Produzida na Chapada da Diamantina, a Cachaça artesanal de Abaíra é, hoje, um dos destaques da produção agrícola e do turismo da região, que, ao longo dos anos, testemunhou relevantes momentos da história do Brasil, como o ciclo do ouro e a era do coronelismo
A qualidade e a tradição da Cachaça de Abaíra já são antigas conhecidas de quem aprecia a aguardente brasileira. Acredita-se que sua produção teve início no século XIX. Mas somente a partir de 2014, as características tão peculiares do produto passaram a ser atestadas como exclusivas da região da Chapada Diamantina, na Bahia, por meio do registro de Indicação Geográfica (IG), concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Sendo, assim, a primeira IG entregue a um produto baiano.
O reconhecimento coroou o trabalho da Cooperativa dos Produtores de Cana e seus Derivados da Microrregião de Abaíra (Coopama) e da Associação dos Produtores de Aguardente de Qualidade da Microrregião de Abaíra (Apama), que iniciaram, em 1998, um processo de fortalecimento da marca.
“Contamos com vários órgãos de apoio, dentre eles o Sebrae, que implantou uma estratégia de ação e nos permitiu trabalhar com gestão e resultados. Foi possível contratar consultorias e capacitações para que cada produtor tivesse a dimensão das responsabilidades e pudesse entender que o selo é uma garantia de qualidade, procedência e visibilidade”, explica o presidente da Apama, Evaristo Carneiro.
A Chapada da Diamantina
A região montanhosa da Chapada da Diamantina testemunhou relevantes momentos da história do Brasil, como o ciclo do garimpo e a era do coronelismo. Atualmente, a economia regional é baseada no turismo e na agricultura.
Os primeiros habitantes da Chapada da Diamantina foram os índios. No século XVII, chegaram os negros e os portugueses, sendo gradativamente povoada por comunidades quilombolas e grandes fazendas. Não tardou para a descoberta do ouro e do diamante, dando início ao ciclo do garimpo, que perdurou por quase cem anos.
No início do século XX, o ciclo do garimpo entrou em decadência e se iniciou a era dos coronéis. A principal figura desta época foi a do coronel Horácio de Mattos, com memoráveis participações históricas, incluindo a ligação com Lampião e a perseguição à Coluna Prestes.
A história da produção da cachaça
A história da produção da cachaça de alambique confunde-se com a história da região, ao longo de mais de 450 anos. No entanto, não há um consenso sobre o início da produção de cachaça: se foi por iniciativa dos escravos ou dos senhores de engenho.
Em uma das versões, conta- se que o Senhor José Joaquim de Azevedo, no século XIX, recebeu de herança uma fazenda conhecida como “Capoeira de Cana”, onde se produzia muita cana-de-açúcar. Ele, então, abriu um comércio na sua propriedade para vender alimentos aos mineradores que se deslocavam entres as cidades da região. Foi quando passou a produzir a cachaça artesanal. Logo, o consumo da bebida se tornaria um hábito, aos domingos, dos moradores da cidade.
Dando um salto para a década de 1980, foi só neste momento que os pequenos produtores de cachaça, interessados na melhoria da bebida e de seu modo de beneficiamento – que era o mesmo desde os tempos coloniais-, iniciaram um trabalho de incremento da qualidade. Hoje, a aguardente produzida na Microrregião de Abaíra está entre as melhores do Brasil.
Atualmente, a Coopama conta com 144 associados, sendo 95% deles agricultores familiares. Para 2020, espera-se que o mercado se amplie. “A expectativa é o aumento das vendas, com a busca de novos mercados internos e externos. Também lançaremos a Cachaça Abaíra 12 anos, envelhecida em barris de carvalho”, relata com entusiasmo Rafael Moreira, engenheiro agrônomo da cooperativa.
Características únicas
A cachaça da Microrregião de Abaíra diferencia-se pelo saber fazer dos produtores, que resulta em um produto de qualidade superior. Apresenta uma graduação alcoólica levemente menor e características sensoriais peculiares, associadas à sua origem e ao controle rigoroso de sua produção, que é feito por meio de avaliação físico-química.
A levedura mais usada na produção é natural da região, a Saccharomyces cerevisiae, o que garante um produto de qualidade e melhor rentabilidade.
Na destilação, as porções denominadas cauda e cabeça são descartadas, e somente a porção coração (que é a verdadeira cachaça de qualidade) pode ser armazenada, envasada e rotulada com a Indicação de Procedência (IP) Microrregião de Abaíra.
A região fica a aproximadamente 600 quilômetros de Salvador e se caracteriza, basicamente, por uma estação muito seca, dos meses de abril a outubro, e outra estação muito chuvosa, entre novembro e março. A área abrange parte dos municípios de Abaíra, Jussiape, Mucugê e Piatã.
Fonte: Sebrae
Procedência
Indicação de Procedência, 2014
Registro: BR402012000001-2
Delimitação: A Indicação de Procedência Microrregião de Abaíra, está localizada na região da Chapada Diamantina, estado da Bahia, abrangendo parte dos municípios da Abaíra, Jussiape, Mucugê e Piatã, totalizando uma área de 272.914,6971ha