A inoculação de sementes de cereal com Azospirillum brasilense (estirpes Ab-V5 e Ab-V6) também ajuda a minimizar as emissões de gases de efeito estufa
Pesquisas realizadas pela Embrapa Soja (PR) nos últimos dez anos comprovaram que a inoculação de sementes de milho com a bactéria Azospirillum brasilense (estirpes Ab-V5 e Ab-V6) pode reduzir em 25% da adubação nitrogenada de cobertura, considerando a dose de 90 quilos (kg) por hectare (ha) de N-fertilizante.
“O uso de microrganismos promotores do crescimento de plantas, capazes de substituir, parcial ou totalmente, os fertilizantes químicos, representa uma estratégia-chave para o Brasil, que importa a maior parte dos fertilizantes usados na agricultura”, defende a pesquisadora da Embrapa Mariangela Hungria.
Os benefícios econômicos e ambientais dessa tecnologia serão apresentados pelos pesquisadores Marco Antonio Nogueira e Mariangela Hungria, da Embrapa Soja, durante evento on-line, no dia 25 de novembro, a partir das 10h30, pelo Radar da Tecnologia, canal da Embrapa Soja no YouTube.
De acordo com Mariangela, a tecnologia de inoculação do milho com a bactéria Azospirillum brasilense também permite um incremento médio de 3,1% na produtividade de grãos. “Todos os experimentos confirmam esses benefícios, em diferentes níveis de rendimento, condições tropicais e subtropicais, solos argilosos e arenosos, com alto e baixo teor de matéria orgânica”, relata a cientista.
A Embrapa lançou as primeiras estirpes comerciais de A. brasilense para as culturas do milho e do trigo. Os primeiros inoculantes comerciais foram lançados na safra 2009/2010. Segundo levantamento do mercado, o uso de inoculantes com essas bactérias já supera dez milhões de doses anualmente.
Resultados
Durante dez anos, a Embrapa Soja realizou 30 ensaios a campo (26 deles em primeira safra) para avaliar a inoculação em 12 genótipos comerciais (híbridos e variedades) de milho com as estirpes Ab-V5 e Ab-V6 de A. brasilense. O pesquisador Marco Antonio Nogueira explica que as plantas receberam a mesma adubação de base com macro e micronutrientes e a inoculação foi realizada na semeadura, quando também foram aplicados 24 kg/ha de nitrogênio (N).
Segundo Nogueira, ao redor dos 35 dias após a emergência do milho, foram fornecidos 0%, 50%, 75% e 100% de N em cobertura, sendo 100% correspondente a 90 kg/ha de nitrogênio, aos tratamentos inoculados e não inoculados.
“O rendimento de grãos das plantas inoculadas e com 75% da adubação nitrogenada em cobertura foi igual ao das plantas não inoculadas e que receberam 100% da adubação nitrogenada, o que indica ser possível reduzir a adubação nitrogenada de cobertura em 25%, sem perda de produtividade”, diz Nogueira.
Para os pesquisadores, esses resultados são o reflexo de dois processos microbianos complementares, coordenados pelas bactérias promotoras de crescimento de plantas (BPCP). Um deles é a fixação biológica de nitrogênio que, embora modesta, em geral é capaz de atender de 5% a 20% das necessidades da planta. O outro processo favorece o crescimento radicular do milho, via síntese de fitormônios, principalmente ácido indolacético, o que permite melhorar a exploração do solo por água e nutrientes.
“O inoculante aumenta a eficiência de uso do fertilizante nitrogenado que, nas condições brasileiras, raramente é superior a 50%, sendo boa parte perdida por lixiviação, contaminando águas de rios e lençóis freáticos, e pela emissão de gases de efeito estufa”, relata.
Benefícios
Mariangela afirma, também, que a tecnologia de inoculação do milho na semeadura com A. brasilense (estirpes Ab-V5 e Ab-V6) propicia redução importante na emissão de gases de efeito estufa. Considerando a dose de 90 kg/ha de N em cobertura, a redução de 25% do N implica uma mitigação de 236 kg/ha de equivalentes de CO2 (considerando a taxa de conversão de 1 kg de N = 10,5 kg de equivalentes de CO2). Em termos econômicos, considerando o preço médio da ureia no mercado brasileiro em julho de 2022, a economia foi de cerca de R$ 260/ha.
Inoculação a campo
Apesar dos benefícios da inoculação do milho com as estirpes Ab-V5 e Ab-V6 de A. brasilense, os pesquisadores alertam para a necessidade de se adotar boas práticas de inoculação, que envolvem cuidados desde a compra até o uso do inoculante a campo.
“É importante certificar-se sobre a origem e a qualidade do inoculante, principalmente se contém as estirpes recomendadas pela pesquisa na concentração indicada, se tem o registro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para essa finalidade, assim como se foi mantido em condições adequadas de transporte e armazenamento, com temperatura máxima de 30º C”, orienta a pesquisadora.
“Como o inoculante contém seres vivos, sensíveis ao calor, após a aquisição é preciso conservar o produto em local protegido do sol e arejado até o momento de uso”, acrescenta.
Ação das bactérias
Mariangela explica que as bactérias promotoras do crescimento de plantas (BPCP) correspondem a um grupo de microrganismos benéficos capazes de colonizar tecidos de raízes, caule, folhas, frutos, sementes e nódulos de leguminosas.
Essas bactérias podem estimular o crescimento das plantas por meio de diversos processos, como a fixação biológica de nitrogênio (que contribui para a nutrição nitrogenada), a síntese de fitormônios (que impacta o crescimento das raízes), o aumento da disponibilidade de fósforo (P) e potássio (K), a tolerância a estresses bióticos que podem ser causados por organismos vivos (insetos e microrganismos) ou abióticos (como temperatura, alta irradiação e restrição hídrica), entre outras funções.