Projeto executado por EPAMIG, Embrapa e Fundação Triângulo busca formas de incorporar o grão à dieta dos brasileiros
Estudos comprovam que a soja é um alimento altamente rico em proteínas, com índices que chegam ao dobro do feijão. No entanto, o consumo do grão e de seus derivados no Brasil ainda é baixo. Alguns fatores como sabor, pouca adaptabilidade do grão à culinária local e alto preço, no caso dos derivados, são apontados como causas desse insucesso.
Na tentativa de reverter esta situação, um grupo de pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Fundação Triângulo, realiza, desde 2004, em Uberaba, o projeto “Melhoramento Genético da Soja para a Alimentação Humana em Minas Gerais”. O objetivo é desenvolver um grão mais palatável que atenda ao paladar e às necessidades nutricionais da população. “Quando a soja chegou ao Brasil, o sabor não era agradável, atendia ao gosto da população asiática, não tinha identificação com a culinária brasileira”, explica a pesquisadora da EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba, Maria Eugênia Lisei de Sá.
Das variedades pesquisadas, a BRSMG 790A, lançada em 2008, chamou atenção por ter um sabor mais adocicado. “Esta variedade, que possui o hilo (ponto central do grão) amarelado, é mais palatável que as tradicionais e pode ser usada no preparo de saladas e de derivados como sucos e queijos”, diz Maria Eugênia. A pesquisadora aponta também a viabilidade econômica do uso dessa nova variedade pela indústria alimentícia. “Atualmente, as indústrias que produzem alimentos derivados da soja investem grandes quantias em processos para mascarar o sabor do grão. Essa nova espécie permite a redução desses gastos podendo levar ainda a uma queda dos preços ao consumidor”, afirma.
BRSMG 800A – A soja de Minas
Outra variedade que se destaca na pesquisa é a soja marrom. Testes de paladar realizados no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro (Ifet), apresentaram resultados positivos (nota 8, numa escala de 1 a 9) para a combinação do grão com feijão carioquinha (na proporção de 60% de soja por 40% de feijão) e na elaboração do “tropeiro de soja”. A pesquisadora da EPAMIG informa que esta variedade deve ser lançada no ano de 2010. “Nossa intenção é fazermos desta variedade, a BRSMG 800A, uma soja certificada e que seja identificada como a soja de Minas”.
A pesquisadora Maria Eugênia esteve na Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa) para apresentar os resultados alcançados pelo projeto. Os presentes puderam experimentar pratos como saladas e o “tropeiro de soja”.
Além de Maria Eugênia, participam do projeto “Melhoramento Genético da Soja para a Alimentação Humana em Minas Gerais” o também pesquisador da EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba Roberto Zito e o pesquisador da Embrapa, Neylson Abrantes.
Soja na merenda escolar
Os pesquisadores apresentaram à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) um projeto que visa introduzir alimentos à base de soja na merenda escolar (aguardando resultado do edital). “Em princípio propusemos nossa atuação em uma creche do município de Uberaba, mas a intenção é difundir essa ação para toda a população. Pretendemos criar a cultura do consumo de soja, eliminar preconceitos e conceitos prévios”, completa Maria Eugênia.
Chuvas favorecem doenças de soja
A previsão de chuvas acima da média para a próxima safra 2009/10 é muito bem-vinda para as culturas de verão, e são esperados altos rendimentos de grãos. Porém, existem doenças de soja que são favorecidas por alta umidade, como consequência do efeito do fenômeno El Niño, previsto para atuar nesta safra, principalmente nos estados do Sul e do Sudeste do Brasil. Em outubro, o NOAA, órgão oficial dos Estados Unidos responsável pelo centro de previsão climática norte-americano, previu a permanência do fenômeno neste verão, com intensidade moderada a forte, trazendo chuvas acima da média no verão no sul do país. O que se pode fazer para minimizar os impactos de doenças de soja na produção, em safras chuvosas?
A cultura da soja é suscetível a uma série de doenças, e cada fase da cultura tem suas doenças características. Na emergência, o excesso de umidade pode levar ao apodrecimento de sementes e ao tombamento de plântulas, causado, na maioria das vezes, por podridão radicular de fitóftora e, mais raramente, por tombamento por rizoctonia. Estas doenças ocasionam redução de estande inicial e replantios podem ser necessários. Nos dois casos, o tratamento de sementes com fungicidas é indicado e protege as plantas até, aproximadamente, 15 dias após a semeadura. Após este período, é mais difícil de ocorrerem problemas com rizoctonia, mas a fitóftora pode voltar a aparecer em cultivares suscetíveis, durante todo o ciclo da cultura. Nos dois casos, solo compactado favorece o desenvolvimento das doenças.
Além destas doenças, na fase vegetativa da cultura, o excesso de chuvas pode provocar maior severidade de septoriose, ou mancha parda, em folhas inferiores, e infecções precoces de cancro nas hastes. A septoriose, nesta fase, causa a queda de folhas inferiores da planta, mas, normalmente, fica restrita ao terço inferior do dossel. Já o cancro, penetrando nas plantas nesta fase, pode causar a morte das mesmas já a partir do florescimento, trazendo grandes prejuízos. Nos dois casos, rotação de culturas e tratamento de sementes são medidas que evitam a entrada da doença na área e reduzem sua quantidade, para os próximos anos. Até o momento, não há variedades resistentes, a não ser para o cancro da haste causado pela variedade meridionalis.
Temida ferrugem
A partir do florescimento, os anos chuvosos podem trazer problemas como a podridão vermelha da raiz e a temida ferrugem. Para ferrugem, ainda não há variedades resistentes lançadas para cultivo na região Sul do Brasil, mas o controle é eficiente com fungicidas, desde que aplicados no início do aparecimento dos sintomas ou preventivamente, e reaplicados de acordo com a reaparecimento da doença. Produtos formulados com mistura de estrobilurina e de triazol têm mostrado maior eficiência e, em aplicações sequenciais, deve-se evitar o uso dos mesmos princípios ativos. Já o controle da podridão vermelha da raiz é mais difícil. Nenhuma medida de controle isolada tem conseguido bons resultados. Indica-se a semeadura quando o solo estiver mais aquecido, além de descompactado.
No final do ciclo, as chuvas frequentes podem favorecer o complexo de doenças foliares de final de ciclo, para o qual, também, não há cultivares resistentes, mas que são controladas concomitantemente com as aplicações para ferrugem.
Assim, algumas medidas de controle devem ser tomadas antes mesmo da semeadura, enquanto outras podem ser usadas durante o ciclo da cultura. Consulte sempre um agrônomo para obter indicações técnicas sobre fungicidas, cultivares resistentes e técnicas de manejo cultural para o controle de doenças de soja.
Leila Maria Costamilan – Embrapa Trigo; Cláudia Vieira Godoy – Embrapa Soja
Identificada ferrugem em GO, MS e PR
A ferrugem asiática da soja acaba de ser identificada em lavouras comerciais de Aral Moreira (MS), Rio Verde (GO) e Cascavel (PR). Os três novos focos da doença foram cadastrados pela Fundação MS, Universidade de Rio Verde (Fesurv) e Coodetec, membros do Consórcio Antiferrugem. A partir de agora, são 22 os focos da doença na safra 2009/ 2010, sendo 4 em lavouras comerciais e 18 relacionados à soja voluntária ou irrigada.
Ao contrário das duas últimas safras, em 2009, não houve atraso na semeadura da soja. As lavouras cultivadas em meados de setembro já estão entrando em fase reprodutiva da planta (após floração). “A partir dessa fase, aumenta a probabilidade de ocorrência da doença por isso há a necessidade de monitoramento constante destas aéreas. O produtor deve estar atento para fazer o controle químico da doença no momento correto, evitando prejuízos econômicos e a disseminação da doença”, enfatiza a pesquisadora Cláudia Godoy, da Embrapa Soja.
De acordo com a Fundação MS, esta é a terceira safra em que a ferrugem aparece primeiro em Aral Moreira (MS) município onde tradicionalmente ocorre o início da semeadura da soja no Estado (a partir de primeiro de outubro). Atualmente, cerca de 10% das lavouras estão em fase reprodutiva (R1 a R3). “É uma região bastante próxima ao Paraguai, provável fonte de disseminação do inóculo da ferrugem para o Mato Grosso do Sul. Além disso, tem maior altitude em comparação com outras partes do Estado e consequentemente as noites contam com temperaturas mais amenas, favoráveis ao desenvolvimento da ferrugem”, explica Ricardo Barros, agrônomo da Fundação MS.
Segundo informações do professor da Fesurv, Luis Herique Carregal, na lavoura de Rio Verde, onde foi identificado o primeiro foco de ferrugem em Goiás, o produtor já havia feito aplicação de fungicida três dias antes do aparecimento da doença. Levantamento da Fesurv aponta que cerca de 35% das lavouras próximas a Rio Verde já estão em floração. De acordo com a pesquisadora Cláudia Godoy, as condições climáticas no inverno propiciaram a sobrevivência de plantas voluntárias e do fungo causador da ferrugem, o que pode estar favorecendo o aparecimento precoce da doença já nas primeiras lavouras em florescimento.