A busca pela sustentabilidade tem atiçado a criatividade (e muita pesquisa) em diversas atividades, seja diminuindo o consumo de água nas empresas ou reaproveitando papéis. Com as embalagens, coadjuvantes das “estrelas” – os produtos –, não poderia ser diferente.
Usando um ponto de vista brasileiro, megaeventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 são a oportunidade perfeita para colher os frutos de sementes lançadas agora. Não há tempo a perder para implementar conceitos de sustentabilidade em grande escala, com materiais reciclados, novos e, principalmente, com menos desperdício.
O engenheiro holandês Anton Steeman, atualmente residindo no Amazonas, vem dedicando suas análises técnicas a embalagens mais “verdes”. Entre os fatores que ele destaca, há a possibilidade de reciclagem (que chega a 100% no vidro), reutilização, conservação de substâncias ativas e, é claro, do produto em si. Um exemplo é a iniciativa do laticínio inglês Marybelle Dairy de adotar a GreenBottle (Garrafa Verde, em tradução literal), um revestimento rígido de papel reciclado para revestir os saquinhos de leite. Na Inglaterra, o leite é normalmente vendido em garrafas plásticas de dois litros, gerando 5 milhões de toneladas de lixo não biodegradável por ano. Já a GreenBottle, além de ser biodegradável em semanas, consome 2/3 a menos de energia para sua fabricação e tem uma pegada de carbono 48% menor do que a plástica.
Contudo, mesmo às vésperas de implantar sua nova embalagem em 2008, a Marybelle Dairy temia a rejeição dos consumidores, acostumados à tradicional garrafa. Mas a empresa teve uma agradável surpresa com a ótima acolhida da GreenBottle, afirmando que seus consumidores passaram a vê-la como uma alternativa de consumo mais ecológica. Seguindo os passos dos ingleses, o laticínio californiano orgânico Straus Organic Dairy já elaborou sua versão de embalagem ecológica, de textura semelhante às caixas de ovos, bem conhecidas dos brasileiros. Vale lembrar que, se ambas empresas usam saquinhos plásticos, estes podem ser feitos de amido de milho – um material biodegradável – e até polipropileno, que permite reciclagem. Infelizmente, o laticínio Straus terá que enfrentar um obstáculo concreto: o próprio consumidor americano, que em outras oportunidades já rejeitou embalagens sustentáveis de leite. Algumas pesquisas apontam que o público não vê o papelão como uma embalagem compatível com o produto.
Não só o mercado do leite, internacional ou nacional, pode se aproveitar de inovações mais simpáticas ao meio ambiente. Anton Steeman acredita que a indústria em 2010 deve se guiar pela mentalidade dos 6 “R”s: repensar, redesenhar, reduzir, reutilizar, (uso de) refil e reciclar. Nesse sentido, o engenheiro comemora o projeto da rede Wal Mart no Brasil, que convidou nove fornecedores para o seguinte desafio: analisar e aprimorar a sustentabilidade de toda a cadeia de alguns de seus produtos mais famosos.
Isso significou a participação de marcas líderes no mercado de chocolate em pó, amaciantes, água, curativos, desinfetantes, esponjas, fraldas, óleo, mate orgânico e sabão em pó. Dentre as diversas medidas, destacam-se: uma versão mais concentrada do amaciante, com embalagem menor, reduziu em 37% o gasto em plástico e em 63% o de papelão para as caixas; a esponja, um lançamento, aumentou em 198% o uso de materiais recicláveis nas caixas (certificadas pelo FSC) e reduziu 52% do consumo de eletricidade no processo de fabricação. No caso do óleo vegetal, a empresa aprimorou seus processos industriais, diminuindo em 26% do consumo de água e 56% em combustível, pois usou biomassa para extrair energia.
Esses são apenas alguns dos ganhos citados pelas empresas, cujos valores completos para cada produto podem ser conferidos, em inglês, em http://bestinpackaging.wordpress.com/2010/01/28/walmart-brasil’s-next-step-in-the-
”green-world”/#more-1479. Contudo, em seu site, Steeman lamenta que o sabão em pó de marca própria do Wal Mart não tenha atingido boas cifras em embalagem. Apesar disso, ele espera que a iniciativa possa provocar ações semelhantes de outras redes, e não só no Brasil. Considerando apenas os ganhos econômicos, o “efeito colateral” do ganho ecológico para o planeta seria invejável.