Epagri-SC apresenta a SCS205 Riqueza, que tem elevado potencial produtivo e grãos maiores. O Iapar, por sua vez, destaca a IPR Celeiro, que é mais tolerante ao mosaico dourado, inimigo do feijoeiro
Duas novas cultivares de feijão carioca foram lançadas recentemente por pesquisadores brasileiros: a SCS205 Riqueza, apresentada pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri-SC); e a cultivar IPR Celeiro, pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar).
De acordo com a instituição catarinense, a nova variedade – já registrada junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) – tem teor de proteína de 24,2% e tempo médio de cozimento de 21minutos. Agora, a Epagri procura interessados em multiplicar as sementes da SCS205 Riqueza, para serem revendidas aos agricultores do Sul do País e, especialmente, dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
“O feijão carioca não é muito consumido no mercado de Santa Catarina, mas sua produção interessa aos agricultores do Estado, porque atende a uma demanda dos consumidores de São Paulo e Rio de Janeiro”, ressalta Sydney Antonio Frehner Kavalco, pesquisador em Melhoramento Vegetal do Centro de Pesquisa para a Agricultura Familiar (Cepaf ) da Epagri-SC.
Há dois anos, a mesma instituição lançou a cultivar de feijão SCS204 Predileto, que é do grupo comercial preto, também com grande potencial para o rendimento de grãos, com 23,5% de teor de proteína e tempo de cozimento de 18 minutos, em média.
A Empresa de Pesquisa trabalha no desenvolvimento de cultivares de feijão dos grupos preto, carioca, branco e vermelho, que devem atender às demandas de consumo de determinadas regiões catarinenses e do Sul do Brasil.
IPR Celeiro
Já a nova variedade de feijão carioca do Iapar – a IPR Celeiro – é fruto de quatro décadas de intensas pesquisas. Por isto, seu lançamento foi considerado um marco na história de conquistas do Instituto Agronômico do Paraná, principalmente porque a cultivar é mais tolerante ao mosaico dourado, uma das principais doenças do feijão, responsável por causar graves prejuízos às lavouras de todo o País.
Segundo o Iapar, a resistência da IPR Celeiro ao mosaico dourado é do tipo horizontal ou parcial, ou seja, as plantas podem ser infectadas pelo vírus, mas reagem com sintomas fracos da doença, com danos reduzidos.
Desenvolvida pelos métodos tradicionais de melhoramento genético (sem transgenia), o lançamento desta cultivar abriu portas para um novo panorama no plantio nacional de feijão, pelo fato de ser indicada para a safra de outono-inverno (terceira safra) para as regiões de ocorrência da doença, conforme zoneamento agrícola estabelecido pelo Ministério da Agricultura.
A IPR Celeiro, além de ser mais tolerante ao mosaico dourado, também se destaca por seu porte ereto, o que favorece a colheita mecânica direta, e pela excelente qualidade comercial e na culinária.
Mais lucratividade
Responsável pelo desenvolvimento desta cultivar, o pesquisador da Iapar Anésio Bianchini explica que a nova variedade favorece o plantio de feijão nas áreas afetadas pelo mosaico dourado. Ainda é considerada altamente lucrativa em curto espaço de tempo, especialmente se plantadas após as culturas de verão (de fevereiro a abril).
“Em caso de manutenção de preços atrativos, é prevista a possibilidade de, em poucos anos, um aumento de plantio da IPR Celeiro em uma área superior a cem mil hectares, apenas no Paraná, onde cerca de 200 mil hectares estão sujeitos à ocorrência do mosaico dourado. Se houver uma expansão das fronteiras de mercado, como a industrialização deste tipo de feijão e/ou exportação, esta área poderá ser muito maior”, estima Bianchini.
Cenário nacional
De acordo com o Iapar, no contexto nacional, cuja área atacada pelo mosaico dourado pode superar a marca de 1,5 milhão de hectares, a IPR Celeiro também pode contribuir para o aumento da produção, colaborando com o retorno do cultivo do feijão nos demais Estados, na época de ocorrência desta doença.
A indicação da nova variedade, em todo o País, no entanto, depende da extensão de recomendação, a partir dos testes que estão sendo realizados com esta finalidade.
Inimigo do feijoeiro
Conforme o Iapar, o mosaico dourado é uma das principais doenças viróticas que ataca o feijoeiro comum. Causado pelo vírus BGMV (Bean Golden Mosaic Virus) e transmitido pela mosca branca (Bemisia tabaci), é o mais prejudicial à cultura nas regiões de clima tropical.
O Instituto Agronômico do Paraná ainda destaca que o mosaico dourado é limitante à produtividade do feijoeiro, no período de janeiro a abril (safras do período seco) e de outono-inverno, nas regiões mais quentes, onde ocorrem temperaturas acima de 30ºC, durante o ciclo do feijoeiro.
Nas regiões Norte, Noroeste, Centro-Oeste e Oeste do Paraná e nos demais Estados, com exceção de Rio Grande do Sul e Santa Catarina, os índices de infecção das plantas são superiores a 80%, gerando perdas equivalentes na produção. Considerando o que se perde em peso e também na qualidade de grãos, o prejuízo pode ser de 100%. Nos Estados das regiões Sudeste, Centro-Oeste, Central e Nordeste do Brasil, onde o plantio do feijão se estende até maio ou junho, o período crítico da doença também é mais amplo.
Sintomas
O mosaico dourado causa o salpicamento de cor amarela intensa, deformações e redução das folhas e da planta do feijão. A intensidade e tipos dos sintomas podem variar conforme a cultivar do grão, população de mosca branca portadora do vírus, idade do feijoeiro no momento da infecção e isolados do vírus ou infecção mista do BGMV com outras espécies de vírus.
Quando ocorre a infecção com diferentes isolados ou espécies de vírus, no início do crescimento das plantas, explica o pesquisador Anésio Bianchini, “ela provoca uma redução drástica em seu desenvolvimento, excesso de brotações anormais e abortamento total das flores”. “Estes sintomas, denominados de nanismo ou superbrotamento, constituem o que se classifica de forma severa da virose”, relata.
Projeções
Para o futuro da nova variedade do Iapar, Bianchini projeta para 2017 a chegada, ao mercado agrícola, das primeiras sementes da IPR Celeiro, no período da safra de outono-inverno do ano que vem, época de maior incidência do mosaico dourado.
Aos produtores rurais, ele prevê um atendimento, em maior escala, na safra da seca (janeiro a abril) e nas estações do outono-inverno, em 2018.