Tecnologia reduz em mais de 90% a quantidade de agrotóxicos no combate à mosca-branca
O sistema de pulverização eletrostática, desenvolvido pela Embrapa, reduziu em mais de 90% a quantidade de agrotóxicos comumente aplicada na pulverização convencional. Essa foi a conclusão de uma avaliação feita pela B&D Equipamentos Agrícolas, que testou a tecnologia em estufas da empresa “Kiara Foods” para o controle da mosca-branca em hortaliças. Esta praga é considerada de difícil controle e ataca diversas espécies vegetais.
A Embrapa assinou recentemente com a B&D um contrato de licenciamento para a produção e comercialização de um pulverizador pneumático eletrostático. Os resultados dos testes surpreenderam o pesquisador Aldemir Chaim da Embrapa Meio Ambiente (SP), que coordenou o desenvolvimento da tecnologia.
Impacto ambiental
“Além dos aspectos relacionados à economia para o produtor, deve ser levada em consideração a redução do impacto ambiental pela diminuição do uso de agrotóxico e também de resíduos nos alimentos,” pondera o pesquisador.
Ele ressalta que a Embrapa ainda deverá realizar mais testes em campo para comprovar esses resultados, inclusive utilizando o equipamento também para aplicar produtos biológicos.
“Com a pulverização eletrostática, as ninfas (insetos na fase jovem) que se escondem na parte inferior das folhas, são atingidas pelo produto químico aplicado,” diz Chaim. Ele explica que a eficiência é decorrente da atração eletrostática do agrotóxico: o produto possui uma carga elétrica oposta à da planta, o que provoca sua aderência, mesmo nas áreas de difícil acesso, como a parte de baixo das folhas, por exemplo.
Com pedido de patente solicitado em 2013, o bico pneumático eletrostático da Embrapa produz um dos maiores índices de carga de eletrificação de gotas já registrados no mundo para esse tipo de equipamento, o que resulta em maior atração à superfície das plantas.
De gota em gota
O pesquisador detalha que o resultado também ocorre devido ao tamanho reduzido das gotas que o dispositivo da Embrapa produz. “Com diâmetro abaixo de 40 micrômetros, as gotas são levadas para o interior das plantas pelo próprio jato de ar, que pulveriza o líquido, proporcionando, assim, o atingimento de regiões escondidas,” explica. Para se ter uma ideia, um fio de cabelo fino tem cerca de 60 micrômetros de diâmetro.
Outra vantagem da tecnologia no combate ao inseto é uma turbulência, produzida pelo bico, que provoca o voo das moscas. “Esses insetos em voo se chocariam imediatamente com uma gigantesca nuvem de minúsculas gotas eletrificadas. Esta é minha hipótese para explicar, em parte, a grande eficácia da tecnologia,” analisa Chaim.
Além das vantagens econômicas, a redução da quantidade de agrotóxicos também resulta em menor impacto ambiental provocado pelo carreamento desses produtos, bem como reduz seus resíduos nos alimentos, tornando-os mais saudáveis.
Eficiência no controle de pragas
Para o pesquisador, o custo de desenvolvimento de novas moléculas de agrotóxicos é extremamente oneroso para as indústrias e para a sociedade como um todo. Não é raro o aparecimento de resistência das pragas à moléculas de agrotóxicos, o que gera grandes prejuízos financeiros para essas empresas, que são obrigadas a retirá-los do mercado antes de recuperarem os seus investimentos de pesquisa. Assim, uma tecnologia de aplicação de agroquímicos mais eficiente pode aumentar a vida útil de comercialização desses produtos, bem como a eficiência no controle de pragas e doenças.