Produção do bicho-da-seda, a sericicultura, é uma ótima alternativa de renda para pequenos produtores
Técnica milenar, de origem chinesa, a sericicultura consiste na produção de bicho-da-seda e casulos para a fabricação do fio de seda. Iniciada no Brasil pelos imigrantes japoneses, na década de 1920, a produção, hoje, está concentrada no Estado do Paraná, envolvendo mais de 2.300 famílias. Em 2013, as exportações de fios de seda movimentaram acima de R$ 29 milhões, mas a única indústria de fiação no país opera com 40%, muito aquém da sua capacidade de produção, por falta de matéria-prima. Sendo assim, a sericicultura torna-se uma grande oportunidade de mercado.
Oswaldo de Pádua, técnico agrícola responsável pela sericicultura do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), explica o passo a passo de como iniciar a produção. Segundo ele, o investimento inicial gira em torno de R$ 20 mil, podendo ser menor, se o produtor já possuir parte do material e da infraestrutura necessários.
Pádua também lembra que, como o faturamento da produção do bicho-da-seda é mensal, em média R$ 7,5 mil, o investimento é rapidamente amortizado.
Retomada
Nos últimos anos, houve uma grande evasão de mão de obra da sericicultura, que perdeu espaço para outras atividades, mas parece que o cenário está sendo revertido. “Há uma tendência de ampliação da área de produção e de entrada de novos criadores. Melhores preços e aumento da remuneração estancaram a evasão de sericicultores”, explica Pádua. “No Paraná, há uma proposta em relação à inovação tecnológica, visando facilitar a vida do trabalhador rural, fixando-o no campo”.
Maior produtividade
A média de produção de casulos verdes varia entre 500 e 600 kg por hectare, mas Pádua afirma que, hoje, no Paraná, “alguns produtores já conseguem produzir até 1550 kg por hectare”, montante que, no preço atual, geraria um valor total de R$ 23.250. Para se ter ideia, se fizermos uma comparação com outras culturas, seria necessário produzir, aproximadamente, em um hectare, mais de 23 mil litros de leite, ou 347 sacas de soja, ou 830 sacas de milho, ou ainda 455 toneladas de cana-de-açúcar, para obter o mesmo lucro.
Segundo Pádua, fertilização do solo, manejo adequado das amoreiras, introdução de máquinas e equipamentos na produção, que otimizam o tempo e evitam desperdício, são fatores importantes para o aumento da produção.
Outros cuidados merecem a atenção de quem pretende ser um sericicultor. “um dos maiores problemas da produção do bicho-da-seda está relacionado com a utilização de agrotóxicos, uma vez que as lagartas são muito sensíveis aos produtos químicos”, alerta o técnico da Emater. “A sericicultura é uma produção limpa, muito próxima à produção orgânica”.
Industrialização da seda
Na indústria, parte dos casulos é destinada à produção de fios, a outra é encaminhada para o setor de reprodução. Os casulos destinados à fiação são quase que imediatamente industrializados. Primeiro, passam por um processo de seleção manual, onde se avalia a qualidade. Depois, são submetidos ao cozimento, onde os casulos são imersos em água quente, 60 graus, para que o fi o se desprenda com facilidade e seja ligado às máquinas.
A Mariposa
Os casulos destinados à reprodução são separados entre fêmeas e machos. As crisálidas, no interior dos casulos, darão origem às mariposas. As fêmeas possuem coloração branca e são maiores que os machos, pequenos e rosados. Cada mariposa pode produzir até 500 ovos.
Oswaldo de Pádua explica que, no Brasil, a espécie mais utilizada é fruto do cruzamento das raças chinesa e japonesa. “São híbridos especiais criados em laboratório que melhor se adaptam ao país. Além das raças mais comuns, raças europeias também podem ser utilizadas no caso de melhoramento genético”.
Ainda segundo o técnico da Emater, algumas raças europeias produzem fios coloridos, em tonalidades de amarelo e de verde. “no caso brasileiro, a mais indicada é a da produção do casulo branco, que é mais comercial, pois facilita o tingimento”.
Números da produção
O Brasil, atualmente, é o quinto maior produtor de casulos verdes do mundo, apesar da sua produção estar muito abaixo do potencial. Foram 2.611 toneladas em 2013, com o Paraná respondendo por 89% do total, seguido de São Paulo (7,5%), Mato Grosso do Sul (3,4%) e Santa Catarina (0,1%).
A localidade de nova Esperança, próxima a Maringá, no noroeste do Paraná, é a principal produtora do casulo verde no Estado, responsável por 14% de toda a produção estadual.
Volta aos fios naturais
“A seda é importante no contexto da diversificação da produção e pela boa remuneração que ela oferece. Houve uma retração de mercado, com a entrada dos fios sintéticos. Mas o mundo está voltando para aos fios naturais”, comemora Oswaldo de Pádua.
Atualmente, 95% dos fios são exportados. “Temos trabalhado muito para mudarmos este quadro. Queremos mandar produto acabado para o exterior. Valor agregado, ao invés de exportamos produto bruto, menos valorizado”.
A última e única das fiações
A primeira fábrica de tecelagem de seda do Brasil foi a Companhia Seropédica Fluminense, fundada no Rio de Janeiro em 1838, e que tinha como sócio D. Pedro II. Mas, somente em 1928, a técnica da produção do bicho-da-seda foi trazida para o Brasil, com os imigrantes japoneses, que se instalaram no interior de São Paulo e do Paraná. Foi criada, então, a Sociedade Colonizadora do Brasil Ltda., a Bratac. Hoje, a única indústria de fiação de seda nacional.
“Infelizmente, as confecções brasileiras perderam muita força, principalmente no setor da seda, por conta das importações de tecidos e roupas prontas. O maior problema não é a importação em si, mas a concorrência desleal por meio do subfaturamento de quantidade e preço”, afirma o diretor da Bratac, Shigueru Tanigutti Junior.
A engenheira agrônoma do Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura do Paraná, Gianna Cirio, aponta outros fatores para a queda da produção de casulos no Brasil: “a crise econômica mundial de 2008, que reduziu o consumo de seda de mercados como Europa e Estados unidos, a forte competição com a seda chinesa, a política cambial desfavorável às exportações, a ocorrência do êxodo rural dos jovens e a migração de mão de obra para outras culturas”.
A Bratac
O Brasil já teve 17 fiações de seda, porém, uma a uma, foram fechando as portas. A Bratac é a única em funcionamento no país, produzindo cerca de 440 toneladas de fios de seda por ano. Atualmente, a empresa conta com mil funcionários diretos, e mais de 2.300 famílias produtoras de casulos. Em sua maioria, utilizam apenas mão de obra familiar, em pequenas propriedades.
Incentivo aos produtores
Tanigutti Júnior explica que “a Bratac vem investindo bastante no desenvolvimento tecnológico para facilitar e reduzir a mão de obra e o esforço físico dos produtores”. O que permite que eles aumentem a produção e seus rendimentos, com os mesmos recursos.
“Os preços pagos aos produtores do casulo do bicho-da-seda sofreram altas significativas nos últimos anos, o que torna a atividade mais atraente”, afirma o diretor. “Além disso, disponibilizamos linhas próprias de crédito, facilitando a aquisição de algumas máquinas e equipamentos, bem como, insumos, como o adubo orgânico”.
Mercado de luxo
Ainda que pequena, em relação à China e índia, por exemplo, a produção brasileira de fios de seda é reconhecida pela qualidade. “Esta é particularidade do Brasil. Nossos fios são os melhores do mundo, sendo boa parte destinada ao segmento de alta costura”, afirma Pádua. “E é no campo que esta qualidade é garantida”, complementa.
“Atualmente estamos exportando para a França 48% da produção de fios de seda e 41% para o mercado asiático. O fio de seda, produzido pela Bratac, é utilizado por grifes internacionais de luxo”, conta Shigueru Tanigutti Júnior. “No Brasil, esse mercado (de luxo) avançou nos últimos anos, mas ainda é restrito e consome pouco”.
A Bratac
O Brasil já teve 17 fiações de seda, porém, uma a uma, foram fechando as portas. A Bratac é a única em funcionamento no país, produzindo cerca de 440 toneladas de fios de seda por ano. Atualmente, a empresa conta com mil funcionários diretos, e mais de 2.300 famílias produtoras de casulos. Em sua maioria, utilizam apenas mão de obra familiar, em pequenas propriedades.
Incentivo aos produtores
Tanigutti Júnior explica que “a Bratac vem investindo bastante no desenvolvimento tecnológico para facilitar e reduzir a mão de obra e o esforço físico dos produtores”. O que permite que eles aumentem a produção e seus rendimentos, com os mesmos recursos.
“Os preços pagos aos produtores do casulo do bicho-da-seda sofreram altas significativas nos últimos anos, o que torna a atividade mais atraente”, afirma o diretor. “Além disso, disponibilizamos linhas próprias de crédito, facilitando a aquisição de algumas máquinas e equipamentos, bem como, insumos, como o adubo orgânico”.
Mercado de luxo
Ainda que pequena, em relação à China e índia, por exemplo, a produção brasileira de fios de seda é reconhecida pela qualidade. “Esta é particularidade do Brasil. Nossos fios são os melhores do mundo, sendo boa parte destinada ao segmento de alta costura”, afirma Pádua. “E é no campo que esta qualidade é garantida”, complementa.
“Atualmente estamos exportando para a França 48% da produção de fios de seda e 41% para o mercado asiático. O fio de seda, produzido pela Bratac, é utilizado por grifes internacionais de luxo”, conta Shigueru Tanigutti Júnior. “No Brasil, esse mercado (de luxo) avançou nos últimos anos, mas ainda é restrito e consome pouco”.
Oportunidades
“A sericicultura pode se desenvolver em pequenas áreas, tendo o potencial de contribuir para a redução da pobreza em países em desenvolvimento”, explica a engenheira agrônoma, Gianna Cirio, enumerando as oportunidades de mercado.
“Cabe mencionar que a China, principal fornecedor de seda, vem decrescendo sua participação no suprimento de seda, deixando uma lacuna a ser ocupada por outros países que queiram aumentar sua produtividade”.
Gabriel Chiappini – Especial para A Lavoura
Como produzir o bicho-da-seda (Sericicultura)
Técnico da Emater Paraná, Oswaldo de Pádua ensina o passo a passo, da criação à produção dos fios.
Propriedade : o tamanho da propriedade pode variar desde 4 mil metros quadrados, até 30 mil metros quadrados, (3 hectares), que é o recomendável para até três pessoas envolvidas na produção.
Plantio: é necessário efetuar o plantio das amoreiras, cujas folhas são o único alimento do bicho-da-seda. A espécie mais indicada é a Morus alba , chamada amoreira branca. Em média, a vida útil da amoreira é de 20 anos, podendo chegar a 30. A amoreira branca, embora produza frutos, quando destinada à alimentação do bicho-da-seda, não alcança o ponto de frutificação, pois é podada entre sessenta e setenta dias.
Época de plantio: recomenda-se que o plantio seja realizado na entressafra, entre maio e agosto, já que no período de frio não há desenvolvimento das plantas. O primeiro corte das ramas pode ser feito a partir de seis meses.
Adubação: o sucesso da produção está inteiramente relacionado com a qualidade das amoreiras. Uma da maneiras de incrementar a qualidade é por meio da incorporação de adubo orgânico, que promove um aumento significativo na produção de massa verde (folhas das amoreiras).
Estrutura: a produção necessita de um barracão, onde serão depositadas as ramas da amoreira para alimentação das lagartas. O barracão deve ter em torno de 30 metros de comprimento por sete metros de largura, podendo variar de acordo com o tamanho da produção. As laterais precisam ser teladas com cortina avícola, para facilitar a ventilação.
Aquisição: o bicho-da-seda pode ser adquirido já na fase da lagarta. A indústria de fiação da seda realiza as duas primeiras fases de criação do bicho, sendo assim, o produtor já recebe as lagartas criadas com 7 dias.
Climatização: a temperatura ideal para produção dos ovos e lagartas, nas primeira e segunda idades, é de 26 graus, com umidade relativa do ar de 80 a 90%. A partir da terceira e quarta idades, de responsabilidade do produtor, recomenda-se temperatura de 24 graus e umidade de 70 a 75%.
Alimentação: Todos os dias o produtor deve recolher as ramas, preferencialmente nas horas mais frescas, para melhor conservação das folhas. Depois, as folhas precisam ser colocadas sobre esteiras, conhecidas como “camas de criação”, e as lagartas depositadas sobre essas “camas”.
Desenvolvimento: durante 6 a 7 dias (terceira idade) as lagartas se alimentam das folhas, depois disso, elas devem ser remanejadas para os chamados “bosques”, estruturas de papelão que servem para padronizar o formato dos casulos, onde o inseto irá sintetizar o fio aos 18 dias de vida (quarta idade).
Formação do casulo: depois de crescidas, as lagartas estão prontas para a metamorfose. Nesse momento, elas sintetizam, expelindo pela boca, as proteínas sericígena e fibroína, que darão origem ao casulo de seda. Dentro do casulo, a lagarta se transforma em crisálida, e durante 10 dias, sofre intensas transformações, adquirindo asas e aparelho reprodutor.
Retorno: a média de produção de casulos verdes varia entre 500 e 600 kg por hectare. Atualmente, o quilo do casulo pode ser vendido por aproximadamente R$15, gerando uma renda média mensal de R$ 7,5 mil.
Indústria: com 25 dias (quinta idade) os casulos já podem ser comercializados para a indústria.
Curiosidades
- A sericicultura teve início há quase 5 mil anos, na Ásia.
- Segundo a lenda, a descoberta da seda se deu por acaso. A imperatriz chinesa, Hish-Ling Shi, tomava chá debaixo de uma amoreira, quando um casulo de seda caiu dentro da sua xícara e dele desprendeu-se um fio que ela jamais havia visto.
- A seda só ficou conhecida no ano 300, três mil anos após sua descoberta. Até então, era um segredo apenas dos chineses.
- Cada casulo pode originar de 800 a 1220 metros de fio de seda.
- A mariposa vive apenas 16 dias. Durante esse tempo ela não se alimenta, dedicando-se somente à reprodução.
- Fios de seda também são utilizados em procedimentos cirúrgicos e na construção de próteses. O material é mais indicado por causar menor risco de rejeição.
- Lagartas e crisálidas fritas do bicho-da-seda fazem parte do cardápio alimentar de alguns países, como a China.
Fios fluorescentes
Como já dito, algumas raças de bicho-da-seda são capazes de produzir fios coloridos, nas tonalidades verde e amarela. Mas, cientistas do Instituto de Pesquisa de Materiais e Engenharia (IMRE), de Singapura, resolveram ir mais além: produzir fios coloridos fluorescentes.
Para isso, acrescentaram corantes, de rodamina, às folhas de amoreiras, que serviam de alimento às lagartas. Elas, então, passaram a produzir fios naturalmente coloridos, e melhor, sem o risco de desbotar.
Isso foi possível porque as moléculas contidas nos corantes foram incorporadas nos filamentos de seda. Segundo os cientistas, o novo método exclui a necessidade de tingimento, fazendo com que a seda possa se tornar um produto ecológico e sustentável, devido à redução do uso de água e corantes no processo tradicional de coloração do fio.
Além disso, a nova tecnologia permite a diminuição de custos e pode ser incorporada por grandes indústrias. O processo é praticamente o mesmo da produção do fio convencional, a não ser pela adição de corante na dieta do bicho-da-seda durante os últimos quatro dias de vida da larva.
O projeto de pesquisa ainda não foi concluído, mas os cientistas esperam que essa descoberta também seja utilizada para fins medicinais. Segundo eles, a luminescência desta seda pode colaborar no monitoramento de próteses e na reconstrução de ossos e tecido humano.