Novos fornos de carvão vegetal produzem com maior poder calorífico e têm os efeitos da fumaça minimizados
Um esforço conjunto entre a pesquisa e a extensão rural vem tentando, há mais de dez anos, melhorar as condições de produção e minimizar os efeitos da fumaça proveniente dos fornos de carvão vegetal na região dos vales dos rios Caí, Sinos, Taquari e Paranhana (RS).
Segundo o supervisor do escritório Regional da Emater de Lajeado, Fábio André da Encarnação, a produção de carvão vegetal nessa região do Rio Grande do Sul é uma atividade tradicional, trabalhada exclusivamente pela agricultura familiar. E, ao contrário dos demais estados produtores do Brasil, como Minas Gerais, por exemplo, que produz carvão vegetal para siderurgias, o carvão do Sul atende basicamente ao consumo doméstico e de restaurantes.
Madeira de reflorestamento
O supervisor estima que nesta região, intensamente urbanizada, possua cerca de 1.500 produtores e mais de 3.000 fornos de carvão, que utilizam apenas madeira de reflorestamento — eucalipto ou acácia negra — na produção. “A atividade é muito importante para manter as famílias e distribuir melhor a riqueza no campo”, alega Fábio André.
O engenheiro agrônomo ressalta que o trabalho tem como principais metas melhorar o manejo, a eficiência e a produtividade dos fornos. Além disso, pretende reduzir o impacto ambiental e produzir um carvão de melhor qualidade.
Todo o trabalho e as ações desenvolvidas estão sob a coordenação do Grupo Temático Carvão Vegetal do RS, do qual participam entidades como Universidade FEEVALE, Embrapa Clima Temperado, Emater/RS-ASCAR, Fetag/RS e prefeituras municipais, entre outros.
A empresa de extensão rural colaborou no desenvolvimento das tecnologias e está disponibilizando aos produtores duas formas — ou tipos de fornos — que possibilitam produzir carvão com menor impacto. O sistema de condensação da fumaça modelo Brochier possui três câmaras, que resfriam a fumaça produzida a partir da queima da madeira. Possui também três chaminés de PVC, material que resiste à ação do ácido pirolenhoso. Nestas chaminés, ocorre a condensação de parte da fumaça, minimizando de forma significativa o impacto próximo aos fornos e nas comunidades vizinhas.
“Rabo-Quente”
Já no forno tipo “Rabo-Quente”, também foi adicionada uma chaminé, para que a fumaça seja condensada. Este sistema produz menos ácido pirolenhoso em relação ao Brochier. “O que sai dos fornos é uma fumaça branca, leve, que são os gases não condensáveis e vapores d’água”, afirma o técnico agrícola da Emater/RS-Ascar de Salvador do Sul, Edsson Merib.
Os fornos da região têm capacidade para 6 a 10 metros cúbicos de madeira e o carvão resultante é de melhor qualidade, mais pesado e com melhor poder calorífico.
O ácido pirolenhoso tem diversas aplicações nas propriedades rurais, um deles é sua utilização em granjas de suínos para eliminar larvas de moscas do esterco, neutralizar o mau cheiro e melhorar o efeito fertilizante do esterco.
Ele também atua como indutor de resistência nas plantas, tornando-as menos suscetíveis ao ataque de pragas e doenças.
Repelente natural
O ácido pirolenhoso também é um repelente natural e possui níveis de controle de algumas pragas, melhora o efeito de produtos químicos aplicados, seja via foliar — adicionado à água de irrigação — ou misturado a estercos. Quando aplicado via sistema de irrigação por gotejamento, auxilia na prevenção do ataque de nematoides em olerícolas e promove o enraizamento das plantas. Outros usos na propriedade também são possíveis, como o tratamento de madeiras contra fungos.