Martins, na foto, explica que o GAAS surgiu como uma rede de agricultores, pesquisadores e técnicos focados na difusão de práticas regenerativas, que não só melhoram a qualidade do solo, mas também resultando em uma redução de custos (Foto: Adriano Brito/AgroBrasília)
Durante a AgroBrasília 2024 – maior feira agropecuária do Planalto Central – Eduardo Martins, diretor do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS), falou com a Revista A Lavoura, sobre as práticas e desafios da agricultura regenerativa.
A incitiava tem uma abordagem que promete transformar a maneira como produzimos alimentos, melhorando o solo, reduzindo custos e minimizando o uso de insumos químicos.
Martins explicou que o GAAS surgiu como uma rede de agricultores, pesquisadores e técnicos focados na difusão de práticas regenerativas. Segundo ele, essas práticas não só melhoram a qualidade do solo, mas também otimizam o sistema de produção, resultando em uma redução estável de custos.
“A partir do momento que a gente começou a perceber o que nós estávamos fazendo, a gente se viu fazendo agricultura regenerativa”, disse Martins.
“O foco é muito aqui, não adianta ficar focado no problema. A gente tenta ver dentro do sistema que a gente trabalha o que são as causas”.
Princípios da Agricultura Regenerativa
A base da agricultura regenerativa está na qualidade do solo. “O solo é a base; sem ele, nada funciona”, enfatiza Martins.
Diferente da agricultura convencional, que muitas vezes trata o solo como um simples substrato para plantas, a agricultura regenerativa o vê como um sistema vivo.
“A gente reduz tanto quanto possível qualquer insumo que é ofensivo à vida, a gente tenta reduzir ou eliminar, isso é busca incessante”, afirma.
Um dos principais desafios ainda enfrentados é a dependência de herbicidas, especialmente em sistemas de rotação de culturas.
Contudo, iniciativas estão em andamento para desenvolver soluções que minimizem essa dependência.
“Nós somos muito dependentes de herbicida, porque a gente troca de cultura muitas vezes, aí usa muito herbicida. Mas a gente está trabalhando para resolver isso”, diz Martins.
Ele destaca a importância de alternativas como plantas de cobertura, remineralizadores de solo e insumos biológicos produzidos nas próprias fazendas.
“Esse biológico a gente, na maioria das vezes, produz na própria fazenda”, explica.
Martins também ressalta que as boas práticas levam à redução dos custos e a manutenção da produtividade, tornando essa abordagem cada vez mais atrativa para os agricultores.
“A gente reduz de 60% a 80% dos agroquímicos”, ressalta.
Inovações e resultados
Entre as práticas, Martins menciona a descompactação biológica do solo e o uso de remineralizadores.
“Nós resolvemos a compactação do solo com biologia, sem intervenção física”, explica. Além disso, técnicas como a fixação biológica de nitrogênio, desenvolvidas por pioneiros como Johanna Döbereiner, economizam bilhões em insumos químicos.
Outra abordagem crucial é a reaplicação de nutrientes já presentes no solo.
“Aplicamos muitos nutrientes que acabam não sendo aproveitados pelas plantas. A prioridade é buscar e utilizar esses nutrientes”, afirma Martins.
Ele também destaca a importância dos fertilizantes organominerais e do pó de rocha, que melhoram a fertilidade do solo de forma sustentável.
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Inteligência Coletiva
Uma das forças do GAAS é a troca de informações e a colaboração entre seus membros.
“É como se emergisse uma inteligência coletiva. Cada um compartilha suas experiências e resultados, acelerando a adoção de práticas eficazes”, explica Martins.
Essa colaboração é fundamental para a evolução contínua dos métodos e para enfrentar desafios como a erosão e a compactação do solo.
“A gente sempre está olhando para ver como é que o agricultor está melhorando. Então nós não temos nenhuma lista de coisa negativa, coisa que não pode. No fundo é a evolução que para nós é relevante”, destaca.
Martins conclui ressaltando a importância da adaptação e evolução constantes.
“Não temos preconceito nem sectarismo a qualquer agricultura. Agricultura orgânica, natural, regenerativa, sustentável, todas elas são bem-vindas e a gente tira de cada uma aquilo que resolve nossos problemas”, afirma.
Homenagens
O GAAS homenageia e reconhece aqueles que contribuem significativamente para essas práticas, garantindo que o legado da agricultura regenerativa continue a crescer.
Um das homenagens ocorreu no primeiro dia da AgroBrasília 2024 a John Landers, agrônomo britânico-brasileiro.
Na ocasião, destacou-se a obstinação e contribuição de Landers para a disseminação do Sistema Plantio Direto na região do cerrado brasileiro.
Residente no Brasil desde 1966, Landers possui uma extensa formação acadêmica, incluindo um bacharelado em Agricultura pela Universidade Reading, no Reino Unido, e um mestrado em Irrigação pela Universidade da Califórnia em Davis, nos EUA. Além disso, em 1971, ele também realizou um curso internacional de Drenagem em Wageningen, na Holanda.
Considerado pioneiro no desenvolvimento do sistema Plantio Direto nos cerrados brasileiros, Landers liderou projetos de pesquisa e desenvolvimento financiados pela Manah S.A. em 1982, uma das empresas responsáveis por introduzir a agricultura de precisão no Brasil.
Esses projetos foram fundamentais para viabilizar o plantio direto como uma prática agrícola sustentável na região.
Landers dedicou-se incansavelmente à divulgação do plantio direto em todo o país, sendo uma verdadeira inspiração para agricultores e pesquisadores. Em suas palavras, ele expressou sua alegria ao ver os resultados de seu trabalho e sua honra pela homenagem recebida.