As Fazendas Urbanas são produções agrícolas em grandes salas fechadas que abrigam plantações de diversas verduras, como alface, rúcula, manjericão, espinafre, acelga e microverdes, onde luz, temperatura e clima são precisamente controlados
De um lado, consumidores cada vez mais conscientes e engajados na busca por uma alimentação mais prática e saudável; de outro, produtores rurais que, embora também se preocupem com a qualidade da comida que chega à mesa, estão distantes da maioria dos grandes estabelecimentos varejistas e dos polos gastronômicos das cidades.
Isso porque, vivendo e trabalhando em uma propriedade rural, dentro de um país continental como o Brasil, se aproximar das áreas urbanas nem sempre é uma tarefa fácil. É para poucos!
Diante dessa necessidade de estar mais perto do consumidor, empreendedores do agronegócio têm investido no conceito farm to table que, em português, significa “da fazenda para mesa”.
Um exemplo dessa novidade no mercado brasileiro é a startup Pink Farms, que se encaixa perfeitamente nessa ideia de “proximidade”, trazendo o cultivo agrícola para o coração da capital do Estado de São Paulo. Isso porque sua fazenda urbana está instalada em um galpão, na Vila Leopoldina ao lado da agitadíssima Marginal Pinheiros. A empresa foi fundada em 2017 por três engenheiros: Geraldo Maia e os gêmeos Mateus e Rafael Delalibera.
Qualidade dos produtos
De acordo com Geraldo Maia, a qualidade dos produtos da Pink Farms vai além do frescor. Alfaces e microgreens (microverdes) – vegetais que se diferenciam por terem alto valor nutritivo, visual e sabor extremamente atraentes – são cultivados sem a utilização de qualquer tipo de agroquímico.
“A produção é feita com uma redução de 95% do consumo de água e sua capacidade de plantio é cem vezes maior, quando comparada ao cultivo tradicional, no campo”, ressalta o co-fundador da empresa.
Alcance de mercado
Em pouco tempo de atuação em São Paulo, a Pink Farms – a maior fazenda urbana vertical da América Latina – já chegou a diversos pontos comerciais estratégicos da capital paulista. Isso tudo graças ao título de empresa mais inovadora do agronegócio brasileiro, após vencer o Prêmio Inovação, powered by Vivo Empresas, em 2019.
As dezenas de tipos de alfaces e microgreen ganharam destaque nas prateleiras de alguns dos principais varejistas paulistanos, como os supermercados Mambo, os Hortifrutis Oba (onde os produtos ganharam exposição em um espaço que simula os LEDs cor-de-rosa característicos da sua produção), Natural da Terra, Quitanda, Hortisabor, o charmoso centro gastronômico Eataly, entre outros.
Os produtos Pink Farms também vêm ocupando cada vez mais espaço nos cardápios saudáveis e saborosos de importantes endereços de food services da cidade de São Paulo, como o Octávio Café, Suplicy Café, Tea Connection, Plant Made, entre outros.
Eles ainda deram nome a pratos especialmente criados para usar os produtos da startup, como é o caso da Urban Kitchen (a chef Jacqueline criou a Pink Farms Toast, que leva pão de fermentação natural, homus de beterraba, avocado e microgreens Pink Farms); e do Kith Restaurante (a chef Ju criou a entrada Pink Beterraba, um tartar de beterraba tostado na brasa, raspas de limão siciliano, azeite e microgreens de rúcula Pink Farms).
Como tudo começou
A busca dos próprios empreendedores da Pink Farms por legumes e verduras de qualidade e mais saudáveis fez com que eles abraçassem a missão de revolucionar a produção de hortaliças nas cidades, com a utilização de tecnologias específicas destinadas a esse cenário – no caso, a hidroponia (cultivo sem solo).
“Ao olharmos o mercado e a cadeia produtiva de hortaliças no Brasil, tivemos surpresas bastante negativas, principalmente por sua baixa eficiência, com perdas pós-colheita, que chegam a 40%. Ou seja, a cada cem quilos de folhas comestíveis, apenas 60 quilos são consumidos”, comenta o engenheiro de produção Geraldo Maia.
Além de reduzir as perdas e desperdícios de alimentos, cada espécie cultivada pela fazenda urbana é extensamente estudada para que possa contar com as condições perfeitas para seu crescimento, eliminando 100% do uso de defensivos agrícolas.
O galpão
Ao adentrar o galpão de 750 metros quadrados, em São Paulo, a visão é surpreendente: são grandes salas hermeticamente fechadas, com estruturas que abrigam diversos tipos de folhagens, como os microgreens, alfaces (mimosa, mimosa roxa, lisa, lisa roxa, friseé, friseé roxa e crespa), rúcula, manjericão, espinafre, espinafre roxo e acelga.
De acordo com Maia, os vegetais não conhecem a palavra “sazonalidade”, considerando que um sistema de automação controla todas as variáveis de cultivo, independentemente do clima e da época do ano.
Com um ambiente totalmente limpo e controlado, são aplicadas as técnicas de hidroponia. Com produção altamente sustentável, o cultivo orgânico ainda reduz em 95% o consumo de água, em comparação às lavouras a céu aberto.
Isso sem falar do sistema vertical, que diminui em 90% a utilização de espaço e garante uma capacidade produtiva cem vezes maior. “O pink não está apenas no nome, mas na utilização de luz de LED que, em sua composição, tem a cor rosa, fazendo o papel da iluminação solar”, salienta um dos fundadores da empresa.
“Pós-orgânicos”
Com menos manejo e intervenções, a Pink Farms contabiliza uma redução de 30% de perdas, resultando em produtos chamados de “pós-orgânicos” – aqueles cujo processo de produção é mais sustentável e produtivo, além de ser menos prejudicial ao meio ambiente.
“Com a utilização do conceito farm to table, reduzimos a quantidade de intermediários, tempo, perdas e impactos gerados pela cadeia, sempre trazendo um produto muito mais fresco para o consumidor”, afirma Geraldo Maia.
Segundo o executivo, “é possível que ele [o alimento] seja consumido no dia em que foi colhido, eliminando descartes pós-colheita e aumentando o tempo de prateleira em mais de 100%”.
Investimento e expansão
Os sócios planejam a expansão da fazenda urbana para uma escala comercial cada vez maior, com foco em atender à demanda da cidade de São Paulo, além do desenvolvimento de sua marca de consumo.
“Paralelo a isso, por meio de sua área de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), a Pink Farms busca aumentar seu portfólio com novos produtos: morango, tomate, entre outros. Também pretende continuar aprimorando a tecnologia atual e abastecer, constantemente, o mercado com novos tipos de microgreens e alfaces ”, revela Maia.
Um dos planos da empresa, para os próximos anos, é consolidar a Pink Farms como a maior produtora de folhosas da América Latina, quadruplicando a capacidade atual de produção – de 30 toneladas ao ano – e levá-la para outras cidades, como Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte”, estima Geraldo Maia.
De acordo com o empresário, “em São Paulo, já marcamos presença em diversos endereços de varejo e food services, além da loja online, que está em fase de implantação”.