Parte do lucro das hortaliças cultivadas pela Plant Fazendas Urbanas é revertida para a montagem de novas hortas em regiões com situação de vulnerabilidade, levando alimentação saudável e geração de renda aos seus moradores
Anos viajando e vendo de perto a seca do sertão nordestino fez com que a empresária e geógrafa Edileusa Andrade despertasse para um negócio social na cidade de São Paulo, onde atualmente funciona sua empresa: a Plant Fazendas Urbanas, startup que cultiva hortas sem uso de defensivos agrícolas, no topo dos escritórios, e mantém um centro de compostagem de material orgânico.
Para ela, o conceito de fazenda urbana faz com que empresas, instaladas nas cidades, contribuam para melhorar o ecossistema. Hoje, seu projeto também ajuda a levar alimentação saudável a bairros carentes, em locais considerados em situação de vulnerabilidade.
Lê – como a empresária gosta de ser chamada – deixou o emprego de gerente para se dedicar unicamente à sua startup, fundada por ela em 2016 em São Paulo. Antes disso, a geógrafa esteve no Nordeste, onde atuava na formação comunitária no interior da Bahia e Piauí, em plena região de seca.
Hortas em telhados
De sua experiência no sertão nordestino, a executiva trouxe a ideia para a capital paulista, com a proposta de reproduzir hortas nos telhados de grandes empresas.
Com uma horta que deu errado, a empresária teve o impulso que faltava para começar a empreender. No Jardim Pantanal (SP), região localizada na várzea do Rio Tietê e conhecida pelas constantes enchentes, horta urbana elabora por ONG em que trabalhava alagou.
A empreendedora, que já estava desmotivada com os perigos e as ameaças por atuar em regiões com alta criminalidade, decidiu que era momento de mudar os rumos profissionais, mas sem abandonar a ideia de trabalhar com horta e ajudar a quem precisava.
Inclusão social e produtiva
Além de reduzir as ilhas de calor, a proposta fomentava a alimentação saudável para diferentes classes socioeconômicas e buscava inclusão social e produtiva por meio de parceria com catadores, agricultores familiares e mulheres em situação de vulnerabilidade social na montagem e manutenção das hortas. Para as corporações, a horta de telhado podia ocasionar a redução do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), nos municípios com essa regulamentação.
Em 2017, o projeto da Plant Fazendas Urbanas foi avaliado e selecionado pelo The Big Hackathon, competição do Programa das Nações Unidades para o Desenvolvimento (PNUD), por atender 14 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), contra a mudança global do clima. No final do mesmo ano, com uma margem de lucro de cerca de 70%, o negócio estava em fase inicial de operação e otimista com a carteira de clientes.
Naquela época, a empresa, que ainda tinha o nome de Vianatus, recebeu dois prêmios, sendo o primeiro como “Negócio de Impacto Social” promovido pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o PNUD; e o segundo, de “Negócio de Impacto Ambiental”, concedido pelo Sebrae.
Negócio social
Visto com um negócio social, quando ainda estava no Nordeste, o projeto da Plant tornou-se realidade há pouco mais de dois anos. Hoje, Lê Andrade desenvolve quatro projetos e segue com outros, em negociação.
O principal propósito da empresária, além disso, vem sendo alcançado: levar alimentação saudável para as comunidades, além de permitir a geração de renda aos moradores de regiões carentes.
“Cada horta que a gente vende, uma parte é revertida em uma horta na periferia, com quem trabalhamos por meio das associações de bairros”, conta a fundadora da Plant Fazendas Urbanas, acrescentando que “uma parte da produção é vendida pelos moradores ou distribuída”.
Tudo orgânico
A produção das hortas construídas em empresas, condomínios e escritórios segue para os restaurantes das próprias corporações ou é vendida em feiras. A hortaliça produzida pela Plant é orgânica, ou seja, sem utilização de agrotóxicos.
Antes destinado a parar em um aterro sanitário, “o material recolhido dos restaurantes – como os restos de alimentação – segue para um centro de compostagem de material orgânico e retorna para a horta como matéria-prima abundante em vitaminas”, explica a geógrafa.
Segundo Lê Andrade, todo o material usado pela empresa vem de objetos reciclados, adquiridos de moradores de áreas carentes.
Na mesma startup, além do trio de sócios, três mulheres trabalham como mantenedoras das hortas – “todas são de comunidades carentes e em situação de vulnerabilidade”, ressalta a empresária.
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