Um dos grandes desafios é encontrar parceiros que testem e atestem as características dos produtos com valor agregado
A Amazônia brasileira abriga uma diversidade de produtos que servem como fonte de renda para milhares de famílias. Como melhorar as diversas cadeias produtivas e tornar estes produtos mais atrativos para os mercados foi o principal enfoque de uma reunião técnica entre representantes das unidades da Embrapa da região Norte, do Ceará e Rio de Janeiro.
A reunião representou o ponto de partida para uma ação conjugada entre as unidades do Norte e os centros temáticos que trabalham com tecnologias de alimentos – Embrapa Agroindustrial Tropical (Fortaleza) e Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro). Técnicos do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Cooperação Técnica Alemã (GZT) e da Rede de Inovação e Prospecção Tecnológica para o Agronegócio (RIPA) também participaram do encontro.
“Agregar valor a produtos como forma de torná-los mais sustentáveis e rentáveis é um tema recorrente na Amazônia. Estamos contextualizando as pesquisas existentes para avaliar como podemos ampliar o horizonte de atuação e de que forma elas podem se complementar. A articulação entre as unidades pode fortalecer a atuação da Embrapa na região amazônica e contribuir para respostas mais rápidas a demandas comuns aos estados”, afirma Tatiana Sá, diretora executiva da Embrapa.
Para a pesquisadora Lúcia Helena Wadt, chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Acre, este é um momento de decisões estratégicas que vão definir os rumos dos trabalhos de pesquisa com produtos da floresta, nas unidades. Embora alguns produtos sejam universais no contexto amazônico, cada estado apresenta potencialidades distintas e investe nos produtos com maior apelo comercial.
Na avaliação do chefe de Inovação Tecnológica da Embrapa Agroindústria Tropical, Lucas Antonio Leite, falta uma ponte com um setor privado. Um dos grandes desafios é encontrar parceiros que testem e atestem as características dos produtos com valor agregado. Ele diz que a agregação de valor precisa ser reconhecida como diferencial comercial. Por isto, as prioridades da região devem ser trabalhadas de forma transversal, incluindo a articulação com parceiros externos como as universidades e empresas da iniciativa privada.
Desafios e oportunidades
Os desafios e oportunidades para a Embrapa na agregação de valor a produtos amazônicos estão sendo costurados a partir dos cenários descritos no Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade. O documento definiu os produtos prioritários para a Amazônia e formalizou a política para sua comercialização, centrada na produção e extrativismo sustentáveis, aperfeiçoamento de processos industriais e no mercado diferenciado.
No rol dos produtos amazônicos destacam-se a castanha-do-Brasil, babaçu, óleo de andiroba e copaíba, pupunha, farinha de mandioca entre outros. Somente a castanha-do-Brasil e o babaçu beneficiam cerca de 500 mil famílias de extrativistas e quebradeiras de coco, movimentando anualmente cerda de R$ 160 milhões. De acordo com Hétel Santos, técnica do MMA, o Plano prevê a articulação entre diversos atores, em nível nacional, estadual e local na busca de alternativas para melhorar as cadeias produtivas estratégicas da sociobiodiversidade.
No caso da castanha-do-brasil, segundo diagnóstico elaborado pela GTZ, os principais gargalos comerciais da cadeia produtiva são a baixa oferta de produtos com qualidade, deficiência no serviço de apoio aos elos da cadeia produtiva, acesso restrito aos mercados, baixa capacidade organizacional, logística de escoamento deficiente e pouco acesso ao produto.
“Nós apostamos na relação com os estados e a Embrapa é uma forte parceira nos arranjos institucionais por que pode atuar tanto na transferência das boas práticas de manejo de espécies extrativistas, como no desenvolvimento de tecnologias voltadas para a redução dos níveis de contaminação destes produtos, como forma de atender às demandas dos mercados nacional e internacional”, diz Hétel Santos.
Entre os resultados práticos da reunião estão a definição de linhas de pesquisa e transferência de tecnologias, e a articulação de projetos integrados voltados para ações que possam agregar valor aos produtos da Amazônia. Segundo Carlos Lazarini, chefe do DPD, a intenção é tornar o trabalho das unidades mais intensivo, aproveitando as oportunidades que o mercado oferece. “Temos condições de oferecer produtos com valor agregado capazes de competir tanto no Brasil como no exterior. A ideia é abrir espaço para novos projetos em futuros editais”, afirma.
Diva Gonçalves – Embrapa Acre
Farinha de castanha: matéria-prima para várias delícias
A castanha-do-Brasil é a principal fonte de renda para milhares de famílias extrativistas da Amazônia, em especial, nos estados do Acre, Amazonas, Amapá e Pará. A produção média atualmente é de 25 mil toneladas/ano, mas esse volume já foi bem maior e isso tem gerado impactos diretos na vida dos extrativistas e na conservação da floresta.
O produto é aproveitado de diversas maneiras, podendo ser consumida ou usada para extração de óleo, como mistura em farinhas ou rações e em forma de leite em pratos da culinária regional. Pesquisas comprovam que o seu consumo diário ajuda no combate à desnutrição infantil e na prevenção de alguns tipos de câncer e doenças do coração.
A explicação para isto está na composição da amêndoa, que é rica em vitaminas, proteínas, lipídios, gorduras, carboidratos, fibras, magnésio e potássio. Além disso, é uma fonte riquíssima de selênio, substância mineral cujo efeito antioxidante ajuda no combate aos radicais livres. Nos últimos anos a Embrapa Acre (Rio Branco) vem investindo em pesquisas para elevar o valor comercial da castanha e estimular o seu consumo nos mercados interno e internacional.
Entre os subprodutos criados pela empresa, estão a castanha despeliculada salgada, a castanha picante e uma versão doce com gengibre e canela. Outra novidade é a farinha desengordura, desenvolvida em parceria com o Grupo Miragina. A mistura pode ser usada no preparo de massas para pães, bolos, biscoitos e mingaus. Testado em escolas da rede pública de ensino de Rio Branco-AC, como ingrediente no preparo da merenda escolar, o produto auxilia no combate à desnutrição infantil.