Pesquisadores brasileiros pretendem criar um sistema de sensoriamento e controle baseado em IoT, para gerir o uso da água em quatro projetos-piloto
Novidades na área de sistemas de irrigação no meio rural, de forma mais acessível para o produtor e sustentável para o meio ambiente, são sempre bem vindas, principalmente porque o Brasil continua sob a ameaça constante de crises hídricas. Agora, esse importante setor para a produção agrícola nacional deve ganhar mais um parceiro: a Internet das Coisas (IoT, sigla em inglês para Internet of Things).
Para quem ainda não está familiarizado com o termo, trata-se de uma revolução tecnológica que visa à conexão de dispositivos eletrônicos usados no cotidiano das pessoas – como aparelhos eletrodomésticos, eletroportáteis, máquinas industriais, meios de transporte etc. – ao mundo virtual.
Seu desenvolvimento depende da inovação técnica dinâmica em campos fundamentais, como os sensores wireless, a inteligência artificial e a nanotecnologia.
Com o intuito de oferecer novas soluções tecnológicas em campo, pesquisadores brasileiros vão desenvolver métodos baseados em IoT para gerenciamento inteligente de água em irrigação de precisão.
A criação de uma plataforma inteligente de gerenciamento de água é o objetivo do projeto Smart Water Management Platform (Swamp), aprovado na 4ª Chamada Coordenada Brasil-União Europeia em Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).
Programa H 2020
Contemplada com recursos de 1,5 milhão de euros (em torno de R$ 5,5 milhões), o projeto concorreu com outras 50 submetidas por mais de 300 instituições ao Programa Horizonte 2020 (H 2020).
Trata-se do maior programa de pesquisa e inovação criado pela União Europeia (UE), com cerca de 80 bilhões de euros de financiamento para ser executado no período de 2014 a 2020. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o objetivo da chamada é fortalecer a sinergia entre as competências existentes nas comunidades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) do Brasil e da UE, com destaque para instituições com forte envolvimento com indústrias.
Entre os objetivos do projeto brasileiro está a implementação de um sistema de sensoriamento e controle baseado em IoT, para gerir o uso da água em quatro projetos-piloto: dois nas regiões sudeste e nordeste do brasil, e outros dois na Europa.
O foco desse trabalho será desenvolver e avaliar uma plataforma inteligente de Irrigação à Taxa Variada (VRI), destinada a pivôs centrais e irrigação localizada, inicialmente na produção de soja e vinicultura, respectivamente.
Uso racional da água
De acordo com a Embrapa, a plataforma será integrada com ferramentas e aplicativos de gestão voltados para o uso racional da água.
A proposta é fornecer ao agricultor um mapa diário de recomendação dinâmico, de acordo com um conjunto de informações em tempo real do clima, solo, condições de cultivo, além dos níveis e qualidade dos sistemas de fornecimento e da distribuição de água no campo, todos obtidos pela plataforma.
O Swamp é liderado pelo professor Carlos Alberto Kamienski, da Universidade Federal do ABC (UFABC), com a participação de 11 instituições, tais como Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana Padre Saboia de Medeiros (FEI), Embrapa, Universidade de Bologna (Itália), Intercrop (Espanha), e VTT Technical Research Centre (Finlândia).
Os pesquisadores Marcos Cezar Visoli (Embrapa Informática Agropecuária – SP), André Torre Neto, Ednaldo José Ferreira e Luis Henrique Bassoi (os três da unidade da estatal de Instrumentação – SP) também integram essa equipe.
Oportunidade
“Será uma excelente oportunidade para avançar no desenvolvimento e uso de plataformas baseadas em nuvem para armazenamento e oferta de serviços”, diz Visoli.
Para Torre Neto, “participar do H 2020 possibilita ampliar a inserção da ciência brasileira no contexto internacional e, ao mesmo tempo, contribuir com o desenvolvimento do País, levando tecnologia de ponta para beneficiar a agricultura”.
Chefe-geral da Embrapa Instrumentação, João de Mendonça Naime diz que a aprovação do projeto de pesquisadores brasileiros, em parceria com a UE, evidencia a importância do tema e a excelência os profissionais daqui.
“Os cientistas da Embrapa contribuirão com suas competências em fisiologia vegetal, tecnologias de irrigação e tratamento de grandes volumes de dados (Big Data). Trata-se de um investimento altamente estratégico para o brasil, porque é urgente resolvermos a complexa equação de alta demanda por produção de alimentos em função da crescente escassez de água”, avalia Naime.
Seleção para financiamento
A chamada conjunta da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) com a União Europeia, supervisionada pela secretaria de Política de Informática do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI), selecionou seis projetos para financiamento na área de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).
De acordo com a Embrapa, a UE é responsável pelo financiamento da metade dos recursos, enquanto a outra é procedente da Lei de Informática.
Coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento da RNP, Wanderson Paim destaca que a quarta chamada exigiu muito dos participantes, devido ao caráter multidisciplinar das instituições inscritas, elevando o nível dos projetos.
“A participação da Embrapa, com toda a expertise que possui, é importantíssima para obter o resultado esperado dos projetos”, diz Paim. “É uma excelente notícia, especialmente em tempo de contingenciamento de recursos”, acrescenta Silvia Massruhá, chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária.
Outras áreas tecnológicas
Das 51 propostas submetidas, três aprovadas são na categoria Internet das Coisas, duas em Computação em Nuvem, e uma em Redes 5G. Cada projeto participante foi revisado por quatro avaliadores, sendo dois brasileiros e dois europeus.
Após a avaliação individual, todos se reuniram em Brasília (DF), sob a supervisão da Comissão Europeia, representantes da RNP e do MCTI para chegar a um consenso quanto aos projetos aprovados, informa a Embrapa. Somente a categoria Internet das Coisas recebeu 34 propostas.
Os projetos aprovados reúnem 68 instituições, 39 brasileiras e 29 europeias, sendo 38 universidades, 18 empresas e 12 centros de pesquisa. Entre as instituições nacionais estão 24 universidades, oito centros de pesquisa, cinco empresas privadas de grande porte e duas pequenas e médias empresas.
Na área de Computação em Nuvem, foram 84 instituições proponentes, 24 em redes 5G e 202 em Internet das Coisas, somando 310 participações e 968 candidaturas de pesquisadores.
Recursos
Plataforma inteligente de gerenciamento de água, a Smart Water Management Platform (Swamp) tem prazo de execução de três anos, com início em dezembro de 2017. Contempla recursos em torno de R$ 5,5 milhões, que serão destinados às instituições brasileiras.
À Embrapa será disponibilizado R$ 1,2 milhão (24% do total), além de outro aporte, superior a R$ 1 milhão, que envolve equipamentos e serviços que serão compartilhados.
A estatal brasileira ainda ficará responsável por coordenar a implementação e a avaliação das duas unidades-piloto contempladas pelo projeto.
Adicionalmente, também colaborará nas pesquisas para superar, conjuntamente, com os pesquisadores brasileiros e europeus, os desafios da instrumentação e da construção da plataforma computacional para coleta, integração, armazenamento, processamento e visualização de dados oriundos dos experimentos.
Matopiba
Uma unidade piloto de irrigação inteligente deverá ser instalada na região do Matopiba (composta por alguns municípios do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), vista como a grande fronteira agrícola nacional, que compreende o bioma Cerrado. Essa localidade responde, hoje, por grande parte da produção brasileira de grãos e fibras.
Outro experimento, que contemplará pesquisas em vinicultura (fabricação de vinhos), está programado para ser instalado na Vinícola Guaspari, no município de Espírito Santo do Pinhal (SP).
Fontes: Embrapa Instrumentação e Informática Agropecuária