A utilização de bactérias diazotróficas na redução do uso de adubos nitrogenados, uma tecnologia estudada há mais de 50 anos e amplamente aplicada em lavouras de grãos, voltou a ser pesquisada para ser aplicada em lavouras de cana-de-açúcar.
Os resultados de campo demonstram que nas diferentes regiões do Brasil é possível melhorar a utilização — ou mesmo reduzir — a adubação nitrogenada em canaviais que receberam as bactérias diazotróficas, sem perda de produtividade.
Em alguns locais, especialmente com a utilização em variedades selecionadas para solos restritivos, o aumento é de 10%, em média, de produtividade da cana-de-açúcar, já que as bactérias ajudam no desenvolvimento da cultura, produzindo reguladores de crescimento e outros compostos que ajudam no estabelecimento do estande e na produção de raízes.
A pesquisa visa à redução de até 50% na utilização de adubos nitrogenados, mas não a substituição total. De qualquer forma, poderá representar uma economia bastante significativa para o país, maior produtor mundial de cana.
Autorização
Atualmente, a pesquisa aguarda a autorização do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a produção do inoculante pela indústria. Depois disso, o produtor terá à sua disposição um produto que favorece não só a fixação biológica de nitrogênio, mas o crescimento das raízes da planta, proporcionando uma maior exploração e melhor aproveitamento de nutrientes pela cultura. É uma dupla troca: a planta fornece proteção e carbono e a bactéria a fixação biológica de nitrogênio e de reguladores de crescimento.
Aplicação
Verônica Massena Reis, pesquisadora da Embrapa Agrobiologia, responsável pela pesquisa, explica que as bactérias que fixam nitrogênio foram selecionadas para a aplicação em soja, feijão, amendoim, entre outras, e que, a partir de 2010, o País começou a comercializar um inoculante também para cereais, como o milho. “No Brasil, não há produto selecionado para a cana-de -açúcar, cuja propagação é por gemas”, ensina. Segundo ela, a pesquisa precisou ser iniciada do zero, pois “não existia memória ou outras experiências. Além disso, os experimentos a campo consideraram o ciclo de, pelo menos, quatro anos de cultivo”, relata a pesquisadora.
Segundo Verônica Reis, a Embrapa conta com um banco de mais de 8.000 isolados depositados ao longo de 40 anos de história. O estudo realizado na Embrapa Agrobiologia foi justamente selecionar as melhores bactérias para a aplicação na cultura da cana-de-açúcar em testes feitos com diversas espécies, ao longo dos últimos 25 anos.
Diferença do desenvolvimento de raízes, com e sem inoculante – Foto: William Pereira
Bactérias do bem
O produto resultante é uma mistura de cinco espécies diferentes denominadas de “bactérias do bem”, isto é, bactérias que promovem o crescimento sem causar doença ao vegetal — como são chamadas por Verônica Massena. E todas são brasileiras.
As bactérias não são modificadas geneticamente e vivem nas raízes, folhas ou colmos da própria cana. Criadas separadamente, elas atingem pleno desenvolvimento entre 24 a 48 horas, quando são coletadas e misturadas a um produto inoculante, que as mantém vivas e ativas. Misturadas com água, estão prontas para a aplicação, esclarece a pesquisadora da Embrapa.
A agrônoma alerta, no entanto, que o produtor deve tomar cuidado na aplicação do inoculante, que deve ser mantido em locais frescos e aplicado uma dose contendo as cinco bactérias, misturada em cerca de 200 litros de água por hectare. “Os melhores resultados foram obtidos em solos de baixa fertilidade e utilizando cultivares adaptados a estas condições”, finaliza.
Informações
Embrapa Agrobiologia – www.cnpab.embrapa.br – Tel.: (21) 3441-1500