Michael Rozyne, comerciante e fundador da Red Tomato, ONG americana ligada à produção de hortifrutigranjeiros, levantou essa questão quando sua região, Massachussets, no nordeste dos EUA, passou por um difícil verão em 2009. Não que ele enfrentasse a concorrência de tomates chineses ou indianos, mas simplesmente de estados mais próximos.
A Red Tomato já tem uma história de 14 anos com a missão de estabelecer uma rede de fornecimento para os produtores locais. Eles se confrontam com problemas conhecidos dos agricultores brasileiros, como pequena escala de produção, sazonalidade e manter seus negócios sustentáveis. Na visão de Rozyne, uma produção local forte teria mais peso nas negociações, nas estratégias de mercado, nos preço de matérias-primas e até na influência sobre os supermercados.
O panorama na qual a Red Tomato foi fundada não ocorre exclusivamente nos Estados nidos. A globalização permitiu que grandes varejistas e revendedores comercializassem produtos padronizados, em quantidade e com oferta ao longo de todo ano. Gradativamente os pequenos e médios produtores locais não tiveram como concorrer com as gigantes fazendas produtoras, sendo solicitados apenas se houvesse problemas pontuais.
Para piorar, o fundador da ONG afirma que os agricultores vivem extremos econômicos, pois os que têm produtos na entressafra conseguem ótimos preços, mas isto acaba quando a safra normal chega.
Assim, é comum que os preços de venda na safra não cubram os custos de produção. Unido a isso, as grandes quantidades adquiridas pelos supermercados são às vezes mais baratas – e efetivamente mantêm a oferta constante. Rozyne afirma que isso se reflete até na percepção do consumidor, que nem acredita que sua região possa suprir suas necessidades. Entretanto, a verdade é que os supermercados não têm condições de lidar com tantos pequenos produtores.
Para o comerciante, a resposta para estes paradoxos seriam modelos inovadores de negócios, diferenciação de produtos, educação e um forte contato produtor/consumidor. O último item aproveitaria também o crescente interesse do público por questões de saúde alimentar, obesidade e meio ambiente. Em suas ações, a Red Tomato desenvolveu estratégias de marketing e distribuição, elaborou uma marca própria, embalagens e foi a pioneira em estipular um modelo de preço entre agricultores e varejistas. É um modelo de riscos partilhados para manter preços “dignos”, mas 40 produtores que se integraram à cadeia da ONG ultrapassaram US$ 3 milhões de vendas em 2008. E isso representa apenas uma fração dos hortifruti comercializados no Nordeste dos EUA.
A diferença para o consumidor acontece quando ele encontra produtos de excelente qualidade, embora sazonais, e que rendem lucros para produtores e até para os varejistas. Como afirma Rozyne, o próprio nome da ONG remete a uma ideia específica: “utilizei o nome ‘Red Tomato’ (tomate vermelho) apelando à memória das pessoas que se lembram de um alimento saboroso, macio e sumarento para contrastar com os tomates rosados, endurecidos e sem gosto de hoje”.
Há algumas semelhanças entre a ação da ONG americana e o projeto OrganicsNet, da Incubadora de Empresas da SNA, fundamentalmente o estabelecimento de uma rede de acesso ao mercado por produtores. Contudo, a Red Tomato enfrentou problemas mais específicos do consumidor americano, acostumado a comprar as mesmas frutas e hortifrutis durante o ano todo – relativamente baratos, independente da época – em supermercados.
Hoje a Red Tomato estendeu sua rede de associados por três estados, englobando uma boa diversidade de produtos e por um maior tempo a cada estação produtiva. Isto é uma arma contra o mau tempo, pragas ou incidentes que possam ocorrer, mantendo a sustentabilidade do modelo a longo prazo.
Outra ferramenta utilizada foi alterar as embalagens de acordo com a demanda, por exemplo: numa economia enfraquecida, o consumidor preferiria embalagens menores com preços mais baixos. A ONG também investiu em programas de segurança alimentar junto a seus produtores, estimulando-os a conseguir certificações de boas práticas de agricultura, bem como treinamento e certificações ecológicas. Entretanto, Michael Rozyne mantém constante sua luta por aumento de visibilidade, de apoio financeiro – já que a ONG não tem fundos próprios – seja através de seus sites ou programas externos. Suas articulações já mostraram que os produtores podem multiplicar suas forças ao selar parcerias; o desafio para que a Red Tomato continue atuante pelos próximos 10 anos será manter a sustentabilidade de seu projeto, servindo de modelo para outras instituições, produtores e até investidores.