Publicação mostra a importância desse composto químico no aumento da produtividade, na melhoria da qualidade dos solos, no sequestro carbono e na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas
A Embrapa Meio Ambiente lançou o livro “Entendendo a matéria orgânica do solo em ambientes tropical e subtropical”, primeiro no mundo que reúne informações sobre estudos realizados mais de cinco décadas nessas condições. São 788 páginas, divididas em 27 capítulos, disponível gratuitamente para a comunidade.
Os editores do livro, Wagner Bettiol e Cristiano Andrade da Embrapa Meio Ambiente, Ladislau Martin Neto da Embrapa Instrumentação, Carlos Silva da Universidade Federal de Lavras e Carlos Cerri da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP), reuniram os principais especialistas do Brasil para elaborar esta obra, que , segundo eles, na realidade é um tratado sobre matéria orgânica do solo nestes ambientes.
De acordo com Bettiol, o desafio de aumentar a quantidade de matéria orgânica nas camadas superficiais do solo em ambientes tropical e subtropical pode ser vencido em grande parte das áreas agrícolas, mas é preciso identificar práticas de manejo que permitam alocar mais carbono no sistema e reduzir as perdas.
O pesquisador lembra que desde a adoção do plantio direto, a partir da década de 1970, na Região Sul do Brasil, com a preservação do recurso solo pela redução da erosão e o uso de rotação de culturas, percebeu-se, de forma mais clara, a importância de se preservar ou aumentar a matéria orgânica do solo, o que é discutido amplamente na publicação.
Temas
Segundo Andrade, no livro também são encontrados exemplos de como novas tecnologias podem ser geradas a partir da base conceitual disponível no Brasil e em outros países. “Os autores discutem amplamente sobre a matéria orgânica do solo, demonstrando a sua importância no aumento da produtividade, na melhora da qualidade dos solos, no sequestro carbono e na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas”, diz.
Conforme Bettiol, é fundamental o avanço e correção de rumos na mitigação e adaptação às mudanças climáticas, escassez hídrica, distribuição irregular das chuvas e alteração do ciclo de pragas e doenças entre outras, no uso racional e eficiente dos recursos minerais, na viabilização de fontes alternativas de nutrientes.
“Também é importante trabalhar na redução da dependência internacional de insumos, como os fertilizantes e pesticidas, na prevenção da degradação dos solos, na redução de uso de pesticidas químicos pelo adequado manejo do ambiente produtivo e na ampliação do uso dos bioinsumos”, ressalta Bettiol. “Praticamente, todos esses aspectos têm relação com a matéria orgânica do solo, foco desse livro”, comenta.
Todas essas práticas de manejo e sistemas de produção para uma agricultura de baixa emissão de carbono estão representadas no livro, como os modernos sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que incorporam as premissas do plantio direto, que crescem no país para a produção integrada de grãos, carne, leite e madeira, viabilizando a recuperação de áreas extensas de pastagens degradadas.
Resíduos
Também são discutidos em capítulos os resíduos, gerados a partir da colheita dos alimentos e sua transferência para as agroindústrias ou para o meio urbano, que podem e devem ser retornados ao solo agrícola, como fonte de nutrientes e matéria orgânica.
“No Brasil, temos casos de sucesso na reciclagem de resíduos, como o do setor de açúcar e etanol, que são utilizados no próprio sistema de produção, além da geração de energia, o que está alinhado com conceitos de governança ambiental, social e corporativa (ESG – environmental, social and governance) e economia circular, embora essa evolução conceitual, normativa e tecnológica no setor ocorra desde a década de 1960”, diz Andrade.
A publicação atende a cinco objetivos de desenvolvimento sustentável, da ONU, especificamente o ODS 2 – Fome zero e agricultura sustentável, ODS 7 – Energia acessível e limpa, ODS 12 – Consumo e produção sustentável, ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima e o ODS 15 – Vida terrestre. O livro pode ser acessado aqui.