Aparentemente, retirar as aves dos galpões de criação para o abate parece ser um trabalho simples, porém, exige muito treinamento e força física por parte dos prejuízos envolvidos neste processo
O setor produtivo de frangos de corte sempre direcionou sua atenção para as áreas de nutrição, sanidade e genética. Pouco dedicou a devida importância para áreas diretamente ligadas à qualidade final do produto. Este é o caso da fase de “pega” ou captura das aves, etapa inicial das chamadas operações pré-abate. Atualmente, reduzir perdas durante este período é um dos grandes desafios dos produtores de frangos, já que o pré-abate pode gerar elevados índices de perdas. Porém, até então, nem todo o prejuízo e danos ocorridos com as aves durante a pega eram percebidos ou contabilizados pela cadeia avícola em geral.
Talvez devido ao fato de que muitos dos danos ocorridos durante a atividade de pega ou apanha das aves, como hematomas e fraturas, só são realmente percebidos após a depenagem.
Redução de perdas
Assim, é de fundamental importância uma abordagem acerca deste tema, levando-se em consideração principalmente os princípios do bem-estar animal e a redução de perdas.
Aparentemente, retirar as aves dos galpões de criação para o abate parece ser um trabalho simples, porém, exige muito treinamento e força física por parte dos envolvi dos neste processo. Este é um momento bastante dinâmico, pois, constantemente, pessoas entram e saem dos galpões carregando os frangos até o caminhão de transporte, sendo necessário bastante esforço e agilidade por parte dos trabalhadores.
Menos lesões e traumas
Sabendo destes aspectos, durante a pega, alguns cuidados devem ser tomados a fim de minimizar lesões e traumas nas aves.
São mudanças simples no manejo que podem gerar grandes benefícios. São elas:
- O primeiro e mais importante passo, é treinar, de forma adequada, os funcionários que trabalham na apanha. Cada pessoa envolvida neste processo deverá saber exatamente a função que vai desempenhar e conhecer bem suas responsabilidades. Se possível, todos deverão seguir instruções detalhadas passadas previamente.
- Antes que ocorra a pega, deve ser feita uma avaliação da ambiência interna do galpão. Caso os valores de temperatura e umidade relativa do ar estejam elevados, fora do nível de conforto das aves, a operação de pega deverá ser interrompida, devido ao maior grau de estresse a que as aves estarão submetidas, o que poderá aumentar, ainda mais, as perdas.
- Devem ser feitos “círculos de captura”. Esta é uma prática que facilita a pega pelo fato de se trabalhar com pequenos grupos de aves e evitar grandes movimentações e aglomeração das mesmas;
- Antes de serem feitos os círculos de captura, os comedouros e bebedouros devem ser suspensos, para evitar golpes no peito e nas pernas das aves e acidentes com o pessoal responsável pela apanha.
- O ambiente do galpão, se possível, deverá ter iluminação reduzida durante a pega. As aves apresentam menor nível de atividade com a diminuição da luz e ambientes mais escuros minimizam as reações de medo entre as aves, diminuindo, assim, o estresse.
- É preciso que os ventiladores sejam mantidos ligados durante toda a pega das aves. Deve haver ventilação adequada na altura das mesmas, para minimizar os efeitos do estresse térmico. Ventiladores ligados também reduzem o nível de pó e poeira dentro do ambiente.
- Os trabalhos devem ser feitos de forma silenciosa. É necessário evitar-se procedimentos que possam gerar reações de medo e pânico nas aves. Elas deverão ser manejadas de forma calma, propiciando o mínimo de agitação entre elas. Muitas vezes a rapidez com que a pega é executada gera traumas nas aves e, dependendo da gravidade das lesões, pode ocorrer condenação parcial ou até mesmo total da carcaça dos animais afetados.
- As aves devem ser pegas pelo dorso (método japonês), usando as duas mãos e pressionando as asas contra o corpo. Os animais devem ser contidos de maneira confortável, evitando que elas se debatam. A pega pelo dorso oferece maior proteção, causa menos estresse e reduz os riscos de fraturas nas aves, resultando em uma menor condenação de carcaça.
- Enquanto as aves estão sendo carregadas é bom evitar que as mesmas se debatam ou levem pancadas (visando minimizar os arranhões, hematomas e outros machucados), por isso, a distância que as aves serão carregadas até o caminhão deverá ser a menor possível. Para isto, o caminhão de transporte deverá ser posicionado bem próximo de onde as aves sairão do galpão.
- As portas e passagens dos galpões devem ser suficientemente largas para permitir a remoção segura das aves.
- As aves devem ser colocadas dentro das caixas de transporte da forma mais cuidadosa possível. Se jogadas de forma brusca, podem sofrer danos e fraturas.
- As caixas carregadas com as aves precisam ser manejadas de forma cuidadosa, para evitar solavancos demasiados, ou que as mesmas escapem no momento da formação da carga na carroceria do caminhão.
Pré-abate
Para que as aves cheguem da maneira correta até o final do processo de pré-abate, serão necessários, ainda, diversos cuidados nas fases que seguem a operação da pega. Porém, a atenção durante a apanha das aves é de extrema importância, pois é onde tudo se inicia, e, caso este começo ocorra de forma inadequada, sérios problemas envolvendo o bem-estar dos animais poderão ocorrer e perdurar até que as aves sejam abatidas.
A preocupação é tamanha que, atualmente, muitos estudos têm sido conduzidos com enfoque voltado ao pré-abate dos animais. O NEAMBE – Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e Bem-estar Animal – vem pesquisando maneiras de otimizar o manejo das aves durante a etapa de pega ou apanha, visando promover melhores condições de bem-estar para os animais e geração de benefícios para toda a cadeia avícola brasileira, através da redução das perdas nos processos produtivos.