Para atender ao mercado de alta qualidade, a Embrapa Clima Temperado desenvolveu a cultivar BRS Pampa para as seis regiões produtoras de arroz irrigado do Estado do Rio Grande do Sul. Ela é de ciclo precoce, tem ótimo rendimento de grãos inteiros e garante um arroz solto e macio após o cozimento
A cultivar de arroz BRS Pampa é originada de cruzamento envolvendo os parentais Irga 417 e BRS Jaburu, realizado pela Embrapa. A nova variedade tem plantas do tipo “moderno” de folhas pilosas, altura média de 89 cm, ciclo precoce, em torno de 118 dias, podendo variar de 113 a 123 dias, da emergência à maturação, com ampla adaptação no Rio Grande do Sul. Outra característica da BRS Pampa é a boa tolerância ao acamamento e às doenças predominantes. Além disso, os seus grãos são longos e finos, do tipo “agulhinha”, de casca pilosa-clara, com baixa incidência de centro branco, bem como textura solta e macia após a cocção.
O rendimento industrial dos grãos, em condições normais de ambiente e manejo da lavoura, é superior a 62% de grãos inteiros-polidos com renda total de 70%.
A BRS Pampa revelou excelentes atributos de cocção, comparados às melhores cultivares utilizadas pela indústria gaúcha. Nos testes indiretos de qualidade culinária, o grão apresentou conteúdo de amilose classificado como alto – aproximadamente 31% – e temperatura de gelatinização baixa, como é esperado para uma cultivar com boas características de cocção (cozimento).
Quanto à reação aos estresses bióticos, a BRS Pampa teve reação que variou de intermediária à medianamente resistente à brusone (Pyricularia grisea), na folha e na panícula. O nível de resistência refere-se ao observado na média dos ensaios de VCU e pode sofrer alterações em função das diferentes raças, as quais se alteram com as mudanças de ambientes (locais x anos). Em relação aos estresses abióticos, como toxidez a ferro, a cultivar apresentou respostas superiores ao Irga 417 (genitor sensível), sendo avaliada como moderadamente tolerante.
Em ensaios realizados nas diversas regiões orizícolas do RS, esta cultivar demonstrou elevado potencial de produtividade (Gráfico 1), superando as 10 toneladas por hectare de grãos secos e limpos. Assim, a cadeia produtiva do arroz gaúcho será beneficiada, por contar com uma nova cultivar produtiva e de excelente qualidade de grãos.
Manejo da cultivar
Todo e qualquer fator que interfira no processo normal resultará em prejuízo à expressão do potencial genético da cultivar. Portanto, o manejo da BRS Pampa deve ser realizado de forma criteriosa, observando-se suas características peculiares e seguindo-se o conjunto de tecnologias recomendadas pela pesquisa no RS. Assim, recomenda-se para o manejo da cultivar BRS Pampa os seguintes passos: em primeiro lugar, utilizar semente de procedência conhecida, livre de plantas daninhas ou de misturas com outras cultivares, preferencialmente Certificada ou Comercial I e II, adquirida junto a produtores registrados na Delegacia Federal de Agricultura (DFARA/MA/RS).
Além disso, a semeadura deve ser realizada com base no zoneamento agroecológico para as diferentes regiões orizícolas do RS. A cultivar BRS Pampa permite uma maior plasticidade na época de semeadura. Conforme a realidade de cada lavoura, a semeadura poderá ser antecipada ou retardada. Nas regiões com menor restrição térmica, a BRS Pampa deve ser semeada entre 11 de outubro e 10 de dezembro e, nas regiões mais frias, de 15 de outubro a 15 de novembro, de modo que, sempre que possível, a diferenciação da panícula ocorra aproximadamente no dia 1º de janeiro.
A densidade de semeadura deve possibilitar o estabelecimento de um estande de 200 a 300 plantas por m2. Para que isto ocorra, são necessários cerca de 100 kg de sementes aptas por hectare.
Deve-se também ter cuidado especial com o início da irrigação e a altura da lâmina de água, pois estes são fatores que influenciam diretamente no desenvolvimento das plantas. Observações de lavouras têm demonstrado que o retardamento na entrada de água, em condições de controle eficiente de invasoras, tem proporcionado um melhor perfilhamento. Portanto, recomenda-se, quando possível, iniciar a irrigação permanente da lavoura até 25 dias após a emergência das plântulas (4 a 5 folhas), mantendo-se a lâmina de água de, no máximo, 10cm.
É preciso se proceder à primeira adubação nitrogenada em solo seco, no perfilhamento, com a entrada de água ocorrendo imediatamente após sua aplicação.
Para realizar a segunda adubação nitrogenada, é necessário observar a diferenciação da panícula (R0).
E, finalmente, é recomendável colher tão cedo quanto possível após a maturação fisiológica, com umidade do grão variando entre 18% e 23%.
A utilização de cultivares de ciclo precoce, que apresentem elevado rendimento potencial de grãos, menor exigência em volume de água de irrigação e a menor exposição a fatores ambientais causadores de estresses responsáveis por redução produtividade, como a BRS Pampa, que além destas vantagens apresenta excelentes atributos de qualidade de grãos (indústria e consumidor), é uma ótima opção de cultivar para a orizicultura gaúcha.