Com aproximadamente 162 mil hectares plantados com dendezeiro, Pará é o Estado responsável por 90% de toda a produção nacional de dendê. Mas, diante de um ritmo mais lento de expansão desta atividade no País, para gerar mais renda foi necessário que os produtores rurais, especialmente os mais de mil agricultores familiares da região, estendessem as lavouras desta palmeira com o plantio de outras culturas, como mandioca, milho, arroz, feijão, entre outras. Para realizar este consórcio no campo, eles contaram com o auxílio técnico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da iniciativa privada.
Os resultados iniciais mostram que os cultivos simultâneos não afetaram o crescimento vegetativo do dendê e ainda melhoraram a produção de cachos nos três primeiros anos de plantio, tempo que esta palmeira não gera renda para o agricultor. O desempenho foi observado em áreas de dois produtores familiares do município de Tailândia, que pertence ao polo de expansão da dendeicultura paraense.
“A monocultura do dendê na Amazônia sempre foi muito questionada pelos grupos ambientalistas, pesquisadores, sindicatos e pelos próprios agricultores familiares. Esse estudo de validação de tecnologia é uma resposta a esses questionamentos”, explica a engenheira agrônoma Mazillene Borges, analista da Embrapa Amazônia Oriental.
Bons resultados
“Os resultados estão acima da expectativa”, garante a agrônoma, ressaltando que o consórcio tem influenciado positivamente na quantidade de cachos emitidos pelas plantas de dendê, na observação do segundo ano de cultivo. Ela ainda estima que haja uma produção de cachos 15% maior que o plantio solteiro neste período.
Nas unidades de observação, nome técnico dado aos trabalhos de campo, houve o plantio de milho, mandioca, feijão-caupi e arroz, simultâneos nas entrelinhas do dendê em dois sistemas de produção, já consolidados pela pesquisa da Embrapa: “Sistema Bragantino” e “Sistema de Plantio Direto Agroecológico”. O primeiro preconiza o cultivo contínuo, na mesma área, de diversas culturas em rotação e consórcio, mantendo a área ocupada produtivamente e protegida durante o ano todo. “Tem como ponto de partida a ’adubação de fundação’, que é uma adubação de base para o solo”, explica a agrônoma.
Agroecologia
O plantio direto agroecológico, por sua vez, é uma das alternativas de construção da fertilidade do solo, por meio de biomassa formada por leguminosas, sobre as quais é realizado o cultivo da mandioca. Ambos os sistemas, segundo a Embrapa, dispensam a utilização do fogo no preparo do solo e são ideais para a combinação de culturas agrícolas na mesma área.
O agricultor Oziel Ferreira Lima, da Comunidade Nova Paz (Tailândia/PA), garante que a palmeira apresenta uma folhagem mais verde e a planta se desenvolve mais rápido no consórcio, e atribui esses resultados à interação entre os cultivos lado a lado. “São os resíduos, a palhada do milho e do arroz, por exemplo, que ficam na base do dendê e servem como adubo ao solo e à planta”, informa o produtor rural.
Quanto à mão de obra, o consórcio também se mostra vantajoso, conforma atesta o agricultor Elson Silva: “Na mesma área em que você está limpando a mandioca, está cuidando do dendê. A renda já começa no primeiro ano do plantio com a mandioca. Com o consórcio eu tiro renda e alimento o ano todo”.
Dendeicultura
A dendeicultura no Pará gera renda para mais de mil famílias de pequenos produtores no Estado. Seu polo de produção fica nos municípios de Acará, Concórdia do Pará, Moju, Tailândia e Tomé-Açu, todos localizados no Nordeste da região.
Experiências de pesquisa com o plantio do dendê consorciado com alimentos são desenvolvidas ainda nos Estados do Amazonas (precursor desta iniciativa) e de Roraima. Como resultado do trabalho, uma nota técnica foi assinada por pesquisadores e analistas da Embrapa, com recomendações para este plantio.