Do ponto de vista da sustentabilidade da agricultura, são inegáveis os inúmeros benefícios da adoção do SPD
O conceito de plantio direto nos EUA foi introduzido nos anos 60, sendo que no Brasil o Sistema Plantio Direto (SPD) surgiu na década de 70, no Rio Grande do Sul e no Paraná, principalmente nas regiões de Castro e Ponta Grossa. Com a evolução na indústria de máquinas e de herbicidas, a partir do final dos anos 80, houve uma expansão significativa do uso do SPD na Região Sul e mais recentemente, na Região Centro-Oeste.
O SPD é a forma de manejo conservacionista que envolve todas as técnicas recomendadas para aumentar a produtividade, conservando ou melhorando continuamente o ambiente. Fundamenta-se em três premissas básicas: não revolvimento do solo, formação de palha e rotação de culturas.
O Sistema Plantio Direto e as doenças de plantas
Com a expansão do SPD para diversas regiões do Brasil e, consequentemente, o surgimento de doenças de plantas de uma forma mais expressiva, há tempos discute-se o porquê do aumento dessas enfermidades neste sistema. O SPD realmente aumenta a ocorrência de doenças? Considerando que o SPD cria condições favoráveis à sobrevivência e multiplicação dos fitopatógenos necrotróficos (que se alimentam de tecidos mortos – agentes causais de manchas foliares e podridões radiculares) nos restos culturais deixados no solo, é de se esperar um aumento da incidência de doenças. Isto nos leva a concluir que este sistema contribui de forma significativa na sobrevivência desses organismos.
Entretanto, considerando que o SPD pressupõe a adoção da rotação de culturas, e que esta assume caráter imperativo na sustentabilidade desse sistema, em geral não se observa o aumento da ocorrência de doenças quando a rotação é adotada, utilizando espécies não hospedeiras. Por outro lado, caso se tente fazer o plantio direto em monocultura, todas as doenças causadas por parasitas necrotróficos aumentam de intensidade. Deve-se ressaltar que o SPD não afeta a ocorrência ou a gravidade das doenças causadas por parasitas biotróficos (que se alimentam de tecidos vivos – agentes causais de ferrugens, oídios, carvões e viroses).
Técnicas integradas de manejo
Do ponto de vista fitopatológico e epidemiológico, a sustentabilidade do SPD pauta-se em três técnicas integradas de manejo: utilização de sementes sadias e tratadas com fungicidas; uso de cultivares resistentes e adoção da rotação de culturas. Considerando a possibilidade de não se dispor de cultivares resistentes a várias doenças de importância econômica, e também ao fato de que nem sempre uma cultivar resistente a uma doença é a mais aceita sob o ponto de vista agronômico, a falta de cultivares resistentes não deve ser fator limitante para a adoção do SPD. Entretanto, a utilização de sementes sadias e tratadas com fungicidas e a adoção da rotação de culturas devem ser obrigatórios no SPD. Com isto, evita-se a introdução de patógenos em campos de cultivo instalados neste sistema, bem como a sua reintrodução em áreas cultivadas em SPD nas quais a doença já ocorreu, mas, em função da adoção de práticas eficientes de controle (rotação de culturas, por exemplo), ficou livre da mesma, uma vez que não há restos culturais infectados servindo como fonte de inóculo.
A maioria das doenças de importância econômica que ocorrem nas culturas normalmente empregadas no SPD é causada por patógenos que podem ser transmitidos pelas sementes. Conforme comentado anteriormente, o tratamento das sementes com fungicidas, mais do que necessário, é obrigatório no SPD. A adoção desta prática é recomendada para evitar que as sementes introduzam os parasitas necrotróficos na lavoura. No entanto, o mesmo só será eficiente nos campos em que a lavoura é cultivada em rotação de culturas, ou seja, onde não há resto cultural infectado e servindo como fonte de inóculo.
Sustentabilidade
Do ponto de vista da sustentabilidade da agricultura, são inegáveis os inúmeros benefícios da adoção do SPD. Entretanto, considerando a extensão territorial do Brasil, deve-se admitir que as condições edafoclimáticas são totalmente diferentes de uma região para outra, contribuindo grandemente para a diferenciação dos problemas fitossanitários. Isto quer dizer que doenças que são importantes numa região poderão não ser em outra. Desta forma, torna-se oportuno deixar claro que o SPD não é a solução definitiva para todos os problemas fitossanitários. Entretanto, deve-se sempre ter em mente que independentemente da região onde o SPD será adotado, torna-se obrigatória a adoção da rotação de culturas juntamente com a utilização de sementes sadias e tratadas com fungicidas, como maneira de viabilizá-lo. Desta forma, espera-se que pela prática do manejo integrado a sustentabilidade econômica e ecológica seja alcançada.
Augusto César Pereira Goulart – Engº. Agrº. M.Sc. Fitopatologia/Patologia de Sementes da Embrapa Agropecuária Oeste
Tratamento de sementes de soja com fungicidas: eficácia e baixo custo
No mês de outubro começa o período de semeadura de soja em Mato Grosso do Sul, segundo o zoneamento agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) da cultura para a safra 2009/10. No planejamento do processo produtivo, um dos pontos que o produtor considera como mais importante é o financeiro. Levando-se em conta todos os gastos necessários para a produção da lavoura, o tratamento de sementes com fungicidas é a prática de menor custo, quando comparada com as demais. A orientação é do pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), Augusto César Pereira Goulart.
Segundo ele, a prática representa aproximadamente 0,6% do custo total de produção. “Nem sempre a semeadura é realizada em condições ideais, o que resulta em sérios problemas de emergência caso o tratamento de sementes com fungicidas não seja realizado, havendo, muitas vezes, a necessidade da ressemeadura, o que acarreta enormes prejuízos ao produtor”, explica. No caso da soja, o pesquisador acrescenta que a ressemeadura no Sistema Convencional pode representar 11,43% a mais no custo de produção. Já no Sistema Plantio Direto, no qual a ressemeadura exige o uso de herbicidas, o prejuízo é maior, representando 17,93% a mais no custo de produção.
Importância do tratamento
De acordo com o pesquisador, quando semeada em solos com boa disponibilidade de água e temperaturas adequadas, a soja começa o processo de germinação e emerge rapidamente. Quando essas condições não são satisfeitas, as sementes ficam armazenadas no solo à espera de condições favoráveis para o início do processo. Durante esse tempo, a germinação e emergência da soja ocorrem mais lentamente, proporcionando aos fungos do solo e da própria semente maior oportunidade de ataque, podendo causar sua deterioração ou a morte de plântulas.
“Nessas condições, torna-se imprescindível a utilização do tratamento das sementes de soja com fungicidas. Esta prática proporciona maiores benefícios quando as sementes – ou a plântula – são submetidas a diferentes tipos de estresse durante as duas primeiras semanas após a semeadura. O tratamento das sementes com fungicidas promove uma zona de proteção ao redor da mesma contra os micro-organismos do solo e previne a sua deterioração nesse período”, diz Augusto.
O pesquisador afirma que o tratamento de sementes de soja é recomendado quando: as sementes estiverem contaminadas por fungos fitopatogênicos (determinado através da realização do teste de sanidade de sementes); as condições de semeadura são adversas, tais como ocorrência de chuvas muito pesadas, que provocam a formação de uma crosta grossa na superfície do solo, dificultando a emergência das plântulas, solo compactado, semeadura profunda, semeadura em solo com baixa disponibilidade hídrica, semeaduras em solos com baixas temperaturas e alto teor de umidade e principalmente em casos de práticas de rotação de culturas ou de cultivo em áreas novas.
Aplicação
O tratamento deve ser feito, preferencialmente, em tratadores de sementes, na unidade de beneficiamento (máquinas de tratar sementes) ou utilizando um tambor giratório com eixo excêntrico. Durante a operação de tratamento, o fungicida sempre deverá ser aplicado em primeiro lugar, para garantir boa cobertura e aderência do mesmo às sementes. Isto também vale para a adição de grafite nas sementes de soja (prática comum entre os produtores, que tem como finalidade proporcionar melhor fluxo das sementes na semeadora), o qual deverá ser incorporado às sementes após a aplicação dos fungicidas.
Entre os fungicidas de contato e sistêmicos, e suas misturas, recomendados para o tratamento de sementes de soja, os mais usados são: Derosal Plus e Protreat – 200ml/ 100kg de sementes (carbendazin + thiram); Vitavax-thiram – 250ml/ 100kg de sementes (carboxin + thiram) e Maxim XL – 100ml/ 100kg de sementes (fludioxonil + mefenoxan).