Máquina será capaz de retirar da água, individualizar, lavar e classificar estes moluscos por tamanho, sem exigir esforço manual
Uma nova plataforma mecanizada vem sendo testada por técnicos da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), com a promessa de facilitar o trabalho braçal de maricultores na colheita de mexilhões. Desenvolvido pela instituição no Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca (Cedap), a embarcação será capaz de retirar da água, individualizar, lavar e classificar estes moluscos por tamanho, sem exigir esforço físico do produtor.
A plataforma, além de melhorar a eficiência e a ergonomia de tais tarefas, muitas vezes pesadas, ainda permitirá realizá-las em pleno mar. Manualmente, segundo o pesquisador André Luís Tortato Novaes, da Epagri/Cedap, um maricultor consegue processar entre 250 e 300 quilos de mexilhões por hora. “A capacidade do equipamento será determinada na fase de testes, que já começou. Mas nossa ideia é multiplicar este número por dez”, informa.
A plataforma já foi testada em fazendas marinhas comerciais, fase considerada fundamental para avaliar o desempenho operacional e ergonômico dos equipamentos e providenciar os ajustes necessários, antes de liberar para fabricação. Quando o protótipo estiver totalmente adequado, a Epagri realizará eventos para divulgar a nova tecnologia para os maricultores.
Trabalho rudimentar
A maricultura nacional vem se desenvolvendo muito rápido nos últimos anos, com destaque para o Estado de Santa Catarina, maior produtor brasileiro de moluscos. Este cenário permite colocar o País na segunda posição na América Latina, no que diz respeito a este tipo de produção aquícola. Mas apesar da evolução do segmento, o trabalho de quem produz mexilhões ainda é muito rudimentar.
“A colheita concentra o maior número de operações, demandando grande volume de trabalho e esforço físico dos produtores. Isto gera desperdício de recursos e exposição dos trabalhadores a riscos de ocorrência de doenças ocupacionais, como os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DO RT)”, alerta o pesquisador André Luís Novaes, destacando problemas nas pernas, braços e coluna, além de cortes pelo corpo, muito comuns entre maricultores.
Mais barato
Outra vantagem do equipamento desenvolvido pelo Cedap/Epagri é o custo. “Países como Espanha, Nova Zelândia, Chile, França e Holanda já mecanizam estes processos, mas a importação torna a tecnologia economicamente inviável para os produtores catarinenses”, diz o especialista.
Os equipamentos, além disto, teriam de ser adaptados às características locais de cultivo: “Apenas uma das máquinas usadas na plataforma, se fosse importada da Espanha, custaria R$140 mil. Aqui, na Grande Florianópolis, construímos o protótipo desta máquina com R$ 22 mil”.
Financiamento
Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), o projeto do Cedap/Epagri contou com a participação de empresas locais na fabricação do protótipo: a Hydreco Hydraulics, que produziu as máquinas; e a Rhino Tech Boats, que fabricou a plataforma.
“A Sec Boats, de Palhoça, está interessada em disponibilizar um protótipo otimizado de embarcação”, comenta Novaes, salientando que, quando o equipamento estiver no mercado, a deia é que os produtores possam comprar as máquinas individualmente, de acordo as operações que queiram mecanizar.
Santa Catarina
Santa Catarina é o maior produtor nacional de moluscos bivalves (mexilhões, ostras e vieiras). Na safra de 2015, o Estado produziu 20,4 mil toneladas, sendo que o cultivo de mexilhões contribui com 85% deste total, respondendo por 17,3 mil toneladas.
Na safra do ano passado, 495 empreendimentos se dedicaram à produção de mexilhões, o que representa 87% do contingente de fazendas marinhas em atividade em SC. “A facilidade de comercialização e a menor exigência de manejo nos cultivos são fatores que influenciam a adesão dos produtores ao cultivo de mexilhões”, destaca Novaes.