Com pesquisas constantes, cada vez mais a clonagem se afasta da ficção Embora historicamente recente, março de 2001 trouxe ao Brasil uma conquista científica marcante: o nascimento da bezerra da raça Simental “Vitória da Embrapa”, o primeiro clone bovino da América Latina desenvolvido pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Além do próprio desafio da pesquisa, com seus limites e dúvidas a serem quebrados ou mesmo descobertos, a Embrapa ainda lidou com o infortúnio da perda de um animal de grande potencial genético, a fêmea T. Melo Lenda. Porém, a empresa reverteu a desvantagem ao usar a técnica de aproveitamento da membrana que circunda o óvulo, chamada de camada granulosa. Segundo o pesquisador líder da equipe de reprodução animal desta unidade da Embrapa, Rodolfo Rumpf, este procedimento foi utilizado pois os óvulos em si não originaram embriões, e a alternativa foi aproveitar os núcleos da granulosa como já fora feito no Havaí e na Nova Zelândia.
O processo é chamado de transferência nuclear (TN), o mais importante atualmente pois permite a clonagem de animais adultos. Apesar disso, de 24 “óvulos reconstituídos” (aqueles com o núcleo da vaca Melo Lenda) só um se desenvolveu e transformou-se na bezerra Lenda da Embrapa, que nasceu em setembro de 2003.
Desde que o sonho dos escritores ficou mais próximo da realidade dos cientistas, especulava-se que o tempo de vida dos clones seria abreviado ou sua fertilidade seria afetada. Pelo menos com Lenda tudo vem correndo com normalidade, e o animal gerou inclusive uma cria de nome Fábula. O assunto da clonagem enfrenta sérias questões técnicas, éticas e até religiosas que estão longe de resolução, mas a Embrapa antevê aplicações positivas, como a obtenção de sistemas de produção mais sustentáveis na agricultura nacional e a melhoria da alimentação e saúde. Na pecuária em geral – como aconteceu experimentalmente com Lenda – o aproveitamento de uma genética interessante; conservação de espécies em extinção e o talvez mais ambicioso: o uso de células para o combate a doenças.
Em linhas gerais, cada célula de todos os seres vivos tem uma “missão”: uma célula da córnea nunca “aprenderá” a fabricar insulina. Contudo, a famosa ovelha Dolly, clonada a partir de uma célula – que não era um óvulo – retirada de um adulto mostrou em algum grau as células podem ser “reprogramadas” para terem novas funções – incluindo a reposição de células cerebrais danificadas pelo Mal de Parkinson ou acidentes.
O Homem ainda está engatinhando na obtenção de resultados com qualidade e quantidade; por exemplo, 276 irmãos de Dolly não foram viáveis. Mas essas pesquisas abrem mais um campo de esperanças para os doentes, mais lucros e produção para empresários e uma corrida dos cientistas por resultados ambiciosos, algo que geralmente não acontece sem controvérsias.