A maciez da carne diminui com o aumento da proporção de Zebu nos animais. Um estudo quer avaliar a possibilidade de se aumentar a proporção de Bos taurus nos animais, visando a melhoria da qualidade da carne
Dentre os fatores que determinam a qualidade da carne estão os atributos organolépticos e, dentre esses, a maciez é o mais valorizado pelo consumidor. Sabe-se que o genótipo do animal é um dos fatores ante-mortem que atuam sobre a maciez da carne e que, em razão do clima predominante no País, cerca de 80% do rebanho bovino do Brasil é de gado Zebu ou de animais azebuados que, reconhecidamente, apresentam níveis inferiores de qualidade de carne, especialmente maciez, quando comparados com gado Bos taurus.
Vários trabalhos indicam que a maciez da carne diminui com o aumento da proporção de Zebu nos animais e existem autores que dizem que o gado não deveria ter mais de 25% de raças zebuínas. A existência de raças taurinas adaptadas abre perspectivas de se aumentar a proporção de Bos taurus nos animais sem reduzir a adaptação às condições das regiões de clima tropical e subtropical, para produzir um produto que satisfaça os anseios do mercado consumidor. Para isso, é necessário avaliar estratégias de utilização de recursos genéticos para as várias regiões e os diversos sistemas de produção do País.
O projeto de Cruzamento entre Raças Bovinas de Corte tem o objetivo geral de avaliar estratégias de utilização de recursos genéticos animais para produção eficiente de carne bovina de qualidade, em diferentes regiões do País. O objetivo específico é avaliar o desempenho de cruzamentos envolvendo a raça Nelore e raças taurinas adaptadas e não-adaptadas visando à obtenção de animais precoces e produtores de carne macia de boa qualidade, adaptados às condições tropicais e subtropicais.
Diferentes estratégias de cruzamentos
Esse projeto componente é composto por cinco planos de ação em que são avaliadas diferentes estratégias de cruzamentos entre raças bovinas (taurinas adap tadas e não-adaptadas e zebuínas), específicas para cada uma das regiões consideradas no projeto. O que se pretende é avaliar a possibilidade de se aumentar a proporção de Bos taurus nos animais, além de 50%, visando à melhoria da qualidade da carne, maciez, principalmente, sem reduzir a adaptação às condições locais de ambiente.
Os planos de ação são desenvolvidos pela Embrapa Meio-Norte, em Teresina; Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande; Embrapa Pecuária Sul, em Bagé; e Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos; e terão atividades executadas também na ESALQ/USP, em Piracicaba; IZ/SP, em Nova Odessa; e FCAV/UNESP, em Jaboticabal. O projeto fornecerá alternativas de utilização de recursos genéticos adaptados, visando à produção de carne de qualidade, com redução do ciclo de produção e do uso de produtos químicos no combate a parasitas.
O Plano de Ação conduzido pela Embrapa Meio-Norte, denominado Cruzamento para Otimizar o Desempenho Materno e Reprodutivo de Vacas de Corte e a Qualidade da Carne na Região Nordeste, tem como objetivo principal avaliar os produtos de cruzamento entre Nelore e Pé-Duro. O projeto já se encontra no segundo ano e terá duração de quatro ciclos reprodutivos. Os tratamentos se dividem em três lotes de cruzamentos, Nelore x Nelore, Nelore x Pé-Duro e Pé-Duro x Pé-Duro.
Os produtos dos respectivos cruzamentos terão seu desempenho ponderal e resistência a parasitas avaliados e, após confinamento terminal, terão suas carcaças avaliadas e a maciez da carne será medida. Os resultados finais, se favoráveis, poderão tirar os bovinos da raça Pé-Duro do risco de extinção e inserir essa raça no mercado, como uma alternativa para cruzamentos visando à produção de carne de qualidade nas regiões semi-áridas e tropicais do Brasil.
Geraldo Magela Côrtes Carvalho Pesquisador da Embrapa Meio-Norte
Bem-estar animal
Pesquisa da ESALQ avalia manejo de novilhas como fator de melhoria na produtividade de leite
O desempenho do agronegócio é medido, ente outros fatores, pela curva de produtividade e pela consequente aceitação de cada produto no mercado nacional e internacional. No caso da produção leiteira, por exemplo, não basta aos produtores atenderem as necessidades nutricionais e sanitárias de sua criação. Pesquisas direcionadas ao bem- -estar dos animais vem sendo desenvolvidas no sentido de considerar condições de ambiente como fator essencial na melhoria do desempenho no campo.
Em fazendas leiteiras, a criação de novilhas ocorre utilizando pastagens, mesmo quando as vacas em produção são confinadas. “Nessas condições, o fornecimento de sombra garante a redução da carga térmica, proporcionando um ambiente mais fresco”, revela a agrônoma Maristela Neves da Conceição, autora do estudo “Avaliação da influência do sombreamento artificial no desenvolvimento de novilhas leiteiras em pastagens”. A mesma linha vem seguindo Elisabete Maria Mellace, que está para encerrar a pesquisa “Eficiência da área de sombreamento artificial no bem-estar de novilhas leiteiras criadas a pasto”. Os dois trabalhos foram realizados junto ao Núcleo de Pesquisa em Ambiência (NUPEA), na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ ESALQ).
Orientadas pelo professor Iran José Oliveira Silva, do departamento de Engenharia Rural (LER), as pesquisadoras avaliaram e quantifi caram o efeito do sombreamento artificial proporcionado por diferentes tipos de materiais de cobertura sobre a fisiologia, o comportamento e o desenvolvimento de novilhas leiteiras em ambiente de pastagens, bem como as áreas de sombreamento ideais para o melhor conforto e desempenho dos animais. No estudo além dos materiais de cobertura, avaliaram-se as áreas de 1,5; 3,0; 5,0 e 8,0m2 de fornecimento de sombra as novilhas. Indicativos da FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) evidenciam aumento na demanda mundial por leite produzido em sistemas orgânicos, definido pelo National Organic Program dos EUA o manejo em que os animais ficam em pastagens no mínimo 120 dias ao ano. “Em função de sua característica produtiva, a pecuária leiteira brasileira possui um grande potencial para suprir esta demanda”, diz Maristela. Na prática, foram observadas a frequência respiratória, a temperatura de pelame e a temperatura retal de 32 novilhas, que tiveram a disposição espaços de sombreamento com telhas de fibrocimento sem cimento amianto, telhas galvanizadas e tela de polipropileno. “A busca dos animais por sombra e lugares mais frescos é evidente, comprovando a necessidade de se atenuar os efeitos do calor, porém o que se observa é que são raras as propriedades com disponibilidade de uma simples sombra, seja ela provida por árvores ou qualquer tipo de cobertura”, comenta.
Em síntese, a análise de custo informa a cobertura de fibrocimento como a mais indicada para a construção de abrigos considerando-se os resultados, que indicaram haver melhora no bem-estar térmico das novilhas, como por exemplo a diminuição na frequência respiratória. “O produtor que optar pelo fornecimento do sombreamento artificial que este seja de telhas de fibrocimento, porém, a tomada de decisão deverá ser considerada em função da viabilidade técnica econômica e do nível produtivo do empreendimento”, avalia a pesquisadora.
Na pesquisa conduzida por Elisabete Mellace, a partir da avaliação de todos os parâmetros (físicos, fisiológicos e comportamentais) das novilhas, a melhor área de sombreamento artificial é de 3,0m2. “É importante avaliar as condições de animais jovens, pois tratar bem das novilhas de hoje significa garantir um melhor aproveitamento do rebanho leiteiro de amanhã”, conclui.