Muitos desses seres são essenciais na boa saúde dos solos, sanidade e desenvolvimento das plantas, impactando diretamente na produtividade
Por muito tempo os microrganismos foram vistos como vilões da agricultura por serem relacionados como agentes causadores de doenças nas plantas, porém, graças aos avanços da tecnologia e das pesquisas focadas no entendimento destes seres microscópicos, essa visão vem mudando.
Hoje é possível dizer que muitos microrganismos, que são representados por vírus, bactérias, protozoários e fungos, não causa nenhum tipo de patologia nas plantas, pelo contrário, proporcionam ainda benefícios para o ecossistema como um todo, do solo ao alimento final produzido.
A vida surgiu na Terra há mais de 4 bilhões de anos na forma de microrganismos e, desde então, esses seres vêm evoluindo em inúmeras espécies e cepas. “São os seres vivos mais diversos e abundantes do planeta e nós, de fato, vivemos no mundo deles e eles vivem em nós”, afirma Johana Perez, gerente Global de Design de Produto de P&D da Tradecorp do Brasil.
Segundo ela, há mais de 8 bilhões de pessoas no mundo e cada uma carrega mais de 100 trilhões de microrganismos, dos quais a vasta maioria forma associações benéficas que impactam positivamente no organismo, viabilizando o funcionamento do corpo, participando de processo como a digestão e modulando o sistema imune e até o humor. “Nenhum ser humano consegue viver sem os microrganismos”, diz ela.
Benefícios para as plantas
Assim como são importantes para os seres humanos, os microrganismos também são benéficos com as plantas. Segundo Johana, um único grama de solo carrega bilhões de micróbios que formam associações, em sua maioria, benéficas com as plantas, como por exemplo, ajudam na captura de nutrientes essenciais, além de combaterem micro e macrorganismos inimigos.
As novas tecnologias de biologia molecular, como o sequenciamento genético de nova geração (Next Generation Sequencing), usadas apenas há duas décadas, ajudaram a identificar milhares desses microrganismos e desvendar sua função na rizosfera e na parte aérea das plantas. “A ciência não conhecia muito desses micróbios até recentemente, pois são seres difíceis de serem estudados por realizarem o seu trabalho de forma tão silenciosa que passam despercebidos”, explica Johana.
A importância na agricultura
De acordo com o coordenador técnico da Tradecorp, Fernando Bonafé Sei, hoje os microrganismos são aliados dos produtores rurais sendo usados para fixação biológica do nitrogênio, solubilização do fósforo e como agentes de controle de pragas e doenças. “Diversas espécies de microrganismos são utilizadas na agricultura, sendo os mais antigos os fixadores biológicos de nitrogênio, como o Bradyhizobium, que é aplicado na cultura da soja há mais de 100 anos”, exemplifica.
Johana afirma que esses tipos de microrganismos são conhecidos como endofíticos (dentro da planta) e os mais utilizados na agricultura são os rizóbios, bactérias que colonizam as células das raízes formando nódulos responsáveis por fazer a fixação do nitrogênio atmosférico, atuando como uma de adubação nitrogenada. “Dessa forma, é possível diminuir a adubação nitrogenada, principalmente realizada com ureia, reduzindo riscos como acidificação do solo, contaminação por nitrato e por metais pesados e também emissão de gás de efeito estufa.”
Já espécies como Azospirillum e Pseudomonas, são recomendadas para melhorar a fertilidade do solo e a disponibilidade de nutrientes. Essas espécies colonizam a rizosfera atuam solubilizando nutrientes presentes no solo em sua forma insolúvel e inacessível para as plantas, como é o caso do fósforo, minimizando a necessidade de adubação fosfatada, gerando sustentabilidade ao processo produtivo e economia aos produtores.
Outro grupo importante de microrganismos usados na agricultura são espécies capazes de controlar pragas e doenças. Eles são conhecidos como agentes de biocontrole, os mais conhecidos são os gêneros Trichoderma, Bacillus, Beauveria e Metarhizium.
“Muitas espécies de fungos, vírus e bactérias de diferentes cepas estão presentes atualmente nos produtos de nutrição e controle biológico comercializados no Brasil”, afirma Bonafé. Diferente dos típicos compostos químicos usados no controle de pragas e doenças, os agentes de biocontrole não causam danos ao meio ambiente ou à saúde humana.
Os vilões
Porém, algumas há espécies de microrganismos que causam doenças em plantas e animais, como no homem também. Johana explica que, diferente das espécies benéficas, quando ocorre a proliferação dos microrganismos patógenos o efeito é imediato. “O agricultor percebe na hora e por isso é mais comum ouvirmos falar dos microrganismos ruins, que fazem mais ‘barulho’ do que os benéficos, que são mais abundantes, porém, mais discretos”, afirma.
Conforme explica, o melhor jeito de evitar que proliferem espécies que causam prejuízos à lavoura é manter um solo equilibrado e rico em microrganismos benéficos que são capazes de controlar a multiplicação dos patogênicos através de suas interações. “Ao manter práticas agrícolas sustentáveis, reduzindo o uso de fertilizantes e pesticidas químicos, é possível promover um solo mais rico, biodiverso e saudável”, arremata.