Com ótimo potencial econômico e alto valor nutricional, esta frutinha ainda pouco cultivada no Brasil, é fonte de vitaminas A e C, além de ser rica em fósforo, ferro, carotenoides e flavonoides. Também conhecida como “cereja dos doces”, ela pode ganhar mais espaços de cultivos em regiões do Cerrado brasileiro
Hortaliça fruto da família das Solanáceas, da qual fazem parte o tomate, a berinjela e o pimentão, a physalis tem alto valor agregado e nutracêutico. É conhecida também como a “cereja dos doces” por ser bastante utilizada na ornamentação de doces finos, especialmente por causa de seu sabor levemente ácido, que combina bem com o chocolate. O tom alaranjado também é um “prato cheio” para dar aquele efeito visual nas guloseimas.
Suas folhas, chamadas de cálice ou capulho, funcionam harmoniosamente como embalagem natural, protegendo a delicadeza da casca, que é bastante fina.
Fonte de vitaminas A e C, além de ser rica em fósforo, ferro, carotenoides e flavonoides (estes últimos, poderosos aliados contra o envelhecimento), a physalis ainda é pouco cultivada no Brasil. A maior produtora e exportadora mundial desta frutinha é a Colômbia, com ocorrência também na África do Sul.
Em todo o mundo, são várias as espécies do gênero Physalis, mas algumas podem ser tóxicas. A fruta vendida in natura ou processada é do tipo Physalis peruviana L., que foi domesticada e hoje tem um grande potencial de mercado. No Brasil predomina a Physalis angulata, que é usada tradicionalmente na medicina popular e na alimentação, mas ainda é pouco explorada fora do cenário científico.
Benefícios à saúde
Economista e doutoranda em Produção Vegetal do Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina (CAV-Udesc), Janaína Muniz explica que a planta de physalis contém inúmeras substâncias medicinais e a fruta é extremamente saborosa e saudável, graças às inúmeras características nutracêuticas (fruto nutritivo que se alega ter valor terapêutico).
“Há vários relatos de pessoas com colesterol e diabetes em níveis altos que reduziram as taxas de açúcar no sangue, dentre outros ganhos para a saúde humana”, defende Janaína.
“Acredito que todas as famílias com disponibilidade de espaço poderiam ter em seu quintal, pelo menos, uma planta de Physalis peruviana e consumir o fruto diariamente, já que seu cultivo é simples, rápido e a planta de adapta bem a diversas condições de clima e solo.”
Pesquisas no Cerrado
Atentos ao poder desta frutinha, cientistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estão avaliando a possibilidade de cultivá-la no bioma Cerrado, nas condições do clima do Brasil Central. Este cultivo deverá ser feito por meio do projeto “Avaliação agronômica, caracterização nutricional e estudo da vida útil de hortaliças não convencionais”.
O trabalho começou em agosto de 2014 e está previsto para terminar em janeiro do ano que vem. Até agora, os resultados têm se mostrado promissores, com boa produção e qualidade desta pequena fruta, mesmo em condições climáticas adversas.
O projeto da Embrapa Hortaliças (DF) pretende tornar acessíveis informações sobre estas espécies, com o objetivo de fomentar a produção, o consumo e a comercialização da physalis no Brasil. Além dela, outras hortaliças não convencionais analisadas são: almeirão-de-árvore, amaranto, azedinha, beldroega, bertalha, capuchinha, cará-do-ar, caruru, chuchu-de-vento, jambu, major-gomes, mangarito, muricato, ora-pro-nobis, peixinho, serralha, taioba e vinagreira.
“A proposta é estabelecer um sistema de produção para facilitar os tratos culturais e entender como a planta deve ser conduzida no campo e, ao mesmo tempo, avaliar as características do fruto, que são essenciais para atender às demandas de mercado”, pontua o pesquisador Raphael Melo, da área de Fitotecnia da Embrapa Hortaliças.
Realizado em campo experimental de Brasília (DF), o teste com a physalis no bioma Cerrado foi feito em um sistema de transição, sem emprego de qualquer insumo químico. As plantas foram tutoradas com bambus e barbantes, para facilitar os tratos culturais e a colheita, diminuindo a necessidade de intensa mão de obra.
Diferencial
De acordo com a unidade da estatal, o grande diferencial foi conduzir as plantas em espaldeira, mantendo até uma altura de 80 centímetros sem vegetar, apenas com a utilização de duas ou três hastes. Desta maneira, elas ficaram menos suscetíveis às pragas, como lagartas, e obtiveram mais nutrientes disponibilizados para a copa, que teve franca produção.
“O desenvolvimento da planta ocorreu em um período de alta temperatura e baixa umidade relativa do ar, condições que não são favoráveis para a cultura. Por isto, acreditamos que a forma de condução favoreceu a produção”, explica o pesquisador Raphael Melo.
Ele acredita que as regiões de Cerrado sejam alternativas interessantes para a produção de physalis, na entressafra de locais tradicionais de plantio, como Lages, município da região serrana de Santa Catarina, que tem clima ameno e altitude elevada.
Características
A planta da physalis é considerada arbustiva e rústica, podendo chegar a dois metros de altura. As folhas são aveludadas e triangulares, enquanto o talo principal é herbáceo e piloso.
A fruta constitui-se em uma baga carnosa, em forma globosa, com diâmetro que oscila entre 1,25 e 2,5 centímetros e peso entre quatro e dez gramas. Cada planta produz de dois a quatro quilos de frutas por safra.
Potencial de mercado
Na Colômbia, maior produtora mundial de physalis, o sistema de produção apresenta elevado nível tecnológico para atender ao mercado externo. “Enquanto os colombianos focam na exportação para outros países, o Brasil pode viabilizar a produção para atender a este nicho do nosso mercado interno e evitar a dependência do produto estrangeiro”, salienta Melo.
O pesquisador pondera dizendo que, embora o calibre da fruta colombiana seja maior, a physalis cultivada em terras brasileiras apresenta maior teor de sólidos solúveis e, por este motivo, é mais adocicada.
Apesar dos resultados positivos dos testes iniciais em Brasília, de acordo com o cientista, ainda faltam ajustes e validações no manejo da cultura nas condições do Cerrado, tais como a nutrição mineral e o teor de matéria orgânica no solo, para alcançar o padrão dos frutos importados e assegurar ganhos ao agricultor.
“No geral, a physalis apresenta um grande potencial para cultivo na região do Brasil Central, principalmente em pequena escala, com foco na agricultura familiar”, conclui o pesquisador, que espera estabelecer bases para um futuro sistema de produção e, desta maneira, garantir mais segurança para os investimentos na cultura.
Apesar disto, são boas perspectivas para o mercado nacional e internacional, justificadas pelo alto conteúdo nutracêutico desta pequena fruta e pela possibilidade de incorporação da espécie nos cultivos orgânicos. Associa-se ainda o fato de a physalis pertencer ao grupo das frutas exóticas e de muito destaque, caracterizado pelo consumo por grupos de elite e pela distribuição em hotéis, restaurantes e mercados especializados.
Sementes
Janaína Muniz, economista e doutoranda em Produção Vegetal do Centro de Ciências Agroveterinárias da Udesc, orienta os produtores rurais a comprarem as sementes desta fruta de empresas idôneas, que comercializam as da espécie peruviana (Physalis peruviana L.), que tem elevado valor comercial no mercado. Ela alerta que, muitas vezes, este tipo pode ser confundido com outras espécies e vendida de forma errada.
“Quanto às sementes de frutos comprados em supermercados, elas também podem ser retiradas, lavadas e, posteriormente, semeadas, já que apresentam em torno de 85% de poder germinativo. No entanto, não é o recomendado em virtude da grande variabilidade genética”, avisa Janaína.
Solos
De acordo com a pesquisadora, no meio rural, a planta da physalis se adapta melhor, principalmente, a solos úmidos, bem drenados, ricos em matéria orgânica, pH em torno de 5,5 a 6,5 e textura leve (argilo-arenoso ou areno-argiloso). Devem ser evitados solos encharcados que, anteriormente, já tenham sido cultivadas outras Solanáceas, como tomate, batatinha, berinjela, pimentão, fumo, dentre outras.
“Nada impede o cultivo de physalis em vasos, desde que tenham um substrato leve e com nutrientes. Os vasos devem ser grandes, devido ao sistema radicular da planta ser fibroso, ramificado e profundo (em torno de 50 centímetros de comprimento)”, orienta.
Mesmo assim, Janaína reforça que o ideal é plantar em solo e não em vasos, até porque, no último caso, o crescimento é mais lento, resultando em plantas menores, produção e produtividades inferiores e, consequentemente, trazendo frutos de menor tamanho e baixa qualidade.
“Se a opção é plantar em vasos, eles devem ser grandes (de três a cinco litros), devido ao sistema radicular ser ramificado e a planta ser vigorosa (pode chegar até três metros de altura). Podem ser usados vasos plásticos, que já têm preço menor e facilidade de uso, porém, apresentam menos resistência ao sol e chuva, pois podem rachar mais rapidamente.”
Em cultivos comerciais (no campo), ela explica que o ideal é a irrigação por gotejamento. Ainda recomenda aplicações periódicas de irrigação, de dois a seis litros por planta ao dia. “Em cultivos caseiros, o ideal seria irrigar diariamente, principalmente logo após o plantio da muda e nos períodos mais quentes do ano.”
Compostagem
Segundo Janaína, a planta desta fruta é exigente em macro e micronutrientes: “Qualquer tipo de composto, que se tenha na propriedade húmus de minhoca, esterco de bovino, suínos e aves etc., pode ser misturado ao solo, desde que esteja bem curtido. Durante o ciclo da cultura, pode ser utilizada a compostagem orgânica de três a cinco vezes”.
Conforme a doutoranda em Produção Vegetal do CAV-Udesc, o valor de pH para a cultura é de 5,5 a 6,5 em qualquer tipo de cultivo, mas em quintais caseiros não precisa levar em conta este critério, por causa da dificuldade de se coletar, fazer e interpretar a análise da terra.
“O solo ácido (pH abaixo do valor recomendado para a cultura) pode ser corrigido com calcário. Quando o pH da terra estiver alcalino, pode ser empregado o gesso agrícola, mas isto seria apenas para os cultivos comerciais. Em quintais, pode ser colocado qualquer tipo de material orgânico bem curtido.”
Em plantios comerciais, aplicando algumas práticas agrícolas – como adubação, tutoramento, condução, poda e desbrota –, melhoram-se o dossel vegetativo da planta, a qualidade e aparência do fruto produzido. “Com manejo adequado e planejado, a planta pode permanecer em produção por até dois anos, na região Sul do Brasil. Mas a partir do segundo ano, existe uma redução tanto da produtividade quanto da qualidade dos frutos.”
Pragas e doenças
As pragas mais importantes que atacam a cultura da Physalis peruviana L., nas principais regiões produtoras da Colômbia, por exemplo, são aquelas que atingem o solo, as folhas e os frutos. “As principais pragas da terra são a Spodoptera sp., Agrotis sp., e Feltia sp“, cita Janaína.
As pragas que atacam as folhas são Liriomyza sp. (lagarta minadora da folha), Epitrix cucumeris (pulga da folha), Aphys sp., Myzus sp. (afídeos e pulgões), Frankliniella sp. (trips), e Trialeurodes vaporariorum (mosca branca da physalis). E as que agridem os frutos são Aculops sp. (ácaros) e Heliothis sp. (lagartas).
A maioria das espécies de pragas presentes no Brasil pertence à ordem Hemíptera e Lepidóptera. “As principais pragas encontradas até hoje, em alguns cultivos que eu observei, foram Epitrix (pulga do fumo) nas folhas após o transplante; Aphys (pulgão verde) nas brotações novas e frutos; e a Heliothis (lagarta da maçã) nos frutos”, relata a pesquisadora do CAV-Udesc.
Controle natural
De acordo com a especialista, atualmente, não existe ainda uma grade de inseticidas que possa ser empregada no cultivo de physalis no Brasil. “Portanto, os meios mais utilizados para o controle das pragas desta pequena fruta é o sistema de Manejo Integrado de Pragas (MIP), por meio de práticas culturais adequadas e do controle biológico natural.”
“São medidas de controle viáveis para o produtor, devido ao baixo custo, levando em consideração, especialmente, a segurança alimentar e ambiental. Na produção orgânica de pshysalis, por exemplo, tem-se utilizado muito o óleo de neem, que revelou-se um bom produto para diminuir o ataque, mas não combate todas as pragas”, alerta Janaína.
Clima
A planta da Physalis peruviana L. pode se desenvolver em uma extensa faixa de condições agroecológicas, sendo classificada como uma espécie muito tolerante a diversos tipos de clima e solo.
“Os requerimentos edafoclimáticos (clima e solo) de cultivo são muito semelhantes aos do tomateiro. Mas vale ressaltar que umidade, seca, frio e calor excessivos prejudicam o crescimento e o desenvolvimento destas plantas, prejudicando a qualidade final do produto (o próprio fruto) e diminuindo sua produtividade”, informa a pesquisadora.
A Physalis peruviana L. apresenta melhor crescimento e desenvolvimento em regiões com temperaturas entre 15 a 25°C, com diferenças térmicas noite/dia de 5 a 6ºC. “As baixas temperaturas (menores que 8°C) podem impedir que a planta cresça e se desenvolva naturalmente.”
A planta tolera geadas leves, mas quando no inverno ocorrem mudanças bruscas de temperatura (abaixo de 0°C),ela morre. “As temperaturas elevadas (maiores que 30°C), por sua vez, prejudicam a floração e a frutificação em cultivos comerciais.”