Causada pelo fungo Fusarium a doeça pode gerar perdas de até 100% após danos nas raízes e nos caules da bananeira (Foto:Fazil Dusunceli/FAO)
Uma doença considerada letal para plantações de bananas , desde 2019, está se espalhando pela América Latina e afetando exportações da banana Cavendish, uma das mais vendidas no mundo.
A doença é causada pelo fungo Fusarium e afeta a produção de diversas variedades de plátanos e bananas. As perdas podem chegar a 100% após danos nas raízes e nos caules da planta.
O TR4 é um patógeno que nasce no solo e pode sobreviver por décadas destruindo plantações saudáveis e espalhando a doença. A doença ainda não tem tratamento.
O surto de Fusarium na América Latina foi detectado em três países da região: primeiro na Colômbia, depois no Peru e, recentemente, na Venezuela.
Se a doença não for controlada, a Colômbia, o quinto maior exportador de banana do mundo, pode ver desaparecer 30 mil postos de trabalho e US$ 800 milhões em exportações por ano.
Preocupação aumenta
Jorge Sauma, CEO da Corporação Nacional da Banana da Costa Rica (CORBANA), demonstrou preocupação com o surto da doença, durante painel organizado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) no âmbito do Diálogo Borlaug 2023.
“Na Costa Rica, estamos controlando as fronteiras e, nas fazendas agrícolas, estamos, com o Ministério da Agricultura e autoridades sanitárias, conscientizando os produtores de que é preciso tomar medidas para evitar a contaminação”, explicou.
O evento contou com a presença de representantes da Parceria Global contra o Fusarium TR4, do qual desde 2020 participam representantes do setor privado, como a Bayer, da academia, de organizações da sociedade civil, entidades estatais e organizações internacionais, e no qual o IICA atua como secretaria.
Sauma afirmou que, no mundo, já foram feitos grandes avanços científicos para encontrar variedades resistentes a essa doença e revelou que a CORBANA trabalha em parceria com a Embrapa, empresa pública brasileira de pesquisa agropecuária.
“A iniciativa do IICA da Parceria Global e a participação de uma empresa do porte da Bayer são muito importantes. Precisamos trabalhar juntos para conter o TR4 e esclarecer ameaças futuras, já que milhões de agricultores vulneráveis dependem do cultivo de banana, e eles não têm alternativa”, disse Sauma.
Chelly Hresko, Gerente Global de Pesquisa de Doenças da Bayer, disse que a doença é uma ameaça à segurança alimentar global, nos países e nas populações mais vulneráveis.
“Entramos na parceria porque vimos uma oportunidade de trabalhar em prol dos agricultores e porque podemos ajudar a controlar as doenças da banana”, disse Hresko.
A banana é a base alimentar de muitas regiões, especialmente entre as populações mais pobres. Mais de 84% das bananas são cultivadas por pequenos agricultores, que abastecem os mercados domésticos.
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) informa que a ameaça às plantações é também um risco de desemprego para muitas pessoas. A banana Cavendish representa 47% de toda a produção global e quase metade de toda a exportação da fruta.
Soluções em estudo
O especialista da Bayer considerou que a edição genética é uma ferramenta extremamente valiosa para projetar variedades resistentes a doenças e relatou que todos os avanços que a Bayer está fazendo são colocados em um banco de dados público.
Para tentar reverter o quadro da doença, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a FAO estão utilizando técnicas nucleares para neutralizar a área da contaminação do Tropical Race 4 (TR4), a última variante da doença.
A parceria entre AIEA, FAO e países produtores ajuda a detectar e vigiar a resistência genética do patógeno e a formular maneiras de gerenciar o problema.
A especialista da AIEA Najat Mokhtar explica que através da irradiação é possível modificar o material da planta e desenvolver as variedades resistentes à doença, usando uma técnica de sequenciamento do DNA.