Aparelho é usado para avaliar quantidade de água em flores
Como saber se uma planta está ou não necessitando de água? Há vários métodos para esta análise, mas um equipamento desenvolvido pela Embrapa Instrumentação, São Carlos (SP), chamado de Wiltmeter, tem apresentado vantagens em relação às ferramentas usadas tradicionalmente. Um estudo realizado pela estudante Poliana Cristina Spricigo mostrou que o aparelho é mais eficiente e sensível para mensurar o conteúdo de água e a qualidade de folhas de crisântemos no processo pós-colheita, comparado ao método que mensura a turgescência, ou seja, a firmeza, de folhagens pelo teor relativo de água.
A turgescência das folhas é fator primordial de qualidade e está relacionado ao conteúdo de água e prejudicado pela perda dela. Essa medida, assim como a pressão sanguínea nas pessoas, indica o grau de saúde das plantas e seu comportamento frente às variáveis de clima, solo, temperatura, umidade de ar e disponibilidade de água.
Pelo teor relativo de água há necessidade de infraestrutura adequada, necessidade de estufa e a avaliação pode durar até mais de um dia para apresentação de resultados, sendo ainda preciso a destruição da amostra.
Já o Wiltmeter permite obter estimativas da quantidade de água de tecidos vegetais através da pressão de turgescência de forma rápida e sem destruição da amostra, com a vantagem de ser portátil.
Estudo
O estudo de Poliana faz parte de sua dissertação de mestrado, apresentado na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, para obtenção do título de mestre. A estudante foi orientada pelo pesquisador da Embrapa Instrumentação Marcos David Ferreira, que é também professor da Feagri.
De acordo com a aluna, a qualidade da água utilizada na conservação de flores de corte é fator fundamental para a boa hidratação das hastes, tanto é que a presença de contaminantes, como fungos ou bactérias, ou alto teor de sais, especialmente o cloro, reduz a vida pós-colheita do caule. Além destes componentes, traços de flúor também causam danos e reduzem a vida pós-colheita de gladíolos, gérberas e crisântemos. Segundo ela, a diminuição do conteúdo de água nos tecidos vegetais é a principal causa de deterioração, que resultam em perdas quantitativas, e prejudicam a aparência com o aparecimento de murchamento.
O pesquisador Marcos David Ferreira explica que a qualidade das hastes é uma exigência do consumidor e um desafio para o produtor e, a utilização de medições instrumentais objetivas da hidratação pode auxiliar no processo de comercialização, uma vez que possibilita a determinação de parâmetros de mensuração da qualidade.
Wiltmeter
O Wiltmeter foi desenvolvido pelo pesquisador Adonai Gimenez Calbo, em 2009, e já transferido a Marconi Equipamentos e Calibração para Laboratórios, de Piracicaba (SP), em 2010, tendo inclusive patente internacional. Os testes realizados com o equipamento até então incluíam folhagens de hortaliças. Esta é a primeira vez que o equipamento é aplicado na avaliação com flores.
O Wiltmeter é um instrumento para fazer medidas objetivas após a colheita no campo e durante o armazenamento, é simples, portátil e de fácil uso. Estudos indicaram que o instrumento é adequado para avaliação objetiva e rápida da qualidade de folhosas, o que é um progresso em relação aos métodos táteis subjetivos atualmente utilizados em todo o mundo. De acordo com o pesquisador Adonai Gimenes Calbo o equipamento gera resultados tão próximos aos obtidos com a sonda de pressão que o qualifica como um instrumento sucedâneo e mais prático que pode ser utilizado em estudos de pós-colheita e de ecofisiologia vegetal, nos quais à aplicação direta da sonda de pressão seria impossível ou ao menos demasiadamente trabalhosa.
Segundo o pesquisador, avaliação realizada anteriormente para medir o índice de hidratação em folhas de couve usando outros métodos demonstrou ser mais demorada e ainda com necessidade de tratamento prévio da folha. Pelo método tradicional, a avaliação pode levar até 48 horas. “Com o Wiltmeter, a avaliação pode ser realizada em dois ou três minutos”, explica.
Mercado
O crisântemo foi selecionado por estar entre as flores de corte mais produzidas e comercializadas, adaptar-se a diversos tipos de climas, atraírem os consumidores pelas formas e cores, além de possibilitarem o planejamento de sua produção pelo controle de quantidade de horas de luz oferecida.
De acordo com estudos de especialistas, o comércio internacional na área de produtos ornamentais gira em torno de 9 bilhões de dólares, provenientes da Holanda, Dinamarca, Bélgica e ainda alguns do continente americano e asiático. Flores e botões frescos representam, em média, 49,5%; plantas ornamentais, mudas e bulbos, 42,3% e as folhagens, folhas e ramos cortados frescos, 8,2%.
No Brasil, a floricultura começou a se desenvolver na década de 50, consolidando-se em 1970 e se concentrando nas regiões de Atibaia e Holambra.
A organização do comércio atacado de flores e folhagens é feita 90% no estado de São Paulo, sendo repartida entre a Cooperativa Veiling Holambra, que é líder absoluta em comercialização, seguida da CEAGESP (São Paulo) e pelo Mercado Permanente de Flores e Plantas Ornamentais da Ceasa Campinas-SP.
A floricultura brasileira movimenta, anualmente, no seu mercado interno, um valor global de US$ 1,3 bilhão, de acordo com a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Flores e Plantas Ornamentais e responde, segundo o IBGE, pela geração de 3,7 empregos diretos/ha.
Joana Silva – Embrapa Instrumentação
Pesquisa visa ao aumento da produção de flores tropicais
A produção de flores tropicais em Rondônia, apesar de ser uma atividade recente, vem se destacando como oportunidade de negócios. O interesse pelas flores é acentuado devido às cores e aos formatos exuberantes, e pelo custo de produção que é 50% menor se comparado ao das flores de clima temperado. Também se destacam por apresentarem maior durabilidade pós-colheita, variando entre oito e 12 dias, dependendo do manejo, do ponto de colheita e tratamento pós-colheita. Das 200 espécies de flores mais cultivadas no Brasil, 166 são consideradas tropicais.
Desempenho produtivo
Estudos da Embrapa Rondônia avaliam o desempenho produtivo e vegetativo de cinco cultivares de helicônia – Red Opal, Golden Torch, Golden Torch Adrian, Alan Carle e Sassy – para as condições de clima e solo de Porto Velho. “Também estamos testando e validando tecnologias, principalmente de multiplicação de mudas com biotecnologia e práticas de manejo, como espaçamento, adubação, controle de pragas e doenças”, diz a pesquisadora Vanda Gorete Rodrigues.
Demanda
Ela explica que a pesquisa atende à demanda dos produtores de Porto Velho, integrantes da Associação de Produtores de Flores Tropicais de Rondônia (Afloron), que comercializam as flores no mercado local, além do Acre e de Santa Catarina.
De acordo com a pesquisadora, a finalidade dos estudos para aprimorar as técnicas de manejo, colheita e pós-colheita é obter resultados que garantam segurança aos produtores para investirem na atividade. “Essa expansão visa alcançar o mercado externo considerando que Porto Velho conta com a facilidade de acesso à Rodovia Interoceânica, de saída para o Pacífico, o que facilitaria as exportações”, destaca.
Helicônia
As flores do gênero helicônia são as mais importantes entre os gêneros cultivados em Porto Velho. São plantas de origem neotropical, com centro de origem na região Noroeste da América do Sul. Existem aproximadamente 180 espécies de helicônia descritas, sendo 50 cultivadas comercialmente no Brasil.