A rizipiscicultura é uma técnica que consiste em criar peixes ou crustáceos nos campos de arroz irrigado. O sistema de cultivo permite reduzir o uso de pesticidas, aumentar a produtividade e ainda diminuir as emissões de metano dos arrozais (Foto: FAO-GIAHS)
A piscicultura em arrozais úmidos tem uma longa história, em especial na Ásia. Uma placa de argila chinesa datada da Dinastia Han, de dois mil anos atrás, mostra um peixe nadando de seu lago para um campo de arroz.
A técnica apresenta uma equação ganha-ganha, a exemplo do que ocorre em outros sistemas integrados com no Lavoura-Floresta-Pecuária. Existe uma simbiose ecológica entre a produção de arroz e de peixe.
Enquanto o arroz oferece sombra e alimento para os peixes, os peixes fornecem fertilizante ao arroz, regulam as condições microclimáticas, amolecem o solo, e ainda exercem o papel de controle biológico sobre as pragas, pois comem as larvas e ervas daninhas nos campos alagados.
Além disso, a rizipiscicultura também é benéfica para os agricultores locais e para o meio ambiente.
Diminuição do uso de defensivos
A alimentação de peixe e arroz de alta qualidade ajuda a manter os nutrientes e o padrão de vida dos agricultores. Em um estudo feito na vila de Longxian, na China, verificou-se que o custo e a mão de obra foram reduzidos, e a eficiência produtiva aumentou.
Geralmente, os rendimentos de peixe são de 300 a 450 quilos por hectare (Kg/ha) e com rendimentos máximos de mais de 1.500 kg/ha, entre seis raças nativas de carpas vermelhas, pretas e brancas.
Isso se deu, principalmente, pela redução do uso de fertilizantes químicos, pesticidas e herbicidas para controle de insetos e ervas daninhas, que foram substituídos pela ação dos peixes.
No geral, os arrozais com peixes requerem 68% menos pesticidas e 24% menos fertilizantes do que a monocultura de arroz.
Peixe guardião
Outro estudo, feito em 31 aldeias na província chinesa de Zhejiang, comparou a produtividade da monocultura de arroz versus a cultura de arroz em consórcio com a piscicultura.
Os resultados também indicaram que a presença do peixe beneficiava o arroz, reduzindo insetos, doenças e ervas daninhas, trabalhando como um guardião da lavoura.
Os pesquisadores notaram que, quando os peixes esbarravam nos caules do arroz, insetos como cigarrinhas muitas vezes caíam na água e eram comidos. Foi evidenciada uma taxa de remoção de cigarrinhas por peixes de cerca de 26%.
Foi observado também que o movimento dos peixes sacodia as gotas de orvalho das plantas no início da manhã, o que reduzia o risco de geração de esporos e penetração de micélio da brusone nas folhas.
A brusone, causada pelo fungo Pyricularia oryzae, é a doença mais importante da cultura do arroz, podendo causar até 100% de prejuízos à cultura.
O estudo também concluiu que a carpa come ou arranca muitas ervas daninhas, resultando em um arrozal quase livre de ervas daninhas.
O papel do arroz
Se os peixes são benéficos para o arroz, o inverso também é verdadeiro. A presença das plantas de arroz atrai insetos, que se tornam fonte de alimento para os peixes, e as folhas das plantas fornecem sombra que reduz a temperatura da água na estação quente.
O arroz também modera o ambiente aquático. Atua como um sumidouro de nitrogênio e ajuda a reduzir a concentração de amônia na água e nitrogênio no solo.
O arroz ainda tem uma importância global como fonte de alimento. Os consórcios arroz-peixe não são exclusivos da China, sendo encontrados no Egito, Índia, Indonésia, Tailândia, Vietnã, Filipinas, Bangladesh e outros lugares, até mesmo no Brasil, com destaque para Santa Catarina.
Hoje, o arroz é o principal ingrediente da dieta diária de cerca de 3 bilhões de pessoas. Mais de 90% da produção mundial de arroz ocorre nos países em desenvolvimento, que também são as regiões com as maiores taxas de crescimento populacional e, portanto, espera-se que a produção de arroz aumente.
Redução das emissões de metano
Estudos também demonstraram que a rizipiscicultura é capaz de diminuir a emissão de metano e outros gases de efeito estufa (GEEs).
Hoje, cerca de 10 a 20% do metano na atmosfera vem dos arrozais. Isso é significativo, pois o Potencial de Aquecimento Global (GWP, na sigla em ingês) do metano é 25 vezes maior que o do dióxido de carbono.
E a rizipiscicultura mais uma vez pode ser uma grande aliada. Pesquisas observaram que a emissão de metano do sistema de cultivo de arroz consorciado com peixe é 34,6% menor do que a de um sistema de cultivo de monocultura de arroz.
Os peixes, especialmente os que se alimentam no fundo, as camadas do solo pelo seu movimento ou, por vezes, à procura de comida, influenciando assim os processos de produção de metano.
Potencialmente, os peixes aumentam o oxigênio diluído na água do campo e no solo, o que muda a digestão anaeróbica para aeróbica e ajuda a reduzir as emissões de metano.