Primeiro foco deste inseto surgiu e foi confirmado no Estado de São Paulo. Ataques preocupam setor apícola de Santa Catarina
Miniatura, mas capaz de destruir todo o trabalho de um apicultor, a ação do “pequeno besouro das colmeias”(Aethina Tumida) vem sendo alvo de alertas e orientações realizadas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri-SC), em conjunto com outras instituições do setor apícola. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Secretaria de Estado da Agricultura e Pesca e a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) também são parceiros neste trabalho.
Segundo a Epagri, o primeiro foco do inseto surgiu em 2015, no Estado de São Paulo, e confirmado em fevereiro deste ano. Natural da África do Sul, o pequeno besouro (do inglês Smal Have Beetle – SHB pode, em determinadas ocasiões, devastar os favos de mel, pólen e crias, além de provocar a fermentação do mel já estocado.
“As infestações podem se tornar agressivas e incontroláveis, levando à destruição das colmeias e desaparecimento das abelhas, especialmente nas colmeias mais fracas”, alerta a médica veterinária Mara Rubia Romeu Pinto, da Empresa de Pesquisa de SC.
Para conter o avanço dos ataques destes insetos, é realizado um trabalho de mobilização e conscientização junto aos apicultores catarinenses, que podem servir para todo o País. “A recomendação inicial é que não se traga, de outros Estados ou países, abelhas rainhas e colônias de abelhas, mesmo as nativas, considerando que estudos preliminares mostram que existe a possibilidade de este besouro infestar também estas espécies de abelhas”, alerta Mara Rubia.
O problema deve ser tratado com seriedade porque, atualmente, o Brasil é o oitavo maior produtor de mel do mundo, mesma posição que ocupa no ranking de exportações.
Terceiro Estado brasileiro em produção e o segundo maior exportador do País, Santa Catarina responde por 13% do mel produzido em território nacional, com uma produção que ultrapassa seis mil toneladas.
Protocolo de controle
A médica veterinária informa que a Cidasc já estabeleceu um protocolo de controle do problema (publicado em ow.ly/gJlC302QU4G – link encurtado). De antemão, a especialista orienta: “É muito importante que o produtor não tente manusear a colmeia com suspeita de infecção, porque o manejo incorreto pode disseminar o besouro”.
Em caso suspeito, o apicultor deve informar imediatamente a Cidasc ou a Epagri-SC. “A partir daí, um profissional habilitado vai até o local para colher o material, que será avaliado para obtenção de um diagnóstico. Isto porque outras pragas podem atacar a colmeia com sintomas semelhantes”, explica Mara Rubia.
De acordo com o coordenador de Apicultura da Epagri, Ivanir Cella, as instituições envolvidas já iniciaram uma grande mobilização para conscientizar os produtores de mel do Estado para os riscos desta praga. As informações estão sendo disseminadas a partir de seminários regionais, cursos, oficinas e palestras.
Primeira notificação
Segundo a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), o pequeno besouro foi identificado, pela primeira vez, em amostras oriundas da África, no ano de 1867.
Depois, foi encontrado nos Estados Unidos (1996) e em outros países como Egito, Austrália, Canadá, México, Itália e na América Central (levando em conta relatos ocorridos em Cuba, em Melipona Beechii), além de Portugal (onde foi rapidamente erradicado).
A primeira notificação deste inseto das colmeias, no Brasil, foi feita no dia 23 de dezembro de 2015, à Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo (CDA). Naquela ocasião, produtores relataram a presença de coleópteros em uma colmeia, no município de Piracicaba, que havia sido capturada na natureza em meados de março do mesmo ano.
Na época, alguns exemplares foram enviados pelos técnicos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), para identificação no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), que confirmou tratar-se da referida espécie.
Conforme a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, em 26 de fevereiro de 2016, o Ministério de Agricultura oficializou, junto à Organização Mundial para Saúde Animal (OI E), a presença do pequeno besouro das colmeias, no Brasil.
O inseto
Uma nota técnica da Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo – CDA informa que os besouros da espécie Aethina tumida, recém-saídos da pupa, são marrons claros e escurecem progressivamente. Em média, os insetos adultos têm cinco milímetros e pesam 13 miligramas.
As fêmeas são um pouco maiores que os machos e invadem as colmeias de abelhas, onde botam ovos com aparência perolada, medindo 1,5 milímetro de comprimento.
Estes ovos explodem, gerando as larvas que têm diversas protuberâncias no corpo, podendo medir até 9,5 milímetros. Após sua maturação, elas saem das colmeias, chegando ao solo, onde passarão ao estágio de pupa.
A infestação
Ainda conforme a nota técnica da CDA, os besouros infestam, principalmente, colmeias de abelhas da espécie Apis mellifera, mas existem relatos de infestação em colmeias de abelhas sem ferrão.
“Os principais danos à colmeia são causados pelas larvas do pequeno besouro, que se alimentam das larvas das abelhas e do pólen, além de perfurar as células de mel ao movimentar-se, causando a fermentação do mel e pólen, que se tornam impróprios para consumo humano”, relata a Coordenadoria de Defesa Agropecuária de São Paulo.
“Além deste prejuízo, a infestação das colônias de abelhas pode causar a fuga do enxame e o abandono da colmeia. Os besouros adultos também podem sobreviver na natureza alimentando-se de frutas.”
Após informar ao Cidasc ou Epagri – SC sobre possível existência do “pequeno besouro”, um profissional habilitado irá até o local
Controle
Até os dias atuais, destaca a CDA, “pouco progresso foi atingido na busca por métodos de controle químico desta praga, já que o emprego de produtos químicos gera o risco de contaminação dos produtos e subprodutos do apiário, além de ser um risco à vida das abelhas”.
Por causa disto, o controle tem sido feito por meio de técnicas culturais, biológicas e genéticas. “Os controles culturais consistem em mudanças na prática da apicultura, com a intenção de limitar, mas não erradicar, a praga. Para o controle mecânico, são conhecidos cinco tipos de armadilhas para a captura dos besouros desta espécie e posterior eliminação destes insetos”, orienta o órgão.
Já o controle biológico envolve, entre outras técnicas, a seleção genética de algumas colônias de abelhas que podem detectar e remover as ninhadas que tenham sofrido ovoposição pelo pequeno besouro (comportamento de higiene). Apesar da existência destas técnicas, a CDA destaca que nenhum controle é 100% eficaz.
Apoio dos apicultores
Apesar dos inúmeros esforços da Coordenadoria em torno do controle desta praga, é de grande importância que os apicultores colaborem com a causa e façam a notificação de qualquer anormalidade observada em seus apiários como, por exemplo, a presença de larvas e/ou de besouros.
A notificação pode ser feita em qualquer unidade de atendimento ao público (a lista está no site www.defesa.agricultura.sp.gov.br) ou pela própria homepage da Coordenadoria de Defesa Agropecuária. Com a Epagri-SC, o contato pode ser realizado pelo site www.epagri.sc.gov.br. Nas demais regiões brasileiras, procure a Secretaria de Agricultura ou de Defesa Agropecuária local.
No site da Epagri-SC, é possível fazer um download gratuito do documento “Informações técnicas sobre o pequeno besouro das colmeias”. Acesse ow.ly/gJlC302QU4G (link encurtado).