A rede Ascooper, formada pela Associação das Cooperativas e Associações de Produtores Rurais do Oeste de Santa Catarina, Cooperativa Central da Agricultura Familiar, obteve junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), o primeiro registro de inspeção federal de industrialização de leite produzido organicamente em sistema cooperativado e com certificação participativa da Rede Ecovida. O lançamento o leite orgânico Ecolact ocorreu durante a Mercoláctea 2012, realizada em Chapecó-SC, em novembro de 2012.
O sistema de produção orgânica de leite, segundo o coordenador do Núcleo Noroeste Catarinense de Agroecologia, Eliandro Comin, envolve 23 famílias, que deverão produzir 90 mil litros do produto por mês. Com qualidade nutricional garantida, livre de resíduos de agrotóxicos, sustentável, economicamente viável e ambientalmente correto, o leite orgânico certificado contou com o suporte do Sebrae/SC, por meio do Arranjo Produtivo Local (APL) de Leite e Derivados do Oeste Catarinense.
“O trabalho do Sebrae teve foco para a elaboração de Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE) para indústria e para a fábrica de rações, além de diagnósticos e consultorias de preparação, cadastro para cumprimento dos requisitos de certificação dos produtores e orientações técnicas”, destaca o coordenador regional oeste do Sebrae/SC, Enio Albérto Parmeggiani.
Mercado
Os produtores de leite orgânico recebem, em média, um valor 30% superior à média da região pelo litro do produto. Pelo volume produzido, a comercialização deverá ficar restrita à região, no máximo, chegando à capital, Florianópolis. Mas a ideia é direcionar grande parte para a merenda escolar, a fim de oferecer às crianças um produto de melhor qualidade. Os municípios de São Domingos e Abelardo Luz deverão ser os primeiros a incluir o leite orgânico na merenda escolar.
Produção do leite orgânico
Para produção do leite orgânico, os animais são manejados em piquetes, onde recebem pasto, água, minerais e sombra, que proporcionam o bem-estar do rebanho.
A adubação das pastagens é feita com esterco dos próprios animais e a sanidade é realizada de modo preventivo com homeopatia, fitoterapia. Em caso de enfermidades, são utilizados procedimentos permitidos pela legislação de produção orgânica.
A água, o solo e toda a biodiversidade animal/vegetal são protegidos para o equilíbrio no ambiente produtivo. Como o Estado de Santa Catarina é dispensado de vacinações, sequer vacinas são aplicadas, mas, mesmo que fossem necessárias – e a legislação permite –, não afetariam a qualidade do leite.
Pastoreio Voisin
Foi com o sistema de pastoreio Voisin que produtores de Novo Horizonte, associados à Cooperal, e de Formosa do Sul, associados à Coopleforsul, identificaram, na produção de leite, características muito próximas ao sistema orgânico, o que motivou a formação do grupo de agricultores “Leite Orgânico” para atender às normas de certificação participativa da Rede Ecovida, além da legislação de orgânicos vigente. A Cooperativa de Crédito Cresol, vinculada aos municípios de abrangência do projeto, asseguraram o apoio financeiro para os serviços de assistência técnica e o Sebrae elaborou os Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica.
O sistema Voisin de pastoreio exige conhecimento do agricultor, pois parte do princípio que os animais devem ser manejados para áreas nas quais as pastagens estejam no ponto ideal. “Não segue um esquema pré-determinado de rotação de piquetes, por isso, o produtor precisa conhecer muito bem os animais e os aspectos vegetais da forragem”, alerta Eliandro Comin. Caso seja necessária a suplementação alimentar, comum no período de seca, as Instruções Normativas para produção orgânica animal permitem o uso de até 20% de matéria seca por dia, desde que obtida de material (soja, milho, cana-de-açúcar) não trangênico.
A implantação de inúmeras propriedades familiares, com produção de leite pelo sistema Voisin foi viabilizada por meio de uma parceria entre Rede Ascooper, Núcleo Pastoreio Racional Voisin (UFSC), LETA (UFSC), EPAGRI, CESAP, Secretaria de Agricultura, Sebrae/SC, Instituto Saga, MAPA, MDA, Rede Ecovida de Certificação Participativa, Cooperoeste Terra Viva, Ideia em Ação, Milk Suck, e prefeituras da região oeste catarinense. A industrialização será feita pela Coopleiti que prestará serviço para a Ascooper. Para permanecer no mercado, foi sentida a necessidade de trocar a produção em escala para uma produção diferenciada e de grande importância para a saúde do consumidor, tornando o produto valorizado e competitivo.