Com sabor único e cor inconfundível, as blueberries têm qualidades que atraem o consumidor
O termo mercadológico “superfrutas” foi lançado em 2004 e o primeiro fruto a ganhar este título foi o mirtilo (blueberry). Excelente fonte de flavonoides, com destaque para as antocianinas, que lhe conferem a cor típica azulada, o mirtilo tem pigmentos com alto poder antioxidante e efetivos no combate aos radicais livres destrutivos, que se formam no corpo humano, ajudando a prevenir doenças cardiovasculares e até câncer.
“A exemplo de algumas superfrutas, novos estudos são necessários para melhorar o conhecimento dos mecanismos de atuação dos componentes antioxidantes desta superfruta, em nosso organismo”, pondera o presidente do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), Moacyr Saraiva Fernandes.
Também conhecido como “uva-do-monte”, por causa do sabor parecido com o da uva, o mirtilo (Vaccinium sp.) é originário da América do Norte — Estados Unidos e Canadá —, onde é conhecido como blueberry. Recentemente, estudiosos da Universidade de Cincinnati (EUA) afirmaram que ele também pode reduzir os efeitos do Mal de Alzheimer.
Líder da pesquisa, Robert Kridorian aponta as mudanças no comportamento de 47 adultos, a partir dos 68 anos, que participaram do experimento. Estas pessoas receberam pó de mirtilo ou placebo. “Houve melhoria no desempenho cognitivo e função cerebral naqueles que tomaram o pó de mirtilo, em comparação àqueles que ingeriram o placebo. O grupo dos que consumiram o pó de mirtilo demonstrou melhoria da memória e melhor acesso a palavras e conceitos”, afirma o especialista norte-americano.
A espécie
Assim como outras dez — ameixa, amora-preta, caqui, framboesa, kiwi, maçã, morango, pera, pêssego e uva —, o mirtilo é uma fruta de clima temperado, daí seu cultivo ter mais sucesso em regiões como o Rio Grande do Sul, informa a Embrapa Clima Temperado (RS). Trata-se de uma espécie arbustiva ou rasteira e caducifólia, com 1,5 a três metros de altura, e exigente em frio para quebra da dormência. Produz em ramos, em grupamentos de frutos que amadurecem de forma irregular. Por isto, há a necessidade de se fazer várias colheitas seletivas para retirar somente a parte madura.
Segundo a unidade da estatal, pioneira na introdução desta cultura no País, o mirtilo apresenta alta rentabilidade, por ser uma espécie de fácil adaptação à exploração em pequenas propriedades rurais. Por causa do baixo emprego de insumos para sua produção, ele se encaixa perfeitamente nos preceitos da produção limpa e orgânica, preservando o meio ambiente e oferecendo segurança alimentar.
Outro aspecto importante desta pequena fruta diz respeito às propriedades nutracêuticas, já mencionadas. Agora, a Embrapa Clima Temperado vem realizando pesquisas de melhoramento genético e práticas culturais do mirtilo.
Cultivo
Pertencente à espécie Vaccinium ashei, o blueberry chegou ao Brasil no ano de 1983, época em que ficou conhecido como “rabbiteye” (olho-de-coelho), por causa da cor vermelha dos frutos imaturos e de menor exigência em frio.
De acordo com o Sebrae Mercados, há muitas espécies de mirtilo, e alguns são próprias para o comércio. Por isto, é dividida em três grupos, conforme o genótipo, hábito de crescimento, tipo de fruto produzido e outras características:
• Highbush (mirtilo gigante) – Originário da Costa Oeste da América do Norte. Sua produção, dentre os demais grupos, é a de melhor qualidade, tanto em tamanho quanto em sabor dos frutos. A principal espécie deste grupo é Vaccinium corymbosum L. Já as espécies V. australe e V. darrowi são utilizadas para fins de melhoramento genético.
• Rabbiteye – Surgiu ao Sul da América do Norte como pertencente à espécie Vaccinium ashei Reade. Em relação ao grupo anterior, produz frutos de menor tamanho e de menor qualidade. Em compensação, tem maior produção por planta e seus frutos podem ser conservados por mais tempo, na fase de pós-colheita. Apresenta maior importância comercial em regiões com menor disponibilidade de frio, por causa da sua tolerância às temperaturas mais altas e às deficiências hídricas.
• Lowbush – Tem hábito de crescimento rasteiro e produz frutos de pequeno tamanho. Serve para o processamento do mirtilo.
De acordo com a Embrapa Clima Temperado, as informações estatísticas sobre esta superfruta no Brasil são ainda escassas, mas levando em conta as áreas com plantios de três anos ou mais (plantas em produção), estima-se que a área cultivada, atualmente, seja de 27 hectares. Deste total, cerca de 48% são de Highbush e 52%, de Rabbiteye. Estima-se ainda que, dentro desta área cultivada, 75% encontram-se no Rio Grande do Sul, especialmente na região de Vacaria.
Consumo
Conhecida no mercado de alimentos funcionais como “fruta da longevidade”, o mirtilo pode ser ingerido in natura ou sob a forma de geleias, sucos, fruta congelada, desidratada, iogurte, polpa e licor.
Seu elevado teor de pigmentos antocianos (substâncias com poder antioxidante e preventivas para casos de doenças degenerativas), seu sabor único e cor inconfundível são fatores que atraem diretamente o olhar e o paladar dos consumidores.
Mercado no Brasil
O baixo volume de produção em território nacional tem limitado bastante o mercado de mirtilo fresco, inclusive para exportação. O potencial industrial ainda não é explorado, segundo o Sebrae Mercados.
Para a instituição, alguns fatores importantes dificultam a expansão deste cultivo no País, tais como o desconhecimento da cultura em si e de suas práticas por técnicos e produtores, exigindo a habilitação prévia destas pessoas para que as áreas de produção sejam econômicas.
Também aponta que prevalecem as limitações tecnológicas existentes, em virtude das escassas pesquisas e informações disponíveis no Brasil.
Segundo especialistas, as principais limitações são as poucas cultivares adaptadas, baixa produção de mudas, insuficiente desenvolvimento inicial das mudas no viveiro pós-enraizamento e no campo, manejo da planta, irrigação, manejo fitossanitário e o risco de ocorrência de novas pragas ou doenças além da etapa de colheita e manuseio pós-colheita do mirtilo.
Em algumas regiões, ainda é observada a escassa acumulação de frio e os invernos amenos, com alternância de temperaturas. Outra limitação é a necessidade de estruturação do sistema
produtivo e dos canais de comercialização, salienta o Sebrae Mercados.
Além disso, há as restrições de logística para os mercados interno e externo, fora a restrita organização dos próprios produtores rurais.
Plantio
“O Cultivo de Mirtilo”, documento produzido em 2002 pelos pesquisadores Alverides Machado dos Santos e Maria do Carmo Bassols Raseira, da Embrapa Clima Temperado, orienta o plantio desta superfruta durante toda a fase de dormência. “Em geral, o plantio é realizado com mudas de dois ou três anos, embora estacas enraizadas, em apenas um ano, também possam
ser utilizadas. O espaçamento pode ser de um a dois metros entre plantas por 2,5 a quatro metros entre linhas.”
Cientistas destacam ainda que o mirtilo é adaptado a terras baixas, com solo ácido. “Tentativas de adaptar esta espécie a solos mais secos e com pH mais ácido e baixo teor de matéria orgânica, precisam do emprego de certas práticas para manter a umidade próxima à superfície do solo e um pH mais adequado”, explicam Maria do Carmo e Alveridas dos Santos, no documento.
Mulching
Os pesquisadores da Embrapa Clima Temperado relatam que o uso de cobertura morta (mulching) — também conhecido como cultivo protegido (em estufa) — foi uma das práticas mais bem sucedidas de mirtilo, no Brasil.
Aplicado anualmente, reduz o crescimento de ervas daninhas; mantém a temperatura do solo no verão; ajuda a manter a umidade; previne a compactação e conseqüentes danos às raízes; controla a erosão do solo; e reduz os custos de cultivo.
Adubação
Para uma adubação racional, eles dizem ser indispensável a realização da análise de solo, acrescentando os elementos que se fizerem necessários, para uma correção de base, antes do plantio.
“Por ser uma espécie exigente em alto teor de matéria orgânica no solo, é aconselhável a incorporação, antes do plantio, de 25 a 30 toneladas por hectare de estrume. Quando o pomar já estiver implantado, podem ser aplicados de três a cinco quilos de estrume curtido por planta, distribuídos em um raio de 50 a 70 centímetros dela própria.”
Solo adequado
O mirtilo, conforme relatam Maria do Carmo e Alverides dos Santos, requer solos ácidos e, por isto, são recomendados os fosfatos naturais (farinha de osso, fosfato de arade etc.) como fonte de fósforo. Os fosfatos solúveis não devem ser usados. A maioria das recomendações de adubação é completa, sendo o nitrato de amônio a fonte preferida de nitrogênio.
Polinização
O mirtilo precisa que, pelo menos, 80% das flores frutifiquem, para que alcance uma produção comercial satisfatória. Por isto, os pesquisadores da Embrapa Clima Temperado informam sobre a necessidade de contar com a atuação de insetos polinizadores, porque, uma vez que ganha o formato de flor, o pólen cai fora dela e não no estigma.
Apesar da espécie (do tipo Highbush) ser autofértil, a polinização cruzada favorece a obtenção de frutas de melhor tamanho. “É aconselhável colocar cinco colmeias por hectare, quando 25% das flores estiverem abertas”, orientam os cientistas, no mesmo documento. Para mais detalhes, acesse “O Cultivo de Mirtilo” em http://ow.ly/hoAH300YJOO (link encurtado).
Potencialidades do Brasil
Para a estatal, o Brasil tem grandes potencialidades para a cultura do mirtilo, por apresentar algumas vantagens comparativas às demais, que podem render ganhos expressivos ao produtor, tais como adaptação do cultivo a pequenas áreas, especialmente por causa da elevada exigência de mão de obra para manejo e colheita, se plantada em grandes espaços.
Outra vantagem é o alto valor agregado desta superfruta (os preços pagos ao produtor variam de oito a 20 reais por quilo), principalmente por causa da pequena oferta no mercado, além de ampla possibilidade de industrialização na forma de geleias, sucos, frutas congeladas, polpas e licores. Para mais detalhes, acesse http://ow.ly/g03i300YLsc.