Também conhecido como cúrcuma, o açafrão-da-terra é um condimento usado tanto na gastronomia quanto na indústria farmacêutica. O “Ouro do Cerrado Goiano”, típico da região de Mara Rosa, em Goiás, recebeu a certificação de IG em fevereiro de 2016
O município de Mara Rosa, a cerca de 300 quilômetros de Goiânia, capital de Goiás, foi o primeiro do Estado a obter a Indicação Geográfica (IG), no início de 2016, para um produto típico daquela região: o açafrão.
Com o apoio da Superintendência Federal de Agricultura de Goiás (SFA/GO), a Cooperativa dos Produtores de Açafrão de Mara Rosa (Cooperaçafrão) obteve o registro de IG, na modalidade de Indicação de Procedência (IP), para o açafrão do tipo Cúrcuma Longa.
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o açafrão goiano é o primeiro do País a conseguir o selo, que é conferido a produtos ou serviços característicos do seu local de origem, atribuindo valor intrínseco, identidade própria, renome e tornando-os mais competitivos no mercado.
“A expectativa é que o selo venha a agregar valor ao nosso açafrão”, disse o então presidente da Cooperaçafrão, Arlindo Simão Vaz, ao se referir ao registro concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), há mais de três anos.
Dez anos de trabalho
O desafio, após a certificação, vem sendo fechar parcerias para formar uma rede de distribuição capaz de levar o produto a supermercados e outros estabelecimentos comerciais.
A IG para o açafrão – planta usada como condimento tanto na gastronomia quanto na indústria farmacêutica – é fruto de dez anos de trabalho entre o Mapa, Cooperaçafrão, Empresa de Assistência Técnica Rural (Emater-GO), Universidade Federal de Goiás (UFG), Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e do governo de Goiás.
A espécie
O açafrão da região de Mara Rosa pertence à espécie Cúrcuma Longa (ou açafrão-da-terra), originária da Ásia. Sua produção é usada na indústria de alimentos como temperos, mostarda, condimentos, massas, molhos, margarinas, entre outros.
Também conhecida como turmérico, raiz-de-sol, açafrão-da-índia, açafroa e gengibre amarelo, a Cúrcuma Longa é uma planta herbácea da família do gengibre (Zingiberaceae), originária da Índia e Indonésia.
De acordo com informações técnicas do Sebrae, o produto ainda possui substâncias antioxidantes, antimicrobianas e corantes com aplicabilidade nas indústrias cosméticas, têxtil e farmacológica.
Sua raiz tem sido utilizada há mais de quatro mil anos no Oriente Médio e na Ásia, tanto na medicina ayurvedica como na medicina tradicional chinesa, por ser um potente fitoterápico.
A produção
A produção anual da raiz é de aproximadamente cinco mil toneladas, em cerca de 250 hectares de área plantada. Segundo a Cooperaçafrão, estima-se que 200 agricultores – mais ou menos 300 famílias – vivam da cultura, atualmente, sendo gerados por volta de 800 empregos diretos.
A região também é responsável por quase 90% da produção goiana, representando 26% da produção nacional de açafrão.
‘Capital do Açafrão’
Criada em 2003, a Cooperativa dos Produtores de Açafrão de Mara Rosa possibilitou a articulação e a organização dos produtores, com o objetivo social de congregar os agricultores na sua área de ação, no interesse é na defesa econômica em benefício deles.
Conforme o Sebrae, o desenvolvimento do Arranjo Produtivo Local (APL) do açafrão, com o intuito de alavancar o trabalho nessa região de Goiás, de forma econômica e viável, socialmente justa e ambientalmente correta, demonstra a consolidação e o potencial de Mara Rosa, a “Capital do Açafrão”.
Uma vez reconhecida, a Indicação Geográfica do açafrão só pode ser utilizada pelos produtores daquela localidade delimitada, seguindo as normas estabelecidas no regulamento de uso (normas técnicas de produção/beneficiamento).
De modo geral, o produto que possui o selo de IG – que é dividido nas categorias Indicação de Procedência (IP) e Denominação de Origem (D.O.) – passa a ter um fator diferenciado entre os demais disponíveis no mercado, tornando-o mais competitivo e confiável.
Um pouco de história
Falando um pouco da história do açafrão no Brasil, lá no início do século 16, relatos divulgados pelo Sebrae indicam que os bandeirantes usavam esse condimento para demarcar as trilhas das minas e temperar os alimentos. Foi assim que eles chegaram a Goiás, mais especificamente a Mara Rosa, trazendo as primeiras sementes e mudas da especiaria, que foi incorporada à vegetação nativa. Hoje, o açafrão de Mara Rosa é chamado de “Ouro do Cerrado Goiano”.
Desde sua colonização no século 18, as cidades de Mara Rosa, Amaralina, Formoso e Estrela do Norte são conhecidas como o “Sertão do Amaro Leite”, em alusão ao nome de um dos seus desbravadores, que adentrou as terras goianas em busca do “eldorado”.
Conforme o Sebrae descreve, nas origens dessa ocupação em Goiás, a atividade preponderante era a mineração e, paralelamente, era desenvolvida uma agricultura de subsistência. Naquela época, os garimpeiros e os escravos introduziram o açafrão e o cúrcuma, sendo que o primeiro servia para marcar as lavras e o segundo, como tempero.
A planta adaptou-se muito bem ao solo e ao clima, tal como a nativa, nas margens dos córregos e rios da região de Mara Rosa.
Primeiras plantações
De acordo com o Sebrae, no final do século 19, com a exaustão das minas, os arraiais goianos dedicavam-se à exploração agropecuária. No entanto, com as populações mais reduzidas, ladrões de gado e resistência dos índios, a região acabou se esvaziando.
No ano de 1948, com a construção da estrada transbrasiliana, rompeu-se o isolamento e as terras foram ocupadas. Por volta da década de 60, surgiram as primeiras plantações comerciais de açafrão.
Por meio da interligação rodoviária, novas demandas pelo produto despertaram o interesse das indústrias alimentícias. Foi aí que Mara Rosa ganhou fama, como a “Capital do Açafrão”.
Território
A área delimitada da produção dessa especiaria de Mara Rosa também inclui outras cidades da região Norte de Goiás: Estrela do Norte, Amaralina e Formoso. Todas elas fazem parte da microrregião de Porangatu, sendo cortadas no sentido Norte-Sul pela rodovia Belém-Brasília (BR-153) e intermediada por duas bacias hidrográficas – o Rio Araguaia e Rio Tocantins.
Segundo descreve o Sebrae, a localidade possui as condições ideais para o cultivo do açafrão por ter um clima tropical úmido, apresentando duas estações bem definidas: uma chuvosa, entre meados de outubro e meados de abril – o que permite o bom desenvolvimento da planta –; e outra seca, que vai do final de abril a final de outubro, permitindo uma boa secagem do produto a temperaturas que variam de 20°C a 35°C.
A tradição da exploração da cultura do açafrão é favorecida pela disponibilidade da mão de obra na época da colheita, entre os meses de maio e novembro, na entressafra de outras culturas agrícolas.
Contato:
Cooperativa dos Produtores de Açafrão de Mara Rosa – Cooperaçafrão
Endereço: Avenida Joaquim Gonçalves – Cidade: Mara Rosa – CEP: 57070-440
Telefone: 62 3366-2045 – E-mail: cooperacafrao@gmail.com
Fontes: Sebrae, Ministério da Agricultura
Procedência
Número: BR402013000006-6
Indicação Geográfica: Mara Rosa, Goiás
Requerente: Cooperativa de Produtores de Açafrão de Mara Rosa (Cooperaçafrão)
Produto: açafrão
Data do registro: 2 de fevereiro de 2016
Delimitação: a área geográfica abrange os municípios de Mara Rosa, Amaralina, Formoso e Estrela do Norte, com um perímetro de aproximadamente 4.250 quilômetros quadrados.