O sistema de produção para a uva nas condições do Cerrado vem sendo aprimorado e isso envolve um esforço grande dos produtores
Uma variedade híbrida de uva desenvolvida pela Embrapa Uva e Vinho (RS), a BRS Lorena, tem conseguido grande sucesso na a elaboração de vinhos brancos, destacando-se principalmente por sua produtividade, doçura e potencial enológico.
Segundo avaliação feita pela sommelier Bárbara Soares, o vinho elaborado com essa cultivar é aromático e elegante.
“Esse vinho entregou um tripé interessante de leveza, frescor e uma doçura não exagerada. Além disso, também é um vinho gastronômico; com ele, posso brincar com diversas harmonizações”, resssalta.
A chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Uva e Vinho, Andrea de Rossi destaca que as tecnologias vitícolas e enológicas, que foram validadas no Rio Grande do Sul e na região do Cerrado (Projeto Trijunção), estão disponíveis para toda a viticultura brasileira.
“Dentre essas tecnologias estão as variedades BRS tanto para vinhos finos, quanto vinhos de mesa e sucos, sistemas de condução, leveduras BRS, sistemas de alertas para doenças e ferramentas que ajudam o produtor a identificar carências nutricionais ou mesmo doenças nas plantas.”, salienta.
De acordo com a pesquisadora, a ideia é implantar várias dessas tecnologias em propriedades parceiras na região do DF, por meio de um trabalho conjunto entre a Embrapa Uva e Vinho e a Embrapa Cerrados, a Vinícola Brasília, a Associação Nacional de Produtores de Vinhos de Inverno (Anprovin) e a Coopa-DF.
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Alternativa rentável
Giuliano Pereira, pesquisador da Embrapa, explica que a produção de vinhos no DF segue o modelo iniciado e validado pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) naquele Estado.
“Esse modelo se expandiu para todos os estados do sudeste e do centro-oeste do Brasil, com foco na produção de vinhos de inverno, com as colheitas de uvas entre junho e agosto, adotando-se a técnica da dupla poda”, conta.
Ele sublinha que, nesse período, ocorrem os três fatores primordiais para a elaboração de vinhos que expressem elevada tipicidade, que são dias ensolarados, solo seco e amplitude térmica entre dia e noite.
“Esses fatores favorecem, principalmente, a síntese do metabolismo secundário das videiras, promovendo elevadas concentrações de compostos fenólicos e aromáticos nas uvas e nos vinhos”, diz o especialista.
“Queremos mostrar que a nossa vitivinicultura pode ser uma alternativa muito rentável, mudando o cenário de uma região, porque ela possibilita impulsionar o enoturismo, valorizar a enogastronomia da região, além do artesanato e da cultura local, proporcionando desenvolvimento rural e urbano sustentável como alternativa para a agricultura familiar e, também, para a agricultura empresarial’, afirmou o pesquisador da Embrapa.
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Trabalho articulado
Fábio Faleiro, chefe de TT da Embrapa Cerrados, acentua que essa articulação das duas unidades busca unir a expertise da Embrapa Uva e Vinho, com as tecnologias das cultivares e do sistema de produção, com a da Embrapa Cerrados relacionada à parte de fitotecnia e à validação de cultivares naquela região, em parceria com o setor produtivo, em prol do desenvolvimento ainda maior da vitivinicultura no Cerrado.
“É fundamental que a gente consiga juntos, unindo esforços, contribuir de alguma forma para esse setor que está em expansão”, disse.
A chefe de TT da Embrapa Uva e Vinho, Andrea de Rossi sublinha que “essa aproximação da Embrapa Uva e Vinho com a Embrapa Cerrados é fundamental para que a gente possa contribuir com a vitivinicultura que está crescendo na região”
Em sua opinião, “sozinhos, muito pouco iríamos conseguir fazer em termos de contribuição, principalmente por conta da distância física que estamos da região e dos vitivinicultores do Cerrado”, acredita.
Ela completa que a Embrapa Cerrados já é parceira de muitos desses vitivinicultores. “Isso facilita bastante o trabalho e é fundamental para que a gente consiga sim contribuir com as nossas tecnologias, com nosso conhecimento e, assim, gerar novos resultados”, avalia Andrea.
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Qualidade diferenciada
Nilton Junqueira, especialista em fruticultura da Embrapa Cerrados, reforça que o cultivo de uva na região do Cerrado tem aumentado de forma significativa nos últimos anos, especialmente na região do Distrito Federal e entorno.
De acordo com o especialista, o sistema de produção para a uva nas condições do Cerrado vem sendo aprimorado e isso envolve um esforço grande dos produtores.
“A gente aprende muito com eles e essa troca de conhecimento é primordial”, afirma.
Ele salienta que o sistema utilizado na região é uma adaptação do usado em Petrolina (PE), Jales (SP) e Pirapora (MG). “Só que nessa região em que estamos, tanto clima quanto solo são diferentes e é necessário ajustar as técnicas de cultivo”, esclarece Junqueira.
O pesquisador destaca ainda a qualidade do produto que vem sendo produzido no Cerrado.
Segundo ele, um dos fatores que favorecem esse resultado é a amplitude térmica da região. “Aqui se produz um fruto de qualidade, doce e ácido ao mesmo tempo”.
Para o especialista, é importante, no entanto, que haja nas propriedades diversificação de cultivos, tanto para garantir renda para o produtor, quanto para contribuir com a geração de emprego.