Software ‘Acha’ simula comportamento de agroquímicos no meio ambiente
Realizar a previsão do comportamento ambiental dos agroquímicos antes mesmo de o produto ser aplicado na lavoura. Este é o objetivo do “Acha”, sigla de Avaliação da Contaminação Hídrica por Agrotóxico, programa computacional que simula o comportamento ambiental de moléculas de agrotóxicos em cenários agrícolas brasileiros, com baixo custo e mais agilidade na avaliação dos resultados.
O software está em fase de validação e será disponibilizado daqui a dois anos, aproximadamente. Mas já é certo que o sistema substituirá métodos dispendiosos de avaliação de riscos ambientais. O programa gera, como resultado, a avaliação da profundidade que um agrotóxico poderá chegar, informando o potencial de contaminação da água subterrânea, a persistência do defensivo no solo em que foi aplicado, entre outros dados.
Sem o uso de um software, seriam necessários, considerando as diversas variáveis, muitos experimentos para a elaboração de um manual completo sobre a aplicação. “Os gastos ficam elevados devido ao custo dos equipamentos, análises complexas e mão de obra especializada”, afirma o pesquisador da Embrapa Rômulo Penna Scorza Junior, que atua na área de contaminação ambiental por agrotóxicos e modelagem matemática e simulação da dinâmica de químicos no ambiente e solo.
O especialista explica que, com informações sobre clima, solo e molécula do agroquímico, é possível saber, por meio de modelos matemáticos, até mesmo a profundidade que o produto chegará, qual será sua concentração naquele ponto, quanto tempo permanecerá no solo e o que aconteceria com o produto ao mudar a época de aplicação, ou seja, o momento de aplicação que haveria maior risco de contaminação, em função das condições climáticas.
Sistema em parceria
O Acha é resultado de um projeto de pesquisa da Embrapa Agropecuária Oeste (MS), em parceria com a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), e financiado pela Embrapa e pelo fundo CT-Hidro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O cientista da computação, Filipe Névola, então estudante da UEMS, foi o responsável por elaborar a programação do Acha, que será disponibilizado na internet para ser acessado por órgãos ambientais. Ele explica que não será preciso instalar nenhum programa no computador para utilizá-lo.
De acordo com Névola, o programa será integrado, ou seja, terá a possibilidade de acessar as bases para uso nas simulações como, por exemplo, registros climáticos, compostos químicos, solos, entre outros dados. Outra vantagem do Acha é que haverá diferentes níveis de acesso aos dados simulados e às bases.
“Com o software, é possível determinar se uma informação específica é privada ou se é pública para as instituições que o utilizam”, informa o desenvolvedor de sistemas.
Defensivos agrícolas na natureza
Os defensivos agrícolas, uma vez no meio ambiente, podem ser transportados com a água da chuva e sofrer processo de escoamento superficial, contaminando, por exemplo, a água superficial; também podem volatilizar, passando da fase líquida para gasosa e ficar na atmosfera. Ainda são eliminados por organismos no solo ou por degradação química, podendo ficar retidos no próprio solo.
Entre os preceitos básicos para que o produto seja usado da forma correta e não cause prejuízos ao meio ambiente, é utilizá-lo de acordo com as recomendações do rótulo. “Quando esses agrotóxicos são registrados no País, são realizados vários testes relacionados à sua eficiência, ao seu comportamento ambiental, justamente para caracterizá-lo quanto à sua periculosidade ambiental”, explica Scorza Júnior.
É fundamental que o agricultor e o técnico da assistência rural fiquem atentos às peculiaridades da propriedade e não aplique o agrotóxico próximo a recursos hídricos. É necessário tomar cuidado com a lixiviação e fazer a aplicação do produto em horários mais adequados, evitando as altas temperaturas. Caso contrário, as pessoas e o meio ambiente podem ficar expostos a altas concentrações daquele nocivo produto.
Produtividade
“Esses produtos são necessários para garantir um patamar alto produtividade,” diz Scorza Júnior, lembrando que, por estarmos em um país tropical, em que a dinâmica de pragas, doenças e plantas daninhas é diferente de países temperados, é preciso deixar claro que sua utilização envolve alguns riscos associados.
“Os riscos ambientais associados a esses agrotóxicos são diferentes. Por isso, é preciso saber qual agrotóxico está sendo usado, qual o maior risco associado àquele produto: se é contaminação de água, volatilização, contaminação de resíduo no solo, ou outro dano”, pontua o especialista.
Ações simples, como a rotação de culturas, são capazes de reduzir o uso de agrotóxicos. “O monocultivo causa problemas como o aparecimento de plantas daninhas, doenças e insetos e, consequentemente, provoca o aumento da utilização dos defensivos. Por mais que sejam feitos trabalhos que mostrem os benefícios do bom uso dos agrotóxicos, ainda assim, falta conscientização, na prática. Tecnologias à disposição não faltam”, diz o presidente da Assistência Técnica Rural de Mato Grosso do Sul (AASTEC-MS), Ângelo Ximenez.