A Tomaticultura é o principal destaque do setor, movimentando uma cifra anual superior a R$ 2 bilhões (cerca de 16% do PIB gerados pela produção de hortaliças no Brasil) e é um dos mais importantes geradores de emprego na atividade rural no Brasil
Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (Abcsem) revela que o setor de hortaliças é um ramo do agronegócio em pleno crescimento e que movimenta milhões de reais anualmente, em toda a sua cadeia, do campo ao varejo. Só em 2008, de acordo com dados da associação, cerca de R$ 307 milhões foram comercializados em sementes no País, valor pago pelos produtores de hortaliças. Atualmente, são cerca de 700 mil hectares de área plantada no Brasil, com envolvimento de mais de 700 mil produtores, que geram cerca de 3 milhões de empregos diretos. São mais de 80 espécies cultivadas e uma grande segmentação de mercado, devido a diferentes tipos de produto e formas de oferecê-lo ao mercado. A pesquisa de 2008 também revelou que a melancia, com 98 mil hectares; a cebola, com 53 mil hectares; a alface com 51 mil hectares; o tomate com 55 mil hectares (38 mil – tomate de mesa e 17 mil – tomate para processamento); o milho doce com 36 mil hectares e o repolho com 35 mil hectares são as espécies de hortaliças que tem mais representatividade em termos de área. Entre as hortaliças folhosas o destaque é para alface, que apresenta um importante leque de tipos demandadas pelo mercado (lisa, crespa, americana, roxa/vermelha, romana e salad bowl). A pesquisa Abcsem não inclui alho e batata, pois ambos não têm sua reprodução vegetativa por semente.
De acordo com o presidente da associação, Francisco Sallit, alguns dos principais motivos para o crescimento do mercado são: maior uso de híbridos; preços de sementes mais elevados, devido ao cultivo protegido, por exemplo; introdução de valor agregado (ou seja, da percepção que o consumidor tem do produto com relação às suas necessidades considerando o benefício versus preço) e novas tecnologias nos produtos, como o tomate com F3 (melhorado geneticamente), além do aumento da população mundial e do consumo per capita, resultado da busca por uma vida mais saudável. Além disso, dotadas de cada vez mais infraestrutura, as principais empresas mundiais que atuam no segmento também estão presentes no Brasil e estão entre as empresas associadas da Abcsem.
Tomaticultura – lucro e produtividade
O Brasil apresenta uma grande diversidade de área de plantio de tomate. O último levantamento sobre área cultivada no país, realizado pela Abcsem em 2008***, apontou um total de 55 mil hectares, sendo que desse total, 31% ou 17 mil hectares são destinados para o segmento de processamento. Para Sallit, é importante ressaltar que do total da área cultivada de tomate de mesa no Brasil – 38 mil hectares – o segmento Salada Indeterminado e Determinado é o de maior importância econômica e social com uma área de 19 mil hectares. Outros segmentos importantes são: o Italiano/Saladete Indeterminado e Determinado com 8 mil hectares; o Santa Cruz com 11 mil hectares e o Cereja, com 210 hectares. Outro ponto relevante, apontado por ele, é que, atualmente, 84% da área cultivada de tomate no Brasil utiliza sementes híbridas.
Segundo o Agrianual 2008, a produção nacional em 2007 foi de 3.200.846 toneladas, sendo que cerca de 65% são cultivados para o consumo in natura e 35% produzidos pelas indústrias de processamento e ofertados ao mercado em forma de extrato de tomate, molhos prontos e pré preparados, catchups, etc. Assim, o atual consumo per capita do tomate está em torno 18 kg/ano, o que representa um incremento de consumo acima de 35% nos últimos 10 anos. “Porém, podemos considerar um número ainda modesto, se compararmos com o consumo de países como a Itália, que é próximo a 70 kg/ano, e a Turquia, cujo consumo per capita é de 86 kg/ano”, compara Sallit.
A cadeia produtiva de tomate tem forte relevância econômica no agronegócio brasileiro, pois movimenta uma cifra anual superior a R$ 2 bilhões (cerca de 16% do PIB gerados pela produção de hortaliças no Brasil). Aliado a isso, o cultivo é um dos mais importantes geradores de emprego na atividade rural do Brasil. “Se considerarmos somente o tomate de mesa, podemos estimar que a cultura emprega cerca de quatro pessoas de forma direta e mais quatro pessoas indiretamente. Isso representa uma oferta de serviços para aproximadamente 300 mil pessoas”, exemplifica Sallit.
A produtividade brasileira está em 59 toneladas por hectare ou cerca de 5 kg/pé ou 245 caixas/mil pés de tomate. Podemos afirmar que, nos últimos 20 anos, a tomaticultura nacional duplicou a produtividade, diz Sallit. “Já temos, atualmente, produtores e sistemas de cultivo, que alcançam rendimento superior a 100 toneladas por hectare, o equivalente a cerca de 9 kg por planta ou mais de 400 caixas por mil plantas”, destaca. Também no Brasil, produtores de tomate em estufa têm alcançado rendimentos expressivos, acima de 500 caixas de 22 kg em estufas médias de 350 m². Quanto ao segmento industrial, também houve um crescimento fantástico de produtividade no país, saltando de um rendimento de 35 toneladas na década de 90, para uma produtividade média próxima a 80 toneladas por hectare”, observa Sallit.
Custo de Produção e Rentabilidade
O custo de produção do tomate é um dos maiores em toda a atividade agrícola. De acordo com dados da Abcsem, o custo de produção apresenta grande variabilidade, ficando entre R$ 30 mil e R$ 55 mil por cada hectare plantado, dependendo da tecnologia empregada na produção e os níveis de produtividade que se espera obter na cultura. Já, a rentabilidade depende fortemente da flutuação de preço que esse cultivo tem no mercado, o que está, muitas vezes, associada à lei da oferta e demanda, além, naturalmente, da qualidade do fruto.
Maior demanda
O consumo de tomate está concentrado nos grandes centros urbanos, onde a estrutura de atacado e de varejo tem a responsabilidade de ofertar diferentes tipologias de tomate para os consumidores. “Seguramente, o tomate representa para as redes de supermercado um produto estratégico nas áreas de FLV (Frutas/Legumes/Verduras) e, hoje, não se pode conceber a ausência dessa hortaliça em suas gôndolas”, afirma Sallit. Também há uma preocupação constante com a qualidade, sabor e apresentação do produto, aspectos percebidos e valorizados pelo consumidor. “Cada vez mais o varejo passa a exigir qualidade de fruto, diferente tipologia de produto, segurança alimentar e regularidade de oferta, objetivando atender as demandas de seus clientes’, acredita.
As regiões produtoras de tomate de mesa no Brasil estão inseridas normalmente em regiões de planalto e chapada, aproveitando o máximo da amplitude térmica que esses ambientes oferecem ao longo do ciclo da cultura. No Sudeste, está a maior concentração da área plantada de tomate para consumo in natura, com 57%, sendo que São Paulo e Minas Gerais representam 43% desse total. Já o Sul do Brasil ocupa 19% da superfície, sendo o Paraná com 9%, Santa Catarina com 6% e Rio Grande do Sul com 4% desse total. O restante do Brasil, Centro Oeste e Nordeste participam com 24% do total da área plantada de tomate de mesa no país. Já, o tomate para processamento tem 62% de sua área em Goiás, 20%, em São Paulo e 16%, em Minas Gerais.
Considerações sobre o setor
De acordo com Sallit, o setor está desorganizado, não existindo atualmente uma associação de produtores capaz de dar uma direção para o negócio. Desta forma a “Abcsem acredita que alguns pontos importantes devem ser considerados para melhor entender o setor de tomate de mesa brasileiro e buscar soluções que contribuam com o seu desenvolvimento’. Confira abaixo alguns pontos destacados por ele:
- Zoneamento da Produção: inexistência de zoneamento da produção, que regule a oferta de tomate com a demanda de consumo;
- Instabilidade de Preços: forte instabilidade de preços devido a inexistência do zoneamento de produção;
- Questões Trabalhistas: o setor é um dos maiores geradores de emprego da atividade agrícola e está muito exposto às irregularidades em relação à legislação e segurança do trabalhador. Além disso, existe a necessidade de melhoria na qualificação da mão-de-obra;
- Controle de Resíduos, Rastreabilidade e Segurança Alimentar: ponto chave e crítico que irá nortear o setor nos próximos anos, haja vista a organização do varejo quanto à oferta de produtos ao consumidor sob um rígido controle da origem e da qualidade da produção;
- Valorização e Marketing junto a Diferentes Elos da Cadeia Produtiva: O setor tem que melhor explorar o verdadeiro valor nutricional do tomate, comunicando a sociedade quanto às qualidades nutricionais da espécie. Também uma efetiva segmentação de produtos, através das diferentes tipologias de frutos e de embalagens nas gôndolas dos supermercados é fundamental para levar essa diversificação e conhecimento aos consumidores.
- Ausência de Linha de Crédito: Apesar de termos um importante extrato de pequenos e médios produtores ávidos por uma linha de crédito, a atual disponibilidade do crédito está concentrada em outros cultivos, especialmente cereais.
- Inadimplência durante a Comercialização da Produção: A informalidade na negociação da produção ainda é grande, levando muitas vezes à inadimplência e aumentando o risco desse cultivo.