A circovirose debilita o sistema imunológico e pode estar associada a outras doenças
Conhecida também por Síndrome Multissistêmica do Definhamento dos Suínos (SMDS), a circovirose gera grande preocupação à suinocultura mundial. Descoberta recente da ciência, a doença, que ataca o sistema imunológico de suínos e geralmente está associada a outras enfermidades, é causa significativa de mortalidade entre leitões e animais em engorda.
No Brasil, ainda não há estimativas confiáveis sobre o impacto da doença. Mas é fato para integradores, sanitaristas, técnicos e suinocultores das principais regiões produtoras que a doença se espalha pelos plantéis brasileiros, causando prejuízos. A circovirose suína foi diagnosticada pela primeira vez no Canadá, em 1990. É causada pelo circovirus suíno, da família Circoviridae, um dos menores organismos que acometem animais domésticos no mundo, também altamente contagioso, resistente ao ambiente e praticamente imune à maioria dos desinfectantes convencionais.
Sendo uma doença imonossupressora, ou seja, que debilita o sistema de imunológico do animal, a circovirose está associada, normalmente, a outras doenças. Entre 6% e 8%, ou mais, dos animais infectados morrem. Os sintomas clínicos costumam aparecer entre o pós-desmame e o início da engorda (2 a 4 meses). O mais comum é o definhamento do organismo. Outros sintomas que podem aparecer são apatia, em diferentes graus de severidade, icterícia, lesões cutâneas e adenopatias, ulcerações gástricas, hemorragias cutâneas, adenopatias, emaciação com tosse e outros. É importante salientar que nem todos os animais infectados desenvolvam a doença. O controle pode ser realizado com a observação dos postulados de Madec, conjunto de medidas para dirimir a persistência do vírus e estimular a resposta imunológica dos animais. Além disso, podem ser usados suplementos nutricionais nutracêuticos, antibióticos bactericidas (em animais já afetados não se recomenda o uso de bacteriostáticos, pois sua eficácia depende do bom estado do sistema imunológico) e imunização, esta uma importante ferramenta preventiva.
A vacinação das matrizes confere imunidade aos leitões, via colostro. As marrãs devem ser imunizadas antes do acasalamento ou inseminação, com dose de reforço no periparto e a cada parição, recomendação também válida para matrizes. Em 2007 chegou ao Brasil a primeira vacina para prevenção da doença, a dose em fêmeas é de 2 ml por animal, a dose é de 0,5 ml por animal, a partir de 3 semanas de idade nos momentos em que a utilização da vacina se faz necessária, principalmente quando há mal manejo de colostro.
Edson Bordin Médico Veterinário, Patologista, e Gerente Técnico da Merial Saúde Animal
Zootecnia de precisão Pesquisa avalia nível de ruído emitido por suínos como fator de bem-estar
Vários são os indicativos de bem-estar animal que, atualmente, se apresentam como uma exigência mundial para os sistemas de produção industrial de animais. Além de todos os cuidados com a sanidade, nutrição, avanços no melhoramento genético, há uma preocupação na comunidade científica em dar respostas ao comportamento dos animais e seu bem-estar. Partindo do princípio que a linguagem animal é comportamental, pesquisadores já iniciaram há alguns anos estudos sobre a emissão e identificação dos sons emitidos pelos mesmos e a pressão sonora (ruído) emitida pelos animais é outro indicativo de conforto. “No caso da suinocultura, tanto o nível de ruído quanto a vocalização tem-se mostrado uma informação bastante interessante, pois fornecem dados do animal de forma não invasiva”, afirma Giselle Borges, engenheira agrícola que desenvolveu, junto ao Núcleo de Pesquisa em Ambiência (NUPEA) da ESALQ – USP, um estudo com suínos nas fases de pós-desmame e creche.
Conduzida sob orientação da professora Késia Oliveira da Silva Miranda, a agrônoma delineou a pesquisa em uma granja comercial no município de Monte Mor/SP, instalando decibelímetros para a captação do nível de ruído emitido pelos suínos em confinamento. Para a situação de campo, os animais apresentaram níveis de ruídos mais elevados quando em situações de desconforto térmico, comparados à condição de conforto. Porém, em experimento conduzido em câmara climática, foi estudada a emissão do nível sonoro dos suínos quando submetidos a variações na temperatura ambiente, partindo de um ambiente confortável até uma condição de estresse térmico elevado. Em câmara climática, os suínos apresentaram nível de ruído mais elevado em condições de conforto, quando comparado ao desconforto, fato esse, devido à elevada temperatura (38OC) em que foram expostos, ocasionando a prostração dos animais.
Ambiente exerce grande influência
“Os resultados encontrados em ambos os estudos, apesar de divergentes entre si, servem para ilustrar que, quando se trabalha com pesquisas envolvendo animais de produção, com o objetivo de caracterizar suas condições de bem-estar, a mudança de ambiente exerce grande influência nas respostas, sejam elas comportamentais (incluindo as sonoras), fisiológicas e muitas vezes produtivas. Como o nível de ruído é uma variável que depende somente dos animais e do ambiente no qual estão confinados, a comparação entre os resultados é uma tarefa árdua e soluções complicadas no momento envolvendo softwares de transformação de sinais e o estabelecimento de condições padrões de “sons” característicos de cada situação”, destaca a pesquisadora.
Segundo Giselle, trata-se de uma área inovadora no país, onde existem poucos profissionais que atuam em estudos relacionando à resposta dos animais quanto as diversas situações do ambiente de produção intensiva, por intermédio da emissão de ruídos. “Esta área é recente e desafiadora e ainda temos muito que trabalhar nessa linha de pesquisa. Com os resultados obtidos, adquirimos um banco de dados dos níveis sonoros dos suínos, e pretendemos, futuramente, subsidiar aos produtores com um software para aquisição e análise das informações fornecidas pelos próprios animais. Assim, os produtores terão em mãos um auxiliar na tomada de decisão, que proporcionará condições ideais e necessárias, e atenderá às exigências das normas de bem-estar animal e consequente redução de perdas na produtividade”, enfatiza. A engenheira agrícola ainda esclarece que “esta é uma linha de trabalho do NUPEA, que envolve engenheiros agrícolas e agrônomos, médicos veterinários, zootecnistas, analista de sistemas e engenheiros de softwares. Não há dúvidas que, em poucos anos, os animais estarão expressando por sons e ruídos que serão facilmente identificados pelos tratadores, produtores e profissionais da produção”, prevê a autora da pesquisa.