Isabel e Romeu da Silva coelho têm três filhos, dois deles cursando medicina em universidades federais. O único filho homem — o do meio — passou em oitavo lugar em seu segundo vestibular, e a caçula foi a quinta colocada após um ano e meio de tentativas. Foi com a renda da lida na pecuária de leite que o casal deu suporte à educação dos filhos na escola pública de Desterro do Melo, microrregião de Barbacena, no Campo das Vertentes, a 154 km da capital mineira.
Há dois anos, eles ingressaram no Programa Balde Cheio, concentrando as atividades de pecuária de leite no Sítio Mateus, de apenas três hectares. Na época, o rebanho de 26 vacas produzia de 60 a 70 litros de leite por dia (4,5l a 5,0l por vaca/dia). Em novembro de 2012, com 19 cabeças, produz de 145 a 150 litros ao dia (9,5l a 10l/vaca/dia).
A jornada do casal continua a mesma: das 5 da manhã às 9 da noite, após a segunda ordenha diária. Mas a renda, que antes “mal dava para pagar as contas”, já é quatro vezes maior, cerca de R$ 2 mil líquidos mensais. O fusquinha de 14 anos, considerado “um membro da família”, agora divide a garagem com um microtrator, a mais nova aquisição. É a família progredindo. “Para quem quiser trabalhar, esse sistema do balde cheio é uma ótima opção. dá para viver com muito mais dignidade”, revela o produtor de 51 anos, que sempre trabalhou na roça.
Melhores matrizes
No rebanho reduzido, ficaram apenas as melhores matrizes; as vacas mais velhas e menos produtivas foram descartadas. Mas a meta é chegar a 15 matrizes que produzam 20 litros (cada) ao dia, das quais 80% devem estar em fase de lactação, conforme recomendação dos técnicos. “assim, teremos menos trabalho e mais renda”, projeta o produtor.
Como conseguir isso? Com um bom manejo, responde Romeu Coelho. Manejo que inclui o pastejo rotacionado, à base de capim mombaça. Em apenas um único hectare, ele mantém 28 piquetes de 354 metros quadrados, além dos “corredores” entre os piquetes e a área de descanso para as vacas. O importante — ele já aprendeu — é que o rebanho permaneça por apenas um dia em cada piquete.
“E as vacas parecem saber para qual devem ir. Quando chega ao final, já no alto do morro — ‘aqui é tudo morro’—, elas não passam para o mais próximo. Sabem que precisam descer para o primeiro”, conta o agricultor. Na seca, quando o pasto não é suficiente, a cana, cultivada em meio hectare, é misturada à ureia e servida à noite, na porção de 30kg a 35kg por cabeça. Mas o produtor já sabe que precisará plantar mais meio hectare de cana para garantir, com mais folga, essa alimentação complementar ao rebanho. “Ainda não consigo cumprir todas as recomendações, mas vou chegar lá”, diz, determinado.
Inseminação no lugar do touro
Outra providência tomada desde o início foi substituir o touro pela inseminação artificial. O problema é que seu Romeu não vem dando sorte. Das 18 primeiras matrizes inseminadas com sêmen de touro holandês PO, 15 emprenharam e delas só nasceu uma fêmea. “Para quem tira leite, bezerro é prejuízo”, diz, explicando que a recomendação do programa é para que os bezerros sejam descartados logo após o nascimento. Mas o casal não tem coragem e, “mesmo sabendo que vai ter prejuízo”, os criam até os quatro meses de idade, antes de vendê-los para quem faz a recria.
Mas “seu” Romeu tem fé: acredita que, hora dessas, sua sorte vai mudar. É por meio da inseminação que ele conseguirá melhorar o rebanho gastando pouco. Pelos seus cálculos, uma vaca holandesa de 20 litros está custando cerca de R$ 3 mil, enquanto a dose de sêmen sai de graça, é doada pela prefeitura.
Outra etapa que Romeu da Silva Coelho vigia é a qualidade do leite, que tem lhe rendido uns centavos a mais por litro de leite entregue ao laticínio.
Em novembro, ele recebeu 0,88 por litro, contra a média de R$ 0,83 pagos aos demais produtores. Para ele, não há mistério: qualidade se obtém com higiene rigorosa durante a ordenha, mesmo manual. E o resfriamento rápido do leite, que é possível num tanque adquirido em parceria com mais três sócios, dos quais ele exige também o mesmo rigor.