O segmento de produtores de milhos especiais que até há pouco vivia à margem dos produtores de milho em grão vem ganhando espaço e provocando reações positivas no mercado.
Nas formas de milho verde, seja cozido, assado ou pamonha, o mercado já sinaliza oportunidades para quem aposta no tamanho em miniatura do milho. “A versatilidade que o minimilho permite, seja no seu uso em saladas, em sopas, misturado no arroz ou em massas, em cozidos de legumes ou de carnes e grelhados em azeite como guarnição, tem provocado a abertura de um novo nicho de mercado, que já começa a ser explorado por restaurantes finos, por exemplo”, explica Valéria Aparecida Vieira Queiroz, pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo.
Composto quase que em sua totalidade por água, o minimilho tem o diferencial de possuir menor valor calórico se comparado ao milho comum. É considerado uma hortaliça pelos cuidados que exige. Depois de colhido, deve ser imediatamente acondicionado em temperaturas que permitem sua conservação, entre 5º e 10º C. De importador – a maioria do minimilho consumido no Brasil vinha da Tailândia –, o produto vem ganhando adeptos entre os produtores rurais, principalmente os que utilizam mão-de-obra familiar; hoje o país já é autossuficiente em produção. E a receita é certa: os maiores consumidores são das classes A e B.
Para produzir minimilho, adianta o pesquisador Israel Alexandre Pereira Filho, também da Embrapa Milho e Sorgo, é necessário um cuidado especial na colheita.“O produtor deve visitar a lavoura todos os dias, pois o ponto de colheita é determinado pela emissão dos cabelos na espigueta. Dois dias depois de aparecerem, está na hora de colher”, diz Israel. No verão, o minimilho é colhido em até 45 dias, dependendo da precocidade da cultivar escolhida. No inverno, a colheita demora um pouco mais, chegando a até 75 dias. Acertar o dia da colheita é determinante, segundo ele. “O minimilho é a própria espigueta do milho de 4 a 12 cm antes da polinização. Se for polinizado, perde-se o valor comercial”, completa.
O pesquisador adianta que trabalhos de melhoramento desenvolvidos por pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo estão em busca de uma cultivar específica de minimilho, de olho nas exigências de mercados consumidores. “Qualquer cultivar que suporte alta densidade de plantio pode ser usada para a produção de minimilho. No entanto, os países da União Europeia, principais importadores, têm preferência por cultivares de milho doce, que são mais saborosos e tenros”. Segundo Israel, uma das cultivares com a tecnologia Embrapa que mais tem atendido às exigências do mercado é a variedade BR 106, uma das mais plantadas no país.
Mercado promissor
Em Minas Gerais, de acordo com o pesquisador Israel Filho, o produtor recebe até R$ 3,50 por quilo de minimilho minimamente processado. Se já processado em conserva, o valor sobe para R$ 6,50. Outro atrativo de uma lavoura de minimilho é a economia de insumos. “O custo de produção é menor se compararmos ao cultivo de milho em grão, já que a ocorrência de pragas e doenças é atenuada pela exigência de uma colheita mais precoce”, afirma.
Para Mário do Amaral Filho, produtor de milho na região de Ribeirão Preto-SP e que vem estudando o plantio de uma lavoura de minimilho para exportação, o empresário deve estar atento às exigências dos países importadores. “O contrato é muito minucioso e as exigências em relação à sanidade, à qualidade e ao armazenamento fará com que os produtores busquem um nível de excelência bastante elevado. Devemos nos adequar para que possamos apresentar competitividade”, resume.
Guilherme Viana – Embrapa Milho e Sorgo
Como preparar embalagens e conservas
No caso do minimilho minimamente processado, as espiguetas devem ser lavadas em água corrente, despalhadas, selecionadas e sanitizadas em água clorada a 100 ppm de cloro livre e, em seguida, embaladas em bandejinhas de isopor e cobertas com filme de PVC. Para preparar as conservas de minimilho, após o processo de sanitização das espiguetas em água clorada, deve-se efetuar o branqueamento mergulhando-as em água fervente por cerca de dois minutos e depois em água gelada. Em seguida, é preciso acomodar as espiguetas em frascos de vidro devidamente higienizados em água fervente por 15 minutos e proceder ao envase com salmoura ácida (para preparar 1 litro de salmoura, utilize 500 ml de água potável, 500 ml de vidro de álcool branco, 1 colher de sopa cheia de sal e 1 de açúcar). Após o envase, deve-se retirar as bolhas de ar de dentro do frasco com o auxílio de uma faca sem ponta, tampá-los com tampas rosqueáveis novas de metal e realizar a pasteurização, colocando os vidros de minimilho em banho-maria em embulição por 30 minutos (a água da panela deverá cobrir completamente os frascos). Após a pasteurização, deixar escorrer água da torneira nas bordas da panela até que os frascos fiquem mornos. A conserva está pronta! Para que as espiguetas adquiram o sabor adequado, é recomendável deixar o produto curtindo na salmoura por pelo menos uma semana antes de consumir.