Variedade de feijão tem 10% da Isoflavona encontrada na soja
Em celebração ao seu 125O aniversário, o IAC apresenta resultado inédito no mundo: a presença da isoflavona na variedade de feijão IAC Formoso – ácido que pode prevenir doenças coronárias e crônicas, além de ser usada na reposição hormonal pelas mulheres.
Todos os dias, seja no almoço, seja no jantar, o feijão não falta na mesa dos brasileiros. Que ele é a principal fonte de proteína da população do país, muitos já sabiam. O que não era, de fato, bem conhecido ser a leguminosa também uma importante fonte de isoflavona, ácido fenólico que pode prevenir doenças coronárias e crônicas, e também usado na reposição hormonal pelas mulheres. Em artigos internacionais, os pesquisadores afirmam que há quantidade inexpressiva de isoflavona no feijão, porém, em estudos desenvolvidos pelo Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, foi comprovado que na variedade de feijão IAC Formoso, há 10% da isoflavona encontrada na soja. O material do IAC, tem ainda, 20% a mais de proteína quando comparado com as outras variedades de feijão. A descoberta é o primeiro passo para resultar em maior valor agregado ao feijão, além de servir de base para outros estudos de enriquecimento dos alimentos.
Fonte de isoflavona
O principal alimento fonte de isoflavona é a soja. A leguminosa, porém, não é tão consumida pelos brasileiros como o feijão. Nos estudos do IAC, ficou constatado que a quantidade de isoflavona encontrada no feijão pode variar de 1% a 10% da quantidade disponível na soja. “A quantidade encontrada na cultivar de feijoeiro Pérola, que é padrão no mercado, foi de 0,8 mg/grama de isoflavona, enquanto no IAC Formoso, foi de 8,92 mg/grama. Este teor é alto, pois o brasileiro come feijão e não soja”, afirma Alisson Fernando Chiorato, pesquisador do IAC, da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo.
De acordo com Chiorato, a explicação da presença da isoflavona no feijão pode estar na resistência ao caruncho e também ao fungo de solo, chamado Fusarium oxysporum. “Ainda precisamos estudar mais esses resultados, mas observamos quantidade elevada de isoflavona no feijão preto e em fontes relatadas como resistentes ao caruncho e ao fungo do solo. Possivelmente, quando trabalhamos nossas variedades para resistência a doenças, podemos aumentar a quantidade de isoflavona indiretamente”, afirma.
Benefícios à saúde
Os estudos para a descoberta da isoflavona no feijão levaram cerca de um ano e tiveram parceria da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisa começou após o lançamento da variedade IAC Formoso, em 2011, a partir de uma suspeita para saber se realmente os feijões não possuíam isoflavona. O lançamento da variedade IAC Formoso, porém, levou sete anos de pesquisa. “O feijão é consumido e plantado em todo o mundo há muito tempo. Atribuímos a demora na descoberta desse ácido fenólico, devido ao desinteresse da pesquisa. Com a maior procura por alimentos ricos em proteínas e outros elementos benéficos à saúde, passamos a estudar também este elemento”, explica Chiorato. Segundo o pesquisador, este é o primeiro passo dos estudos na área. “Esta descoberta pode desencadear outras no que diz respeito a alimentos com maior teor de isoflavona. Com certeza, outras áreas do conhecimento também se interessarão pelo assunto”, afirma Chiorato.
Além da soja e do feijão, a isoflavona pode ser encontrada também no repolho, espinafre, lúpulo e outros grãos. O ácido pode trazer benefícios para a saúde como a prevenção de doenças crônicas, além de exibir atividade antioxidante, antimutagênica e anticarcinogênica. Segundo o pesquisador do IAC, não há dado preciso quanto à quantidade de isoflavona que deve ser consumida diariamente. A estimativa é que sejam consumidos de 23 a 100 mg/kg de flavonoides na dieta tradicional. Embora fatores de estilo de vida e socioeconômicos desempenhem papel fundamental no desenvolvimento de certas doenças, existe forte evidência de que as práticas alimentares exerçam influência significativa sobre a ocorrência e progressão de doenças nas populações. “Vejam como exemplo as taxas de câncer de mama e próstata em países asiáticos são significativamente mais baixas do que nos ocidentais. Desta forma, o consumo de uma dieta que contenha isoflavona vem sendo associada a um grande número de efeitos benéficos à saúde”, explica Chiorato.
Feijão IAC Formoso
A variedade de feijão IAC Formoso contém maior quantidade de isoflavona e foi lançada pelo Instituto Agronômico em 2011. O material tem ainda alto valor proteico – 22,86% –, enquanto outros materiais têm 20%. O IAC Formoso é também resistente a três das doenças mais comuns que atacam o feijoeiro – antracnose, mancha-angular e fusarium solani. Com essas características, o produtor consegue reduzir em até 30% a aplicação de defensivos agrícolas, diminuindo, na mesma proporção, os custos de produção. Tem ainda potencial produtivo de 4.025 kg/ha, dependendo das práticas de manejo, como adubação de solo, irrigação e controle efetivo de pragas e doenças.
Atrativo para os produtores por causa do menor custo de produção e produtividade, o IAC Formoso também tem qualidades que agradam ao consumidor final. Além do alto teor de proteína e isoflavona, seus grãos cozinham em cerca de 20 minutos na panela de pressão. “Geralmente os feijões cozinham entre 25 e 30 minutos. A variedade IAC cozinha em menor tempo por conta da alta qualidade tecnológica nela empregada”, diz Chiorato.
Segundo o pesquisador do IAC, com a descoberta da isoflavona, é possível que o feijão passe a ter maior valor agregado. O IAC Formoso custa ao consumidor o mesmo que os outros feijões, cerca de R$ 5 o quilo.
Alimento social
O feijão ocupa 85% das áreas semeadas por leguminosas no mundo, perdendo em importância apenas para a soja e o amendoim. A leguminosa é ainda considerada um alimento social, pois pode ser cultivada desde o pequeno até o grande produtor rural e ainda por ser a principal fonte de proteína do brasileiro. No total, são consumidos 16 kg de feijão por habitante/ano no Brasil.