A agroindústria familiar é um empreendimento socialmente fundamental e tecnicamente viável
A melhor diferenciação para os produtos da agroindústria familiar processadora de alimentos é, sem dúvida nenhuma, a qualidade dos produtos elaborados. Quando se fala em qualidade, logo se pensa nos aspectos inquestionáveis da necessária segurança dos produtos, mas precisa-se, com urgência, também ter como objetivo a preservação dos aspectos sensoriais dos produtos elaborados, em termos de sabor, aroma, cor e textura.
Os consumidores precisam – e querem – novamente ter o prazer de saborear um bom produto. O que há de mais prazeroso do que sentir o aroma e sabor das frutas que o rótulo dos produtos nos indicam? Talvez para muitos consumidores seja importante sentir novamente o aroma e o sabor de frutas do cerrado brasileiro, por exemplo, ou de outros alimentos que tragam à sua memória lembranças agradáveis, que os remetam à sua infância saudável.
Conhecer este consumidor e informá-lo é dever do processador de alimentos consciente e interessado em manter o seu produto no mercado.
O consumidor pode até conhecer as diferenças sociais de um alimento processado por uma grande empresa e o da agricultura familiar, mas este consumidor precisa ser cativado, principalmente pela qualidade oferecida por estes produtos. O consumidor não pode ficar em dúvida sobre determinados aspectos dos produtos adquiridos. A maior parte das suas dúvidas deve ser sanada com as informações contidas nos rótulos.
Definitivamente, processar alimentos não é “cozinhar” em uma outra escala, é necessário, sim, conhecer e dominar as tecnologias envolvidas, estabelecer procedimentos, observar as normas de segurança e a legislação dos produtos, formar equipes de trabalho conscientes, adotar boas práticas de fabricação, informar o consumidor e preservar ao máximo as características do produto desejado.
Ciência e tecnologia de alimentos
Por esta razão, a Embrapa Agroindústria de Alimentos divulga e populariza os conhecimentos ligados à ciência e tecnologia de alimentos, tornando-os acessíveis àqueles que estão mais perto dos processadores da agroindústria familiar que são os futuros técnicos agrícolas e agropecuários.
Vários cursos e treinamentos têm sido realizados, assim como debates com produtores da agroindústria familiar, para levar não apenas informações e conhecimento, mas para juntos propormos soluções, como, por exemplo, acesso às linhas de financiamento para empreendimentos agroindustriais de pequeno porte.
Estas ações têm sido realizadas através do projeto “Comunicação para a popularização da ciência e tecnologia de alimentos” que é realizado pela Embrapa Agroindústria de Alimentos em parceria com quatro instituições de ensino técnico agrícola do estado do Rio de Janeiro e também com o Senar-Rio, Emater-Rio, Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento, Superintendência Federal de Agricultura no Estado do Rio de Janeiro e Firjan.
Para o pequeno processador de alimentos não é suficiente apenas saber fazer, é preciso conquistar o seu mercado através de produtos diferenciados e mantê-lo através da qualidade oferecida. É necessário conquistar definitivamente os novos consumidores desta geração e assim deve-se aliar qualidade à informação, oferecendo oportunidades para estes consumidores experimentarem novos sabores e manter a tradição de produtos consumidos pelos seus pais.
A agroindústria familiar é um empreendimento socialmente fundamental e tecnicamente viável, que tem outros desafios a enfrentar e um destes é a melhoria e a manutenção da qualidade dos produtos alimentícios.
A Revista Lavoura irá publicar oportunamente receitas de processamento caseiro, priorizando as práticas de qualidade e segurança; visando-a agregação de valor aos produtos produzidos pela agricultura familiar.
Renata Torrezan – Doutora em Tecnologia de Alimentos, Pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos
Mix de milho e soja para bebidas, massas e sopas
A combinação de soja e milho por meio da extrusão produz uma farinha instantânea nutritiva com até 18% de proteína. O mix desenvolvido pela Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro-RJ) é ideal para o preparo de bebidas lácteas e massas para bolos e biscoitos com sabor de milho ou ainda sopas cremosas que podem ser aromatizadas com bacon, queijo ou cebola.
Aproveitamento integral das matérias-primas
Em geral, o processo de extrusão resulta na gelatinização do amido, desnaturação da proteína, formação de complexos entre amido e lipídio e entre proteína e lipídio. Estas mudanças estruturais permitem o aproveitamento integral das matérias-primas em variadas combinações, aparências, sabores e texturas.
O milho é uma das matérias-primas mais utilizadas na indústria de alimentos. No entanto, o teor de proteína não passa de 7,5% e o alimento é deficiente em lisina e tripofano, dois aminoácidos essenciais importantes para a nutrição humana.
A soja em grão concentra 20% de proteína e tem sido reconhecida como excelente fonte para melhorar o perfil de aminoácidos e aumentar os conteúdos totais de proteínas e minerais como fósforo, cálcio, potássio, sódio, magnésio, ferro e cobre. Combinados, soja e milho geram um alimento de excelente qualidade nutricional capaz de fornecer 18% de proteína, 7% de lipídeos e 71% de carboidratos.
Extrusoras de pequeno porte fazem até 50kg de mix de soja e milho por hora.
Estocar sem perder a qualidade
O custo de um quilo de mix fica em torno de R$ 0,50 sem embalagem. Em condições adequadas, o produto pode ser estocado por até um ano sem perda da qualidade.
“O mix é versátil e entra como ingrediente numa ampla rede de produtos, podendo atender demandas específicas para creches, empresas e hospitais”, afirmou o pesquisador José Luis Asqueri, da Embrapa Agroindústria de Alimentos.