Quando se fala em bem-estar animal no Brasil, a Korin Agropecuária é a principal referência. Uma das maiores fabricantes de produtos naturais e orgânicos do país, a empresa foi a primeira, em território nacional, a receber o selo Certified Humane.
Reginaldo Morikawa, diretor superintendente da Korin, conta que a conquista do selo não foi muito difícil, já que a produção de animais da Korin seguia os preceitos da filosofia de Mokiti Okada, filósofo e espiritualista japonês. “De acordo com a filosofia, de Okada, os animais têm espírito, assim como as plantas e o solo, sendo assim, jamais devem ser maltratados. Com base nesse princípio, cumpríamos, praticamente, todas as normas exigidas para obtenção do selo”.
Cuidados na produção
Anualmente, a Korin produz perto de 9,8 mil toneladas de carne de frango e 10,8 milhões de ovos livres de antibióticos. Morikawa explica alguns cuidados na criação das aves: “Os galpões, onde as galinhas são criadas, têm ambiência controlada e ventilação adequada, além disso, o número de aves por metro quadrado é menor. Na produção orgânica, além do galpão, as aves têm acesso a uma área externa para pastejo e banho de sol. Já no caso das galinhas poedeiras, elas ficam no chão, podendo botar seus ovos em ninhos e expressar seu comportamento natural”.
Morikawa afirma que, diferentemente da produção convencional, as aves não sofrem a debicagem (procedimento de retirada da extremidade do bico), e não recebem antibióticos. “A saúde dos animais é conseguida através de probióticos, óleos naturais, e uma alimentação rica”.
Manejo dos animais
“Nós realizamos a apanha noturna, que acaba sendo mais cara, por conta do adicional noturno que pagamos aos funcionários”, explica Morikawa, “ao invés de levarmos as aves pelas pernas até o caminhão, colocamos canos de PVC, para que as caixas cheguem até onde os frangos estão. Eles são carregados pelo dorso, e colocados um por um nas caixas, em densidade menor que no sistema convencional”.
Depois de colocadas no caminhão, uma cobertura impede que aves consigam visualizar o local do abate. A sala do abate também é escura, para que os animais fiquem calmos.
Consciência do consumidor
Reginaldo conta que, em 2010, eles fizeram uma pesquisa perguntando para clientes de um supermercado se eles pagariam mais por um produto que tivesse o selo de bem-estar animal. Na ocasião, apenas 30% dos que responderam a pesquisa estavam dispostos a pagar mais por uma carne certificada.
“Em seguida, instalamos uma televisão, e mostramos, aos 70% que não pagariam a mais, um vídeo sobre os maus tratos sofridos por animais de produção, e refizemos a pergunta. O resultado: 100% do grupo dos 70%, a partir daquele momento, disseram que iriam dar preferência a carne que apresentasse o selo de bem-estar animal. Isso é a prova de que falta informação ao consumidor”, conclui Morikawa.
Reconhecimento
Elaborado pela WSPA e pela Compassion in World Farming, organizações não governamentais em defesa dos animais, o relatório The Business Benchmark on Farm Animal Welfare 2013 analisou 70 grandes empresas alimentícias ao redor do mundo, com o objetivo de avaliar políticas internas em prol do bem-estar animal. Delas, a única empresa brasileira a participar da pesquisa foi a Marfrig, empresa de processamento de alimentos. E não fez feio, foi reconhecida como empresa completa em relação ao bem-estar animal.
Na pesquisa, as empresas, depois de avaliadas, foram distribuídas em seis grupos, de acordo com o nível de comprometimento delas com o bem-estar animal. No ranking final, a Marfrig ficou em segundo lugar, ao lado de outras quatro empresas, e abaixo de apenas duas, consideradas líderes.
Há dez anos, a Marfrig possui um setor específico de bem-estar animal, coordenado por Stavros Tseimazides. Ele conta que “é crescente a demanda de clientes querendo saber mais sobre o assunto e as práticas que as empresas têm tomado para minimizar o estresse dos animais’.
Respeito animal
Stavros diz que “dentre as certificações que a Marfrig possui, é a única empresa de alimentos certificada como “Rainforest Alliance”, que dentre outros pontos, preconizam o bem-estar animal”. Além da Marfrig seguir as normas do serviço de Inspeção Federal, que garante a o bem-estar dos animais durante o abate, a empresa possui um programa de que oferece bonificações aos fornecedores que adotam práticas de bem-estar animal, o Marfrig Club. “De pecuaristas a caminhoneiros, todos são treinados e incentivados a seguir boas práticas que garantem o bem-estar”, afirma Stavros.
Lucratividade
Cinco bilhões e 700 milhões de reais. Essa foi a receita da Aurora, uma das maiores indústrias de alimentos do Brasil, no ano passado. A empresa é um exemplo de que o respeito ao bem-estar animal e a adoção de práticas de abate humanitário podem gerar lucro. “Há mais de 10 anos a Aurora tem se preocupado com bem-estar animal, ao que chamamos de “qualidade ética da carne”, afirma Eliana Renuncio, médica veterinária e assessora técnica da empresa.
Ela conta que, nos últimos seis anos, a empresa vem investindo fortemente em adaptações físicas, seja em veículos de transporte, plantas frigoríficas e, até mesmo, em propriedades rurais, com o objetivo de minimizar o impacto do manejo nos animais. “Temos implementado treinamentos de toda a cadeia produtiva, englobando produtores, técnicos, transportadores e funcionários de frigoríficos” acrescenta Eliana.
Qualidade ética
Em 2013, três milhões e meio de suínos e 187 milhões de aves foram abatidos nas instalações da Aurora. Todos de acordo com as normas de abate humanitário. “As pessoas estão cada vez mais preocupadas com a qualidade ética dos alimentos que consomem”, explica Eliana, “as redes sociais têm democratizado o conhecimento em todas as áreas, não seria diferente com as informações sobre o processo de obtenção da carne, o que faz com que a empresa trabalhe com um conjunto de ações e com parceiros reconhecidos nesta área de atuação” afirma Eliana. Ente os parceiros estão a WSPA e a Embrapa, que oferecem treinamentos para os funcionários da Aurora.
Quando se fala em oportunidades para a empresa que adota práticas de bem-estar animal, Eliana destaca: “Sem dúvida, a primeira oportunidade é o fornecimento de um produto que tenda as expectativas do consumidor em relação à qualidade ética do produto que ele está comprando. Além disso, segurança dos trabalhadores e animais, facilitação do manejo, qualidade da carne e da carcaça, aumento da produtividade e lucratividade, são alguns dos benefícios”.