Criados a partir de micro-organismos vivos, inofensivos aos humanos e meio ambiente, produtos substituem os agroquímicos
Cada vez mais, consumidores do mundo inteiro questionam o uso de agroquímicos na produção de alimentos, e a resposta veio com a criação dos produtos biológicos, que agem como seus equivalentes químicos, mas são elaborados a partir de micro-organismos vivos inofensivos ao meio ambiente e ao consumo humano.
Entre os benefícios gerados por estes micro-organismos, estão a absorção de macronutrientes, fixação de nitrogênio atmosférico, e ainda contribuem para maior eficiência da atividade fotossintética, favorecem a germinação, a regeneração do solo, a formação e a proteção das raízes.
Conforme explica a PhD e gerente global de Pesquisa & Desenvolvimento de Produtos Biológicos da Rovensa Next, Johana Rincones Perez, a escassez de NPK (composto de três elementos essenciais para o desenvolvimento de toda a cultura: nitrogênio, fósforo e potássio) e o preço caro do adubo reforçaram o importante papel que os biofertilizantes podem desempenhar, como, por exemplo, os inoculantes.
“A fixação biológica de nitrogênio através de rizóbios tornou-se uma prática comum na cultura de soja em todo território nacional. Cepas de Bradyrhizobium spp e Azospirillum brasilense são presentes em cerca de 85% e 30% das lavouras, respectivamente”, cita. “Azospirillum e Bradyrhizobium são bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico e estimuladoras de crescimento”, acrescenta.
Importância do Fósforo
O Fósforo é outro importante macronutriente na formação de ATP (adenosina trifosfato) –, principal molécula fornecedora de energia aos mecanismos vitais das plantas, como a fotossíntese e a divisão celular. Contudo, estima-se que apenas 20% a 30% do elemento sejam assimilados facilmente.
“Como consequência, a eficiência da fertilização fosfatada é prejudicada, o que requer aplicação de altas quantidades. Já a bactéria Pseudomonas fluorescens (Cepa BR 14810), possui grande capacidade de solubilizar o fosfato adsorvido e, assim, ampliar o fornecimento do nutriente, mesmo sob aplicações reduzidas de fósforo”, explica a especialista.
Ensaios de campo mostraram que foram necessários 105 kg/ha de um fertilizante mineral NPK típico para corrigir a fertilidade do solo, quantidade reduzida em 80% ao se utilizar biofertilizante à base da Cepa BR 14810.
Biocontrole
Na avaliação da especialista, um setor que muito crescerá no Brasil é o biocontrole de pragas e doenças. “Hoje, a ferrugem é realidade em quase todos os Estados, gerando prejuízos incalculáveis, e o uso massivo de inseticidas químicos pode acarretar problemas de resistência, contaminação dos alimentos e degradação ambiental”, exemplifica.
Por esse motivo, segundo ela, os micro-organismos predadores tornaram-se ferramentas eficazes e altamente recomendadas para o Manejo Integrado de Pragas (MIP). A gama de fórmulas desenvolvidas para o tratamento de doenças fúngicas em todo o planeta gira em torno da bactéria Bacillus subtilis (Cepa IAB/BS03).
“Selecionada entre algumas centenas de cepas bacterianas presentes na rizosfera, a IAB/BS03 foi projetada para o controle biológico de um amplo espectro de doenças e também apresenta características fenotípicas interessantes como resistência a pH ruim, salinidade, clima seco e calor”, afirma a PhD.
“Outra praga endêmica no país que também deve turbinar os números do biocontrole, que já atingiu a marca de R$ 3 bilhões em 2023, é a cigarrinha do milho”, prevê.
Mercado
Para Johana, a busca por produtos naturais eficazes no controle de pragas e doenças – mas com baixo impacto ao meio ambiente, principalmente a populações de insetos polinizadores, e que não deixem resíduos nos alimentos para o consumidor final – vai mexer muito com o setor de produtos biológicos”, prevê a especialista.
“Claro que não se pode esquecer a relação direta dos produtos biológicos com a tecnologia de aplicação, em que também é possível identificar uma tendência crescente por produtos naturais elaborados a partir do óleo essencial da casca de laranja, especialmente os adjuvantes e corretores de solo”, completa a especialista.