspectivas da empresa?
O objetivo é multiplicar a produção por dez, mas, obviamente, isso depende do mercado. Vejo meu trabalho como nacionalista: podemos produzir dentro do Brasil todo o fertilizante e corretivo que precisamos. A utilização das riquezas minerais regionais, com o reconhecimento e valorização dos trabalhos que já existem, promoverá uma melhor produção na agricultura, com real sustentabilidade – em suma, mais saúde para o povo brasileiro.