O feijão-de-corda (caupi), do tipo feijão-de-metro BRS Lauré e BRS Raíra têm qualidade de vagens, elevada produtividade e bom porte para o cultivo em espaldeiras
Cores diferenciadas, qualidade de vagens e elevada produtividade são as principais características das duas novas cultivares de feijão-caupi (feijão-de-corda), do tipo feijão-de-metro, que a Embrapa Amazônia Oriental (PA) apresenta ao mercado.
Rui Alberto Gomes, pesquisador da estatal, explica que a cultivar BRS Lauré, com vagem de coloração roxo-avermelhada, e a BRS Raíra, com vagem verde-oliva, são recomendadas para plantio no estado do Pará, com potencial para cultivo também outras em regiões com clima quente.
“Ambas apresentam arquitetura de planta ajustada ao cultivo em tutores (espaldeiras)”, ressalta.
Primeira cultivar roxo-avermelhada
Ele salienta que a BRS Lauré é a primeira cultivar com essa coloração desenvolvida pela pesquisa para o mercado do Norte do Brasil.
“É um produto novo que atrai pelo apelo visual, mas que apresenta elevada produtividade e distribuição bem equilibrada de vagens ao longo do dossel da planta”, diz.
O pesquisador da Embrapa destaca que, nos testes em campo, a média de produtividade da BRS Lauré foi de 11,6 toneladas de vagem fresca por hectare, enquanto a média dos materiais utilizados atualmente no campo foi de 7,6 t/ha, a cultivar comercial; e de 8,6 t/ha, uma variedade crioula bastante cultivada na região.
Vagem boa para o consumo
Já a BRS Raíra, que possui vagens na cor verde-oliva, mais claras que as vagens tradicionais, de acordo com informação de Gomes, produziu mais de 10 toneladas de vagem fresca por hectare, enquanto os materiais tradicionais ficaram entre 7 (cultivar comercial) e 8,6 t/hectare (variedade crioula).
“Essa cultivar tem vagens longas, no padrão do mercado consumidor, e são boas para o consumo em virtude do baixo teor de fibra”, reforça o pesquisador.
Ele destaca que, tanto em períodos secos quanto chuvosos, o desempenho produtivo das duas cultivares se mostrou superior ao das variedades em uso atualmente. “A BRS Raíra e BRS Lauré apresentaram boa tolerância ao estresse hídrico (falta de chuvas) e às elevadas temperaturas”, revela o especialista.
Cultivo o ano todo
Gomes orienta que o feijão-de-metro é cultivado durante todo o ano no estado do Pará, sob diferentes condições de umidade. Contudo, ele ressalta que é preciso ajustes no sistema de produção, incluindo o cultivo nas partes mais altas da propriedade.
“É importante plantar em leiras ou camalhões para evitar encharcamento durante o período mais chuvoso do ano, e fazer irrigação do cultivo na época mais seca”, acrescenta.
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Incentivo à produção e ao consumo
Francisco Freire, pesquisador aposentado da estatal, que liderou o programa de melhoramento genético de feijão-caupi da Embrapa, reforça que as novas cultivares foram selecionadas entre centenas de materiais coletados dentro e fora do Brasil.
Ele enfatiza que os sucessivos ciclos de cultivo e seleção, realizados entre os anos de 2016 e 2018 em dois municípios paraenses – Belém e Terra Alta – consideraram a produtividade, qualidade comercial das vagens e sanidade.
Freire pontua que as duas novas cultivares são voltadas principalmente para a agricultura familiar do estado do Pará.
“O feijão-de-metro é cultivado na forma de hortaliça e sua produção é muito característica dos pequenos e médios produtores. Além de incentivar e fortalecer o cultivo e a produção do feijão-caupi junto a esse público, o programa objetiva também promover o consumo dessa hortaliça”, acrescenta.
Conheça o feijão-de-metro
O feijão-de-metro é um tipo de feijão-caupi [Vigna unguiculata (L.) Walp. ssp. unguiculata Verdc. cv-gr. Sesquipedalis], cujas vagens são consumidas inteiras cruas ou cozidas na forma de saladas ou em outros pratos.
Leguminosa nativa da Ásia, o feijão-de-metro, também conhecido como feijão-verde, foi introduzido no Pará no início do século 20 por imigrantes japoneses.
Atualmente, é cultivado nos cinturões verdes de diversas cidades paraenses e colhido o ano todo. Estima-se que o volume produzido nos últimos cinco anos, de 2019 a 2023, foi em torno de 700 a 800 toneladas em uma área plantada estimada em 20 hectares.
De acordo com dados da Central de Abastecimento do Pará (Ceasa-PA), os principais produtores paraenses de feijão-de-metro são os municípios de Santo Antônio do Tauá com 197.788,00 kg (40,21%); Curuçá 79.753,80 kg (16,21%); Maracanã 52.039 kg (10,58%); Santa Izabel do Pará 35.407 kg (7,20%); Castanhal 28.599 kg (5,81%) e Marapanim 28.377 kg (6,75%).
Vantagens ao produtor e ao consumidor
Gomes sublinha que ambas as cultivares apresentam vantagens ao produtor e ao consumidor. “Para o produtor é uma opção de complementação da renda, uma vez que é possível colher praticamente o ano todo.
Já o consumidor amplia o cardápio diário com a opção de um alimento nutritivo e saboroso que ajuda a combater o que chamamos de monotonia alimentar, caracterizada pela baixa diversificação de alimentos nas refeições do dia a dia.
As vagens frescas das duas cultivares, segundo o pesquisador, possuem em sua composição alto conteúdo de molibdênio, micronutriente que protege as células do corpo, além de ser ótima fonte de selênio. São ainda ricas em fibras, lipídeos, proteínas e carboidratos e nutrientes essenciais à saúde.
Inovação na forma de cultivo
O pesquisador da Embrapa explica que o espaldeiramento (amarração para dar sustentação aos ramos da planta) em formato de “V” é uma inovação recomendada para o cultivo do feijão-de-metro.
O cultivo em espaldeira é uma prática agrícola antiga que evita que a planta entre em contato com o solo.
“Tradicionalmente, no Pará, a amarração nessa estrutura é feita de forma vertical ou como um ‘V’ invertido. Com o novo formato, observamos mudanças muito positivas na produtividade, sanidade, facilidade de colheita e qualidade da produção”, relata Gomes.
De acordo com o especialista, o espaldeiramento em “V” melhora a circulação do ar, possibilita maior penetração da radiação solar no dossel das plantas, evitando assim a formação de ambiente favorável à ocorrência de doenças e pragas. “Além disso, a disposição das vagens na estrutura mais aberta entre as fileiras facilita a colheita”, enfatiza.
Onde encontrar
As novas cultivares BRS Lauré e BRS Raíra estão disponíveis para sementeiros por meio de edital de oferta pública simplificado.
Estão habilitados a adquirir as sementes – de forma gratuita – sementeiros e viveiristas, de todo o território nacional, que estiverem cadastrados no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem).