Em entrevista à revista A Lavoura, Miguel Carvalho Marques, um dos sócios do Mercado Apanã, empreendimento de sucesso instalado em Perdizes, São Paulo, falou sobre a empresa e o cenário dos orgânicos no Brasil. Português, filho de diplomata, Miguel é o único dos três sócios – o francês Thomas Brieu e o brasileiro Daniel Pascalicchio – com experiência anterior em trabalhar com supermercado.
“Um projeto multicanal, multimídia e multiproduto” é assim que Miguel define o Mercado Apanã, que tem como premissa abordar o cliente – não importa a maneira – e se associar a movimentos cívicos, concretos, junto à sociedade. O galpão de 650 metros quadrados feito de fibra de coco, resina de mamona e bambu tratado, abriga o mercado, o restaurante e a Casa Apanã, que atua na coordenação de eventos junto à população, buscando a sensibilização do público. Segundo ele, a intenção ao construir um espaço diversificado, ligado ao circuito verde – Perdizes, Pompeia, Lapa – é fazer o consumidor encontrar no local tudo para viver bem. “Quem vem ao Mercado Apanã vive uma experiência, procura quem conhece os alimentos, especialistas que podem ajudá-los. Nós sabemos a respeito de alimentos, principalmente de alimentos saudáveis”, afirma.
Para o Mercado Apanã, os recursos humanos são fundamentais. O português ressalta o papel primordial da equipe, composta por jovens e veteranos em prol de uma pedagogia concreta, para a realização dos projetos da empresa. Além disso, ele traça o perfil de seus funcionários e parceiros: “pessoas que se encaixam no trabalho de comércio justo, que têm o mesmo apego pelo alimento e qualidade de vida, trocam a correria do dia a dia por uma lógica mais saudável”.
Formação da empresa
A respeito da formação da empresa, Miguel afirma ter sido um ano de estudo de mercado até abrir o caixa e que os investimentos feitos foram somente com capital próprio. De acordo com ele, tudo foi baseado em uma análise do consumidor brasileiro, em um estudo de campo e na consideração de fontes primárias e secundárias, o que resultou na elaboração de um plano metas/ações preciso para evitar derrapagens. “O Mercado está começando a se autossustentar, até chegar a hora em que vai voar sozinho”, diz. Ele ainda afirma: “o potencial de crescimento nos fez trazer a ideia para o Brasil; os EUA e a Europa já estão carregados desses produtos. Lá está em processo de congelamento, aqui, em desenvolvimento. O “boom” de mercado aconteceu nos EUA há 20 anos e na Europa há 15”.
Estima-se que 10% da população da cidade de São Paulo gasta, em média, 40 reais por semana em produtos orgânicos, consumo que está se democratizando. Os supermercados Pão de Açúcar e Carrefour, por exemplo, já possuem uma marca própria para esses produtos. Tendo em vista fatos como esses, associados à preocupação crescente das pessoas com a saúde, em comer melhor, e ao aumento da oferta e do poder de compra, Miguel considera o mercado em expansão.
Produtos mais vendidos
Sobre os produtos mais vendidos pelo Mercado Apanã, ele destaca os hortifrutigranjeiros, pães e comidas prontas. Miguel fala que peixes e carnes orgânicas são difíceis de serem encontrados, pois não chamam a atenção dos produtores: “a proteína orgânica é o nosso calcanhar de Aquiles”, declara. Acerca do preço do produto para o consumidor final, analisa que intermediários tornam o produto mais caro, e que há empresas que tratam os orgânicos como produtos “Premium”. Para combater o problema seria necessário o aumento de produtores e reorganização do sistema de produtos orgânicos. Ele ainda critica a dificuldade de importar dos países fornecedores – Chile, Argentina, Bolívia – devido à burocracia.
Miguel confessa a intenção de desenvolver produtores, hoje localizados em Cunha e Ibiúna, na Serra da Mantiqueira e de outras regiões fora de São Paulo. Segundo ele, o frete constitui um problema: “é mais caro que a matéria-prima. O preço é exagerado, só será resolvido com o aumento do consumo”. Como alternativas para melhorar a economia de escala para os transportes, ele enxerga as compras em grupo: “o movimento cooperativo é muito forte no orgânico”. Miguel acredita que a distribuição inteligente favorece a divulgação, que potencializa o consumo. “Apoio ao produtor, comércio justo com o consumidor e distribuição adequada, esse é o triângulo virtuoso para fazer crescer o negócio”.
Projetos e realizações
O “Disk Orgânicos”, plano sofisticado de televendas, compõe uma das soluções logísticas encontradas pelo Mercado Apanã para atingir São Paulo e, posteriormente, todo o Brasil. Os profissionais do setor trabalham em articulação com o e-commerce, lançado em novembro passado. Por enquanto, a frota responsável pelo serviço delivery é própria, mas Miguel não nega optar pela terceirização, caso este serviço encareça. Outro projeto lançado há pouco é a marca “Chef Apanã”, um compromisso com o consumidor, forma de assumir a qualidade dos produtos comercializados. Alguns itens da marca são pães artesanais – com três linhas – e patês orgânicos e biológicos.
Consolidar todos os canais, delivery, e-commerce e melhorar os mercados são algumas das metas da empresa, que deve abrir duas novas lojas em São Paulo nos próximos seis meses. Miguel garante que o Mercado Apanã está estudando as melhores alternativas para atingir o mercado, estabelecendo parcerias, franquias etc. “Estamos abertos às oportunidades, queremos ver o melhor caminho que podemos trilhar”, conclui.