O programa de adubação de um pomar de tangerinas, além de proporcionar um retorno econômico com o aumento da produção, deve também melhorar a qualidade dos frutos produzidos
As plantas de tangerinas, como qualquer outra, necessitam de uma série de elementos para viver. Três deles, carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O) constituem a maior proporção da planta e são fornecidos pelo ar (CO2) e pela água (H2O). A produção, a qualidade e, até certo ponto, a resistência a condições adversas de clima (seca, frio, ventos constantes) ou a pragas e doenças dependem ainda de outros elementos que o solo, ou na sua falta, o adubo, devem fornecer.
Dentre esses elementos minerais presentes nas plantas, os que são indispensáveis para o seu correto desenvolvimento e reprodução recebem o nome de essenciais. Estes, sob o ponto de vista quantitativo, se dividem em macronutrientes, que são requeridos em maior quantidade, e os micronutrientes, que são os que a planta necessita em menores quantidades.
A adubação é importante para o cultivo da tangerina porque os solos, às vezes, não contêm quantidades suficientes de nutrientes disponíveis para produção econômica durante a vida útil do pomar. A adubação é essencial não apenas para a manutenção de altas produções mas também para a qualidade dos frutos. O tipo de solo, os teores dos nutrientes no solo e na planta, o vigor das plantas, a produção e o sistema de manejo são fatores essenciais a serem considerados na adubação do pomar.
A adubação insuficiente restringe o vigor, a produção e a qualidade dos frutos. A adubação em excesso, além do aumento nos custos, causa efeitos adversos na qualidade dos frutos e problemas químicos no solo de difícil correção. O princípio é, portanto, a realização de adubação racional ou, em outras palavras, o uso de doses adequadas de fertilizante para a máxima produção e boa qualidade dos frutos.
Desta forma, o programa de adubação adotado em um pomar de tangerinas deve não somente proporcionar um retorno econômico com o aumento da produção, mas também atender a objetivos específicos na melhoria da qualidade dos frutos produzidos.
Objetivos da adubação
O objetivo da adubação é aumentar a fertilidade do solo, proporcionando um aumento do rendimento das colheitas. Para isto, o uso de fertilizantes deve cumprir as funções de suprir os nutrientes que faltam no solo e também de restituir os elementos minerais extraídos pelas plantas.
Quando um nutriente da planta está em estado deficitário, através de seu suprimento, é possível se reverter este quadro, conseguindo-se aumentos na produção que compensam o custo da adubação. Entretanto, a partir de determinadas doses desse elemento, o incremento na colheita é decrescente, alcançando-se um nível crítico, em que doses superiores deixam de compensar a melhoria no rendimento da colheita.
Portanto, se há uma deficiência nutricional, as plantas reduzem sua produção e, em muitos casos, o tamanho do fruto. O excesso de fertilizantes ocasiona uma série de conseqüências adversas, dentre as quais destacam-se as seguintes:
– perda de qualidade dos frutos;
– consumo de luxo de alguns nutrientes com a conseqüente diminuição da rentabilidade da cultura;
– desequilíbrios nutricionais;
– alterações das características físicas e químicas do solo; e
– contaminação do meio ambiente.
DETERMINAÇÃO DE CALAGEM E ADUBAÇÃO
Análise de solo
A análise do solo é essencial para a avaliação correta das necessidades de corretivos e fertilizantes.
É a primeira e principal etapa de um programa de avaliação da fertilidade, pois é com base na análise que são definidas as doses de corretivos e de fertilizantes.
É importante salientar que a maior fonte de erro na análise do solo está na amostragem que, se realizada de forma inadequada, pode conduzir a resultados incorretos.
Época de amostragem
A coleta de amostras pode ser feita sessenta dias após a última adubação ou logo após a colheita.
Seleção da área de amostragem
Para que a amostra do solo seja representativa, cada talhão a ser amostrado deve ser o mais homogêneo possível.
Assim, a propriedade deverá ser subdividida em glebas ou talhões homogêneos (Figura 1).
Os talhões amostrados deverão ser enumerados e anotados nas amostras a serem enviadas ao laboratório.
Nesta subdivisão, ou estratificação, leva-se em conta a vegetação, a posição topográfica (topo de morro, meia encosta, baixada), as características perceptíveis do solo (cor, textura, condição de drenagem), as características da planta (variedade, combinação copa/porta-enxerto, idade da planta, produtividade).
Como retirar amostras de solos para análises
A quantidade de solo necessária para uma amostra é de aproximadamente 300 gramas.
Para a amostragem de solo são necessários os seguintes materiais: trado ou pá reta ou enxadão, balde plástico e saco plástico (Figura 2). Dos trados utilizados, os tipos mais comuns são o holandês, de rosca e tubo (sonda).
Em pomares já instalados as amostras de solo devem ser coletadas na projeção da copa das árvores – local de adubação – tomando-se cerca de 20 subamostras em cada área homogênea do plantio, as quais comporão uma amostra. As amostras devem ser retiradas decorridos, no mínimo, sessenta dias da última adubação na profundidade de 0 a 20 cm quando a amostragem tiver como objetivo a recomendação de adubação e, na profundidade de 20 a 40 cm quando o objetivo for identificar limitações químicas ao desenvolvimento radicular, como deficiência de cálcio e presença de alumínio nas camadas subsuperficiais. Para fins de calagem, a amostragem deverá ser efetuada também nas entrelinhas, na profundidade de 0 a 20 cm.
Na coleta das subamostras, a área de cada talhão deve ser percorrida em ziguezague, buscando cobrir toda a superfície da área. As amostras assim coletadas servirão tanto à recomendação da calagem como da adubação.
Análise foliar
A análise foliar é considerada como uma referência indispensável para possíveis desequilíbrios de nutrientes. O teor de nutrientes nas folhas depende de diversos fatores tais como a idade, tipo e posição da folha que se amostra, a combinação copa/porta-enxerto, a disponibilidade de nutrientes no solo, a produção, o estado fitossanitário.
Entretanto, o diagnóstico nutricional definitivo deve ter-se em conta as possíveis interferências ocasionadas pelo estado produtivo da planta.
Época de amostragem
O período ótimo de amostragem está compreendido entre fevereiro e março, quando as folhas da brotação de primavera tenham alcançado idade de 7 a 9 meses. Deve-se aguardar um período mínimo de 15 a 20 dias após a última adubação.
Seleção da área de amostragem
As amostras de folhas da tangerineira podem ser coletadas em ramos com e sem frutos. Sugere-se a coleta em ramos com frutos, pois é mais fácil identificar a folha a ser coletada (Figura 3). As folhas devem ser coletadas na altura média da planta, cerca de 1,6 a 1,8 m, 1 (uma) folha em cada quadrante (norte, sul, leste e oeste). Os frutos dos ramos de onde serão coletadas as folhas devem ter em torno de 4 cm de diâmetro; a folha a ser coletada deve ser a terceira a partir do fruto e não deve estar danificada. O pomar deve ser homogêneo (separar por talhões, considerar a divisão feita quando da coleta de amostra de solo), quanto à idade, desenvolvimento das plantas e variedades de copa e porta enxerto, amostrando 25 plantas em média. As folhas coletadas devem ser acondicionadas em sacos de papel e enviadas imediatamente ou armazenadas por no máximo dois dias em refrigerador, antes do envio ao laboratório.
Adubação
O programa de adubação de um pomar de tangerineiras deve estar baseado na análise do solo e análise foliar, feitas periodicamente, conforme descrito anteriormente.
Adubação de plantio
Essa adubação deve ser realizada em covas, pois essa é a melhor oportunidade de colocar, em profundidade, nutrientes pouco móveis no solo, como cálcio, fósforo e zinco.
Antes do plantio das mudas, aplicar calcário, fósforo e micronutrientes, cujas doses dependem do resultado da análise do solo, o nitrogênio e o potássio devem ser aplicados em cobertura, após o pegamento das mudas. No caso de aplicação de uma fonte orgânica na cova de plantio, caso ela não esteja bem curtida, deve-se aguardar, no mínimo, trinta dias para o plantio, pois a mineralização da matéria orgânica pode prejudicar a muda.
Adubação de formação
A adubação do pomar deve ser feita de acordo com a idade da planta, e em função da análise do solo, iniciando-se no primeiro ano após o plantio e estendendo-se até o quinto ano de idade. Nesse período, as doses dos nutrientes são estabelecidas para suprir as necessidades de crescimento e formação das plantas.
Para uma maior eficiência da adubação deve-se considerar a localização dos fertilizantes em relação ao sistema radicular da planta, pois as raízes absorventes acompanham o desenvolvimento da copa, Tabela 1.
Tabela 1: Localização dos fertilizantes de acordo com a idade e o desenvolvimento das plantas
Anos após o plantio | Localização dos fertilizantes
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1º | Ao redor da muda, entre dois círculos com 20 e 50 cm de raio; |
2º | Ao redor da planta, entre dois círculos com 30 e 100 cm de raio; |
3º | Ao redor da planta, entre dois círculos com 50 e 150 cm de raio; |
4º e 5º | Em faixas, com largura igual ao raio da copa, nos dois lados da linha de plantas, distribuindo 2/3 da quantidade de adubo debaixo da copa e 1/3 fora; |
6º em diante | Em faixas, com largura igual ao raio da copa, nos dois lados da linha de plantas, ou em toda área entre as linhas de plantas, distribuindo 50% da quantidade de adubo debaixo da copa e o restante fora. |
Fonte: Koller, 2009.
Adubação de produção
A partir do quinto ano de idade, as recomendações de adubação são voltadas para produção e qualidade dos frutos. Na adubação de produção, consideram-se os teores dos nutrientes no solo e nas folhas (análise de solo e foliar) e a produção esperada por área. Esta representa a expectativa de produção da próxima safra, baseada no histórico e na produtividade, e não na produção desejada, fora das potencialidades do talhão.
Do mesmo modo que na adubação de plantio e de formação, essas recomendações poderão ser atendidas com fertilizantes simples, formulados comerciais ou combinação de ambas.
Adubação com micronutrientes
Os micronutrientes mais demandados pelas plantas cítricas são o zinco (Zn), o manganês (Mn) e o boro (B).
Em pomares já instalados, deve-se fazer o acompanhamento com análise foliar, corrigindo as deficiências detectadas com adubação foliar (pulverização) ou aplicação no solo.
A aplicação dos micronutrientes boro, manganês e zinco nos citros devem ser feitas no solo e/ou via foliar. Normalmente o manganês e o zinco são aplicados via foliar (pulverização) e o boro via solo, onde tem evidenciado maior eficiência. Nas aplicações foliares a inclusão da uréia e cloreto de potássio funcionam como coadjuvantes na absorção dos micronutrientes. A época mais adequada para a adubação foliar é o período de vegetação das plantas, parcelando-se em 3 a 4 aplicações. Na fase de produção, a primeira aplicação ocorre na fase final do florescimento aproveitando o tratamento fitossanitário e a segunda no fluxo de vegetação de janeiro a fevereiro.
Em pomares com sintomas intensos de deficiência de B, aplicar no solo 2kg de B/ha, como ácido bórico, em duas aplicações anuais. De preferência, aplicar os micronutrientes após a floração de março/abril com o objetivo de evitar o desequilíbrio populacional do ácaro da ferrugem dos citros.