Uva tinta tem referência de qualidade para produção de suco por causa de seu aroma e sabor
Com altas concentrações de polifenois nas cascas e sementes, a uva Concord, também denominada como rústica ou comum, é considerada uma superfruta por conter substâncias que atuam como poderosos antioxidantes, com destaque para a presença de ácidos fenólicos, flavonóides e estilbenos (resveratrol).
Entre os flavonoides, os flavonóis e as antocianinas conferem a coloração púrpura desta variedade. Segundo relatório do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), o suco de uva integral (100%) produzido com a Concord mantém, em grande parte, estas substâncias antioxidantes.
De modo geral, a uva é uma cultura bastante sensível às condições climáticas. Logo, o excesso ou a falta de chuva e sol afetam diretamente em sua produtividade. No caso da Concord (Vitis labrusca), que é do tipo copa, a Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves – RS) informa que ela consegue se desenvolver em regiões quentes e de climas subtropicais.
Isto porque não apresenta bom comportamento em áreas tropicais, onde não há o repouso hibernal (repouso definitivo). Portanto, é indicada para o plantio no Sul do País, tendo o Norte do Paraná como limite de cultivo econômico bem sucedido.
Mais especificamente, a Concord é a uva tinta referência de qualidade para a produção de sucos, doces, geleias e tortas, por causa de seu aroma e sabor. Com alta rusticidade, é muito cultivada nos Estados do Sul do Brasil, onde normalmente é plantada em pé-franco e, muitas vezes, dispensa tratamentos com fungicidas. Entretanto, para obter boas produções comerciais, normalmente são feitas algumas pulverizações.
Mercado
Antes de tratar da variedade Concord, é importante traçar um breve cenário da viticultura nacional. Segundo o Sebrae Mercados, Rio Grande do Sul, Pernambuco e São Paulo são os Estados brasileiros que mais produzem uvas, de diversas variedades, tais como: Bordô, BRS Cora, BRS Lorena, BRS Rúbea, Concord, Concord Clone 30, Isabel, Isabel Precoce, Moscato Embrapa e Niágara Branca.
Entre as frutas (e até superfrutas), a uva é uma das que apresenta maior valor agregado, podendo ser comercializada in natura ou industrializada para fabricação de sucos e geleias, por exemplo.
De acordo com o relatório “Cenários prospectivos: a fruticultura brasileira em 2018”, os países que mais importaram a uva brasileira, em 2015, foram Holanda, Reino Unido e Alemanha. Para o setor vitícola nacional. Até 2018, está previsto um aumento de 6,82% da produção de uvas no País.
Clima e economia
A perspectiva é boa, mesmo levando-se em conta que, além do clima, a economia nacional prejudica, e muito, a viticultura. Estes dois fatores combinados fizeram com que a queda na produção de uvas no Brasil tivesse sido significativa, ficando em torno de 8,77% menor em relação a 2015 em projeções para o ano de 2018. Mesmo assim, desde o ano passado, os índices de produção de uva vêm crescendo, embora passe por pequenas oscilações.
As projeções são de que os dados de 2018, se comparados com 2015, estejam um pouco menores. “Isto acontece por conta da sensibilidade da viticultura ao clima inadequado. No Nordeste, ocorre excesso de chuva; no Sul, escassez. O clima é contrário às condições ideais de plantio, independentemente da região onde se produz”, relata o Sebrae Mercados.
Maturação e colheita
As uvas rústicas (ou comuns) cultivadas no Brasil, a exemplo da Concord, têm a particularidade de serem quase todas de ciclo precoce ou intermediário. A Embrapa Uva e Vinho destaca que esta precocidade tende a ser maior nas regiões tropicais, onde as temperaturas são mais elevadas.
Por causa disto, o controle da maturação e a escolha da época adequada de colheita são de suma importância, principalmente quando se leva em conta o processamento da fruta (elaboração de vinhos e sucos) como objetivo final.
Considerando a finalidade, podem haver pequenas diferenças nos bons parâmetros das principais variáveis, apesar de que elas não mudam. Devem ser levados em conta a sanidade da uva madura, a acidez, o teor de açúcares, o equilíbrio açúcares/acidez, o pH e a qualidade do aroma, como importantes tópicos de qualidade para todas as cultivares. Para as uvas tintas, a exemplo da Concord, devem ser acrescentadas a intensidade e a nuância da cor, segundo a Embrapa Uva e Vinho.
Cultivo
Para incrementar a viticultura, conforme a estatal, produtores paranaenses passaram a trabalhar com o cultivo protegido, por meio da plasticultura, “que consiste em cobrir com plástico a produção para melhorar a qualidade e a taxa de açúcar da fruta, ao reduzir a quantidade de água acumulada nas folhas”.
Autores da publicação “Fruticultura em Ambiente Protegido”, os engenheiros agrônomos Henrique Pessoa dos Santos (pesquisador em Fisiologia da Embrapa Uva e Vinho) e Geraldo Chavarria (professor em Fisiologia de Plantas Cultivadas da Universidade de Passo Fundo – RS) ressaltam que “o cultivo protegido na cultura da videira apresenta-se como alternativa na diminuição da incidência de doenças fúngicas, em regiões que apresentam excesso de chuvas”.
“A utilização de cobertura plástica sobre as linhas de cultivo da videira ocasiona modificações no microclima ao redor da planta, principalmente pela ausência de água livre sobre folhas e frutos. Estas alterações propiciam condições desfavoráveis ao desenvolvimento de doenças fúngicas, com a menor necessidade do uso de fungicidas, como as podridões de cachos, que atualmente são um dos maiores problemas no controle fitossanitário, em regiões produtoras tradicionais, como a Serra Gaúcha.” Para obter mais detalhes sobre o documento, acesse http://ow.ly/igio301f7oa ou adquira o trabalho de pesquisa em http://ow.ly/z4hj301f7rG.
Para mais detalhes sobre o cultivo de uvas em geral, no País, acesse o estudo “Sistema de Produção de Uvas Rústicas para Processamento em Regiões Tropicais do Brasil”, disponível gratuitamente em http://ow.ly/e01e301f37Y (link encurtado).
Economia
Em relação à economia de consumo, o levantamento “Cenários prospectivos: a fruticultura brasileira em 2018”, do Sebrae Mercados, mostra que, por ser uma fruta com maior valor agregado, a queda na renda das famílias afeta diretamente na aquisição de uvas pelos consumidores. Esta redução só não é maior devido ao pequeno aumento de preços, que favorece a expansão produtiva no campo.
Em consequência da queda do consumo interno, aumento da produção e ritmo pouco acelerado de alta dos preços, propiciam à viticultura uma forte expansão no mercado externo, aponta a pesquisa.
Concord Clone 30
Para melhorar as características da variedade Concord, a Embrapa Uva e Vinho lançou, há 16 anos, a cultivar Concord Clone 30 ou BRS CDCL, como alternativa para o crescimento do período de produção e processamento de uvas para sucos, na região Sul do Brasil.
Segundo esta unidade da estatal, “trata-se de um clone precoce da cultivar Concord, cujas características gerais de comportamento, produção e qualidade da uva são as mesmas da cultivar original, porém, a maturação é antecipada em cerca de duas semanas”. “Assim como a Concord, este clone apresenta dificuldade de adaptação em regiões tropicais, sendo recomendada apenas para as temperadas e subtropicais, como o Norte do Paraná, onde existe um período de repouso definido.”
Pragas e doenças
Geralmente, a Clone 30 é cultivada de pé-franco (sem porta-enxerto) com bons resultados, tornando-se bastante produtiva quando submetida à poda longa. Apresenta alta resistência às doenças fúngicas, com exceção da antracnose, que pode causar danos severos. Certos vinhedos apresentam abortamento floral com prejuízos significativos por causa deste mal.
As causas deste problema ainda não são conhecidas, podendo ser de ordem nutricional ou de origem fitossanitária. Assim como a Concord “original”, o Clone 30 encontra dificuldades de adaptação em regiões tropicais, daí ser recomendada apenas para climas temperados e subtropicais, como o Norte do Paraná, onde existe um período de repouso definido. Para mais detalhes, acesse http://ow.ly/oACu301eXjl (link encurtado).
Orientações para o produtor
Especialistas destacam alguns pontos fundamentais na implantação e condução da viticultura, segundo o Sebrae Mercados:
- Escolha do local: o vinhedo, preferencialmente, deve ser instalado em regiões de temperatura elevada, baixa umidade relativa e alta insolação. Nestas condições, o crescimento das videiras é contínuo e, com as podas, facilita o escalonamento ou concentração da colheita, conforme as demandas do mercado, além da produção de mais de uma safra por ano.
- Mudas: o porta-enxerto e o cavalo (planta que será enxertada) devem ser de boa procedência, oriundos de matrizes com alta produtividade e isentas de pragas e doenças.
- Nutrição: a videira deve ser mantida em níveis nutricionais adequados, baseando as adubações em análises de solo e foliar.
- Pragas e doenças: o monitoramento e controle das pragas (ácaros, cochonilhas e brocados-ramos), doenças fúngicas (míldio, oídio e mofo-cinzento), bacterianas, viróticas e ervas daninhas, devem ser intensivos.