Por causa de suas qualidades nutracêuticas e sabor doce e diferenciado, esta superfruta é ótima opção de renda em pequenas propriedades
Originárias do Hemisfério Norte, as primeiras cultivares de framboesa (Rubus idaeus L.) foram introduzidas no Brasil na década de 1970, a partir de espécies naturalmente distribuídas nos Estados Unidos e Europa, segundo informações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-Embrapa.
Rica em vitamina C, betacaroteno e compostos fenólicos – dentre eles os flavonoides, os quais se ligam a açúcares, formando os glicosídeos, que apresentam ação antioxidante, anticancerígena e anti-inflamatória, além de atuarem como retardadores do envelhecimento –, a framboesa ainda é pouco produzida no País, principalmente por causa da dificuldade de plantio. Seu cultivo varia entre duas e dez toneladas por hectare, ou 150 toneladas por ano (dados de 2006), conforme a Embrapa Clima Temperado (RS).
Os Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo se destacam como produtores desta superfruta, em uma área total estimada em aproximadamente 60 hectares. Apesar do pouco espaço de cultivo, ela representa uma ótima opção para diversificação de pequenas propriedades nestas regiões. Já os princip ais produtores mundiais são os Estados Unidos, Polônia, Reino Unido, Rússia, Sérvia, Ucrânia, entre outros.
“Vale ressaltar que a produtividade de pequenas frutas, e também de outras espécies, é variável em função das práticas de cultivo e da adaptação das cultivares”, destaca o documento “Pequenas Frutas: o produtor pergunta, a Embrapa responde”, escrito por pesquisadores das unidades Clima Temperado (Pelotas – RS) e Uva e Vinho (Bento Gonçalves – RS) da estatal.
Cultivares no Brasil
A framboeseira é uma planta arbustiva, com emissão de hastes a partir do sistema radicular, que é a estrutura perene. Segundo a Embrapa Clima Temperado, as cultivares de framboesas testadas com mais sucesso, principalmente no Sul do Brasil, são a Autumn Bliss e a conhecida como Batum (provavelmente, Autumn Britten), consideradas menos exigentes ao clima frio. Quando testada no Sul de Rio Grande do Sul, outra cultivar que se adaptou bem foi a Dorman red. Na parte mais gelada da região, a Heritage é uma boa opção.
Os engenheiros agrônomos Emerson Dias Gonçalves, Luis Eduardo Corrêa Antunes, Maria do Carmo Bassols Raseira e Renato Trevisan, todos da Embrapa Clima Temperado e autores do estudo “Aspectos técnicos da cultura da framboeseira”, explicam que esta é uma cultura com limitações técnicas de cultivo, por causa da sensibilidade da planta e da fruta ao clima, principalmente considerando a elevada pluviosidade e umidade relativa do ar, encontrada especialmente no Sul do País. Além disto, ela precisa de uma grande soma de horas de frio, normalmente acima de 600, o que limita as regiões para o plantio.
Cultivo
O espaçamento de cultivo de pequenas frutas depende muito da espécie, grupo, cultivar, solo e tipo de manejo que o agricultor pretende adotar, podendo ser manual ou (raramente) mecanizado. No caso da framboesa, são recomendadas as distâncias de 0,3 a 0,7 metro entre plantas, e de 2,1 a 3,0 entre linhas — neste último caso, devem ser empregados os menores espaçamentos no manejo não mecanizado.
As mudas recomendadas para o plantio desta frutinha são provenientes de estacas de raízes, que proporcionam maior índice de pegamento. Geralmente, são vendidas em recipientes contendo entre meio e um litro de substrato (solo). Também podem ser usadas mudas de raízes nuas, desde que sejam adotadas medidas para coibir a morte delas, por falta de água (umidade na terra). Por ser uma espécie arbustiva, a planta, que produz sobre ramos de crescimento decumbente, exige um sistema de tutoramento ou sustentação.
De acordo com a Embrapa Clima Temperado, é proibida a aplicação de quaisquer defensivos agrícolas nas framboeseiras. Para controle de problemas fitossanitários (pragas e doenças), o agricultor deve recorrer a produtos permitidos na produção orgânica ou práticas de manejo, como limpezas e poda da parte doente da planta. Normalmente, as framboeseiras são atacadas por microrganismos polífagos, a exemplo do mofo-cinzento, além da ferrugem-tardia, provocada pelo fungo Pucciniastrum americanum, que causa manchas pequenas, de cores amarela a marrom.
Colheita
A framboesa não apresenta intensificação das características sensoriais após a colheita e, por isto, precisa ser colhida com aspecto bem próximo do consumo in natura. Mesmo assim, deve-se levar em conta, principalmente, a coloração da epiderme: rosa, no caso da exportação; e intensa, com ligeira perda de turgescência, se será congelada e destinada ao processamento.
Conforme a Embrapa Clima Temperado, a colheita da framboesa, assim como outras frutas mais delicadas, precisa ser realizada manualmente, mas somente a framboesa se desprende do receptáculo carnoso. O recomendável é que seja feita a cada dois dias, no início da manhã, nas horas consideradas mais frescas do dia.
Ao retirá-las do pé e acondicionadas diretamente na embalagem definitiva, a sugestão é que o agricultor utilize um contentor plástico, para facilitar a acomodação das cumbucas em única camada. No caso das framboesas, a estatal orienta para que sejam usados contentores de isopor (poliestireno expandido), com almofada reutilizável de gelo em gel, sobre a qual são acomodadas as cumbucas.
Independentemente das frutinhas serem acondicionadas nas embalagens definitivas ou a granel, os contentores precisam estar acomodados sobre estrados, de maneira que não tenham contato direto com o solo, e mantidos em locais sombreados, até que seja providenciado o transporte.
Armazenamento
Na fase de armazenamento, as baixas temperaturas são importantes para a redução da deterioração e na maximização da vida útil das pequenas frutas. Framboesas podem ser mantidas por até cinco dias sob temperatura de -0,5°C a 0°C, e umidade relativa de 90% a 95%.
O correto é evitar a condensação de água no interior da embalagem, porque isto favorece o aparecimento de fungos e a provável deterioração das pequenas frutas. Para tanto, a orientação é aplicar o resfriamento rápido e a manutenção de baixa temperatura, sem oscilações, durante esta etapa.
Transporte
Como as frutinhas são muito sensíveis, após a refrigeração, a cadeia de frio não pode ser interrompida. Daí a importância de transportá-las, sob refrigeração, quando as carretas já tiverem alcançado a temperatura ideal no momento do carregamento.
Este precisa ser rápido, de modo que não haja o aquecimento do produto. Para o consumo ideal, as framboesas também devem ser mantidas sob refrigeração nos estabelecimentos de vendas.